Internacional

Primeiro-ministro da Espanha ameaça renunciar após esposa virar alvo de investigação por denúncia da extrema direita

Casada com o socialista Pedro Sánchez, Begoña Gómez tornou-se investigada por corrupção e tráfico de influências depois que um juiz acatou uma queixa do grupo extremista Manos Limpias

Agência O Globo - 24/04/2024
Primeiro-ministro da Espanha ameaça renunciar após esposa virar alvo de investigação por denúncia da extrema direita
Pedro Sánchez - Foto: Reprodução

A esposa do primeiro-ministro Pedro Sánchez, Begoña Gómez, tornou-se alvo de uma investigação por corrupção e tráfico de influência nesta quarta-feira após um juiz de Madri acatar a denúncia do grupo de extrema direita Manos Limpias, especialista em ações do tipo contra líderes de esquerda. Em resposta, o premier da Espanha cancelou toda sua agenda pública pelos próximos dias e afirmou, em uma carta escrita de próprio punho, que cogita renunciar devido ao "ataque sem precedentes" contra sua companheira.

"Preciso parar e refletir. Preciso responder urgentemente à questão de saber se vale a pena, se devo continuar à frente do governo ou renunciar a essa honra", escreveu Sánchez na carta, publicada em sua conta na rede social X, sem papel timbrado oficial.

Na carta, Sánchez ainda acusa o Partido Popular (PP) e o Vox de promoverem uma estratégia para prejudicar sua imagem nos últimos meses: "É uma operação de assédio e demolição por terra, mar e ar, para tentar fazer com que eu perca minha vida política e pessoal atacando minha esposa".

Lideranças do PP cobraram explicações e acusaram o premier de "vitimização":

— Sánchez dedicou quatro páginas para escrever 14 vezes a palavra direita e ultradireita, mas zero linhas para dar uma explicação sobre as investigações — disse a secretária-geral do PP, Cuca Gamarra. — Denunciamos o fato de que o primeiro-ministro está apostando na vitimização e na piedade em vez de responsabilidade e clareza.

De acordo com o diário El País, o primeiro-ministro compartilhou a carta com seus aliados, mas se isolou com sua família no Palácio La Moncloa e não aceitou falar com quase ninguém desde que a história veio a público, no início do dia.

O caso provocou uma forte comoção no governo e dentro do partido socialista (PSOE), mas até o momento nenhum gabinete de crise foi convocado, gerando especulações sobre qual decisão Sánchez poderá tomar. Com o cancelamento da agenda, ele poderá perder o início da campanha eleitoral na Catalunha, onde participaria de um comício, além do Comitê Federal marcado para sábado — que não poderia mais ser cancelado — no qual a listagem dos seus candidatos para as eleições europeias deve ser aprovada.

Origem da denúncia

Segundo a queixa, Begoña Gómez favoreceu o empresário Carlos Barrabés, com quem teria conexões, com contratos da entidade pública Red.es, ligada ao Ministério da Economia. Gómez é codiretora do Mestrado em Transformação Social Competitiva da Universidade Complutense de Madri, promovido por Barrabés. De acordo com o jornal El Confidencial, a consultoria do empresário conquistou contratos públicos em 2020 e 2021 após o aval da esposa do premier espanhol.

"A direção do Mestrado está ciente da iniciativa de Barrabés e The Valley, promovida pela Red.es e pelo FSE (Fundo Social Europeu). Expressamos nosso apoio a esse programa, que tem como objetivo detectar, treinar e incorporar jovens desempregados ao mercado digital", disse a instituição em nota, que recebeu o apoio de Gómez.

A denúncia do grupo Manos Limpias afirma que "a denunciada, aproveitando-se de sua condição pessoal (esposa) do premier espanhol, vem recomendando ou endossando por carta de recomendação com sua assinatura a empresários que se candidataram a licitações públicas".

As atividades da esposa do primeiro-ministro também foram questionadas também devido ao seu relacionamento com a empresa Globália, que patrocinou o Centro da África do Instituto de Empresa (IE), então dirigido por Gómez. A companhia obteve mais de 600 milhões de euros em fundos públicos do governo para salvar sua companhia aérea, a Air Europa.

O grupo Manos Limpias é conhecido por ações jurídicas contra líderes de esquerda, que geralmente não dão em nada por falta de evidências. Seus líderes já chegaram a ser presos por extorsão de instituições financeiras no passado.