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Em 'Justiça 2', Maria Padilha aborda o racismo, realidade que atriz vive em casa com o filho: 'Desperta uma fúria em mim'

Atriz revela se quer voltar para as novelas, gênero que não faz há oito anos: 'As pessoas me cobram'

Agência O Globo - 25/04/2024
Em 'Justiça 2', Maria Padilha aborda o racismo, realidade que atriz vive em casa com o filho: 'Desperta uma fúria em mim'

A história de Balthazar (Juan Paiva) em "Justiça 2", série do Globoplay que vem sendo disponibilizada na plataforma, se repete na vida com vários meninos pretos como ele. Acusado injustamente de ter roubado um restaurante, o jovem passa sete anos na cadeia por um erro que não cometeu. Uma das responsáveis por sua prisão é Silvana (Maria Padilha) que, ao lado do marido Nestor (Marco Ricca), confirma a identidade do rapaz num catálogo digital de suspeitos da polícia.

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Depois dos sete anos, ao reencontrar Balthazar livre e inocentado do crime de que foi acusado, ela passa a ajudá-lo de todas as formas. No episódio disponibilizado hoje, Silvana conhece o barraco que ele alugou e se impressiona com o lugar.

— No barraco, ela se defronta pela primeira vez com a realidade de uma pessoa negra moradora da favela. Uma realidade bem diferente da dela, que vive num palácio. Pra mim, foi uma cena difícil de fazer — conta a atriz de 63 anos.

A veterana define a personagem como uma pessoa ‘‘dessituada’’, ou seja, totalmente deslocada daquela realidade, e que “acorda” após perceber que cometeu uma grande injustiça. Segundo ela, Silvana é um retrato da sociedade racista:

— Ela é como a maioria da população brasileira. Vê uma foto de um menino negro que arrumou confusão na noite anterior no restaurante e o acusa. Será que se fosse um loiro de olho azul ela faria o mesmo?

Mãe de Manoel, de 12 anos, que é negro, ela convive com o preconceito de perto.

— É um assunto que me toca bastante. Já vivenciei vários casos de racismo. Minha avó foi uma militante antirracista no começo do século 20, muito antes de se falar disso. O racismo indefinido do Brasil acaba sendo mais problemático do que nos Estados Unidos. Lá, os negros puderam se organizar melhor porque o racismo era na cara. Aqui é disfarçado. Quando você tem um filho que passa por isso, desperta uma fúria dentro de si — destaca.

Recentemente, Maria desabafou nas redes sociais sobre um episódio que envolveu Manoel, adotado aos 2 anos por ela e o então marido, Orlando Schaider:

— Em casa, aos poucos essa conversa acontece. Me lembro da primeira vez que ele perguntou: “mãe, por que sou marrom?’’. Juntei os braços de todo mundo e mostrei que ninguém é da mesma cor. Sou clara, mas minha família tem mistura. Não existe branco no Brasil, é maluquice brasileiro achar que é branco. Todos somos pretos de algum modo.

Maria Padilha volta para as novelas?

Com "Justiça 2", Maria Padilha volta aos Estúdios Globo após um hiato de oito anos. O último trabalho dela na emissora foi na novela "A regra do jogo", quando interpretou a sofisticada Claudine. Antes disso, Maria fez novelas que marcaram sua carreira e que, até hoje, povoam o imaginário do público, como "Anjo mau" (1997), "O cravo e a rosa" (2000) e "Mulheres apaixonadas" (2003).

— Eu não sinto essa coisa de estar retornando, parece que eu nunca saí. Penso em voltar para as novelas. As pessoas me cobram. Daqui a pouco estou de volta — promete a atriz, que se preocupa com a falta de oportunidade para pessoas mais velhas.

Ela destaca, inclusive, que sofre com o etarismo toda vez em que é clicada na praia de biquíni e vira a notícia do dia por conta disso:

— Eu já mandei fazer uma burca toda lilás para quando eu for à praia (risos). Esses conteúdos são muito cafonas. Isso é uma coisa bem brasileira. Em outros países, as pessoas são mais relaxadas com isso, não têm essa preocupação com o corpo. Eu acho cafona demais. Essa questão pega mais forte para a mulher. Raramente a gente vê uma matéria assim sobre um homem. Só pode ser obsessão com a idade das mulheres.