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Como Sydney Sweeney e Glen Powell ajudaram a tornar 'Todos menos você' um hit: 'você precisa vender química'

Segundo filme mais visto nos cinemas brasileiros em 2024, comédia romântica faz sucesso no streaming

Agência O Globo - 24/04/2024
Como Sydney Sweeney e Glen Powell ajudaram a tornar 'Todos menos você' um hit: 'você precisa vender química'

Enquanto Sydney Sweeney e Glen Powell faziam a divulgação da comédia romântica “Todos menos você”, no ano passado, a vida parecia imitar a arte. Os dois posaram de rosto colado enquanto passeavam pela Austrália, ele segurava uma sorridente Sweeney no colo em outras fotos, ela lançava olhares para Powell nos tapetes vermelhos. A dupla flertava e ria nas entrevistas.

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Quando Powell se separou da namorada de longa data e Sweeney permaneceu ao lado do noivo, Jonathan Davino (produtor executivo de “Todos menos você”), surgiram rumores de um relacionamento entre os dois. E essa especulação aconteceu exatamente como eles queriam.

“Numa comédia romântica, você precisa vender diversão e química. Sydney e eu nos divertimos e temos muita química sem esforço”, disse Powell em uma entrevista. “As pessoas querem ver fora da tela o que ela veem na tela, e às vezes você só precisa sugerir um pouco — e funcionou maravilhosamente bem. Sydney é muito inteligente."

A atriz também é produtora executiva da Fifty-Fifty Films e esteve intimamente envolvida com a estratégia de marketing do filme da Columbia Pictures. “Participei de todas as ligações, dos grupos de conversa. Eu deixava todo mundo do marketing da Sony sem dormir, porque não parava de ter ideias”, disse ela. “Queria garantir que estávamos mantendo uma conversa ativa com o público enquanto promovíamos o filme, porque no fim foram eles que criaram toda a narrativa.”

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No filme, vagamente baseado em “Muito barulho por nada”, de Shakespeare, Bea (Sweeney) e Ben (Powell) vão parar numa festa na Austrália, onde um amigo dele e a irmã dela vão se casar.

“Os ingredientes precisam estar todos certos: a história, o elenco, os cineastas, a química, o final”, diz Tom Rothman, presidente do Sony Pictures Motion Picture Group, que inclui a Columbia. Ele acrescenta que a execução de uma comédia romântica em particular “é uma tarefa delicada. Então, se você vai fazer de forma teatral, precisa ser muito bem feito.”

“Todos menos você” não convenceu a crítica e teve um início desanimador nas bilheterias. Com um orçamento de US$ 25 milhões, arrecadou cerca de US$ 8 milhões no fim de semana de Natal, estreando em quinto lugar, atrás de “Aquaman” e “Wonka”. No Brasil, o longa levou 2,1 milhões de pessoas aos cinemas, sendo a segunda maior bilheteria do ano até o momento. Atualmente, está disponível no streaming da Max, sendo o filme mais assistido na plataforma nas últimas semanas.

“Mantive minhas expectativas baixas e, no fim, não foram baixas o bastante”, disse o diretor Will Gluck. “A primeira semana foi decepcionante.”

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Mas algo incomum aconteceu: o público cresceu na segunda e terceira semanas, e o filme permaneceu no Top 5 da bilheteria nos EUA até o final de janeiro, graças em parte ao interesse do público mais jovem. As vendas também dispararam no exterior, mesmo em mercados de língua não inglesa, notoriamente difíceis de serem decifrados pelas comédias de Hollywood.

A Sony manteve o filme nos cinemas dos EUA até fevereiro e “Todos menos você” já arrecadou mais de US$ 218 milhões em todo o mundo. Aqui estão três conclusões do sucesso do filme.

Os atores trabalharam atrás das câmeras

A jornada do filme começou para valer no início de 2022, quando Sweeney procurava roteiros de comédias românticas para atuar e produzir. Ela e o produtor Jeff Kirschenbaum encontraram um de Ilana Wolpert, conhecida na época por “High School Musical: The Musical: The Series”.

“Ilana deu um toque tão legal e moderno a Shakespeare que senti como se estivesse lendo uma comédia romântica do início dos anos 2000”, disse Sweeney sobre o roteiro. “Adorei querer ser beijada na chuva, querer me apaixonar assim que terminar de ler o roteiro, querer chorar, rir, sentir todas as sensações.”

Por meses, Sweeney se reuniu com atores para definir o protagonista e reduziu o número para dois ou três antes de conhecer Powell no MTV Movie Awards. Após uma videochamada com ele, se convenceu que o ator “Top Gun: Maverick” “tinha talento” para interpretar Ben.

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Os dois então procuraram Will Gluck, de "Amizade colorida" (2011) e "A mentira" (2010), para dirigir e revisar o roteiro enquanto negociavam o projeto com estúdios. Em questão de semanas, a Sony abocanhou o filme — um feito que Sweeney atribuiu em parte à sua “construção de um ótimo relacionamento” com o estúdio ao atuar em “Madame Web”.

“Sydney é uma força da natureza”, disse Rothman, acrescentando que a Sony tem sorte de fazer negócios com ela em projetos futuros, que incluem um novo “Barbarella”.

Antes do lançamento de “Todos menos você”, Sweeney pressionou a Sony a dar “um salto de fé” e lançar um clipe promocional dela e Powell sussurrando “frases de ASMR” atrevidas — desde então foram 25 milhões de visualizações no TikTok. Quando o filme chegou aos cinemas, Sweeney notou vídeos com fãs sincronizando os lábios e dançando ao som de “Unwriting”, de Natasha Bedingfield — que desempenha um papel fundamental no filme — e entrou na onda, compartilhando para seus quase 20 milhões de seguidores no Instagram.

“Achei muito legal, então salvei e coloquei no Stories", disse Sweeney, referindo-se ao recurso do Instagram. “Logo estava fazendo toda noite, virou uma tendência no TikTok e foi isso que realmente construiu o público.”

Comédias românticas importam

Dermot Mulroney, que faz o pai de Bea em “Todos menos você”, tinha 30 e poucos anos quando estrelou a comédia romântica “O casamento do meu melhor amigo”, em 1997. O filme arrecadou quase US$ 300 milhões em todo o mundo, contra seu orçamento de US$ 35 milhões. Mas o ator, que compartilhou a tela com Julia Roberts e Cameron Diaz, teve poucas oportunidades logo depois.

“Eu estava pronto para receber as vantagens que deveriam vir junto com a participação em um filme popular mas, em vez disso, fiquei um ano sem trabalho”, diz Mulroney. “Para mim o motivo foi o fato de eu ser tão pequeno no pôster, um homenzinho no bolo. Pensei, pessoal, se vocês tivessem me feito um pouco maior, talvez eu conseguisse um emprego.”

Hoje com 60 anos, ele diz que ainda é abordado diariamente por fãs de “O casamento do meu melhor amigo” — décadas após seu lançamento — alguns dos quais lhe dizem que cresceram assistindo ao filme com as avós.

Na noite anterior ao início das filmagens de “Todos menos você” em Sydney, Gluck reuniu o elenco para assistir a “O casamento do meu melhor amigo”. Foi a primeira vez que Mulroney viu o filme desde a estreia. Depois ele falou para a equipe, e especialmente para Powell, sobre o peso inesperado de estar em uma comédia romântica.

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"Eu não queria que ele cometesse o meu erro de minimizar como algo que pode parecer leve ou fofo”, disse Mulroney. “'O que esses filmes significam para as pessoas', eu disse a Glen, 'vai durar décadas'. Vai durar até depois que você partir, de uma forma que talvez as outras coisas legais que ele está fazendo não durem. Tem um tipo diferente de absorção.”

Powell levou a mensagem a sério e também aproveitou a chance de abraçar os aspectos mais bobos de interpretar o interesse amoroso em uma comédia romântica.

“Por alguma razão, o protagonista masculino da comédia romântica acaba de ser reduzido a um modelo masculino taciturno que ocasionalmente sorri para a garota do outro lado da sala”, disse Powell. “Mas para mim, se você é homem e sai de uma comédia romântica parecendo legal, você estragou tudo.”

Gluck concordou. “Estávamos muito conscientes de fazer com que parecesse um grande filme com grande produção, escapismo, grandes momentos e atos de amor”, disse ele, acrescentando: “muitos momentos da vida são cafonas e assustadores”.