Internacional
União Europeia e ONU pedem investigações independentes sobre os mais de 300 corpos encontrados em valas comuns em Gaza
Idosos, mulheres e crianças estavam entre os cadáveres; com indícios de tortura, eles foram achados depois que militares israelenses saíram de hospitais
A União Europeia (UE) pediu, nesta quarta-feira, uma investigação independente sobre os mais de 300 corpos encontrados em valas comuns em dois hospitais da Faixa de Gaza que foram alvos de incursões do Exército de Israel. O porta-voz do serviço diplomático do bloco afirmou que, com base nas informações iniciais, a “impressão” é a de que “poderiam ter sido cometidas violações dos direitos humanos internacionais”. Nesta terça-feira, as Nações Unidas também solicitaram uma “investigação independente, eficaz e transparente” sobre o caso, e o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, lamentou a destruição e disse estar “horrorizado” com os relatos.
— É importante realizar uma investigação independente e garantir a prestação de contas. Isso é algo em que a União Europeia é coerente, seja na Faixa de Gaza ou em qualquer outro lugar do mundo — disse Peter Stano, porta-voz do serviço diplomático da UE.
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Já Turk declarou, em sessão informativa da ONU e por meio de um porta-voz, que, “dado o clima de impunidade reinante, os investigadores internacionais devem participar do processo” de investigação. Ele pontuou que os hospitais têm “direito à proteção especial nos termos do direito internacional humanitário”, e que “o assassinato de civis, detidos e outros que estejam fora de combate é um crime de guerra”. Também na terça, o Departamento de Estado dos EUA expressou preocupação com a descoberta. Ao todo, 324 corpos foram encontrados pela Defesa Civil nesta semana no Complexo Médico Nasser, na cidade de Khan Younis. Em al-Shifa, pelo menos 381 cadáveres foram recuperados.
Segundo Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, as vítimas “foram enterradas profundamente no solo e cobertas de lixo”, e havia idosos, mulheres, crianças e jovens entre os cadáveres. Alguns, disse, foram achados “com as mãos amarradas e sem roupa”. Para o porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmund Basal, estas são evidências de que eles “sofreram tortura e abusos”. À CNN, o coronel Yamen Abu Suleiman, diretor da Defesa Civil local, disse que alguns tinham sinais de execução, e que não era possível determinar se eles foram enterrados vivos ou mortos. Ele pontuou que a maior parte já estava em decomposição, o que dificultou o processo de identificação.
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Moradores relataram à agência Reuters que tropas israelenses enterraram corpos no local com escavadeiras. O Exército de Israel, por sua vez, afirmou que suas tropas desenterraram alguns corpos da região e os enterraram novamente para garantir que não havia reféns entre eles. Conforme a Associated Press, a área de sepultamento no hospital Nasser foi construída quando o Exército ocupou a instalação no mês passado. Na ocasião, as pessoas não conseguiam enterrar os mortos em um cemitério e, por isso, cavaram covas no pátio do hospital.
A Defesa Civil estima que ainda haja 2 mil pessoas desaparecidas apenas em Khan Younis, além de outras mil na região central do território, que ainda não foram recuperadas por falta de condições e equipamentos para remover os destroços das construções danificadas.
Os corpos foram encontrados depois que militares israelenses saíram do hospital, que abrigava milhares de palestinos deslocados. A última incursão ocorreu no mês passado sob a justificativa de que as autoridades de Tel Aviv tinham “informações confiáveis de uma série de fontes, incluindo de reféns libertados”, de que o grupo terrorista Hamas já havia mantido sequestrados no local. As evidências, porém, não foram divulgadas. Na ocasião, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas desde 2007, declarou que “a ocupação israelense” invadiu o hospital e o transformou num “quartel militar”.
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Em março, dias após as Forças Armadas israelenses iniciarem um ataque contra o Hamas dentro e ao redor do hospital al-Shifa, veículos militares cercaram o Nasser e o al-Amal. Segundo o Crescente Vermelho Palestino, bombardeios pesados e tiros ecoaram na área, e ao menos um trabalhador voluntário do hospital foi morto pelo Exército. Mensagens transmitidas por drones, acrescentou a organização, exigiam que todos saíssem nus de al-Amal, que teve suas portas bloqueadas e barricadas feitas com sacos de lixo. A ONG declarou, na época, que todas as suas equipes estavam “sob extremo perigo” e não podiam se mover.
Um mês antes, também durante uma invasão ao Complexo Médico Nasser, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a declarar que o local não era mais “funcional” – ainda que, na ocasião, abrigasse 200 pacientes. Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom afirmou, naquele contexto, que equipes da organização não foram autorizadas a entrar no hospital para “avaliar as condições dos pacientes e as necessidades críticas”. Até então, a unidade era a maior em funcionamento no enclave. O hospital, porém, não pode mais atender pacientes que precisam de cuidados intensivos e foi prejudicado por cortes de água e eletricidade. (Com AFP e New York Times)
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