Internacional

Nos EUA, aumentam relatos de emergências se recusando a atender grávidas; uma delas acaba abortando no banheiro

Casos aumentaram em 2022 após serem revogadas proteções constitucionais das mulheres para o aborto

Agência O Globo - 20/04/2024
Nos EUA, aumentam relatos de emergências se recusando a atender grávidas; uma delas acaba abortando no banheiro

Uma mulher abortou no banheiro de um pronto-socorro no Texas após a equipe da recepção se recusar a atendê-la. Uma investigação feita pela agência de notícias Associated Press revelou que o caso não é isolado. Desde 2022, os relatos de mulheres grávidas que foram rejeitadas nas salas de emergência dos Estados Unidos aumentaram, após a Suprema Corte do país ter revogado proteções constitucionais das mulheres para o aborto, que existiam a partir do caso Roe x Wade, de 1973.

Israel ataca alvo no Irã, dizem fontes israelenses e americanas; sistema de defesa aéreo iraniano foi ativado

Veja também: Investigação da polícia do Canadá aponta nove acusados para o maior roubo de ouro da História do país

Documentos federais obtidos pela AP News também revelam casos como o de uma outra mulher que descobriu que seu feto não tinha batimentos cardíacos em um hospital da Flórida, um dia depois de um segurança a rejeitar nas instalações. E na Carolina do Norte, uma mulher deu à luz em um carro depois que o pronto-socorro não realizou um ultrassom. O bebê acabou morrendo em seguida.

A recorrência de casos do tipo gera preocupação sobre os cuidados relacionados à gravidez no país norte-americano, especialmente em estados que possuem leis mais rigorosas sobre o aborto e provocaram confusão em torno do tratamento que os médicos podem fornecer.

— É absolutamente chocante. É terrível que alguém compareça a um pronto-socorro e não receba atendimento, isso é inconcebível — disse Amelia Huntsberger, obstetra ginecologista de Oregon à AP News.

A lei federal exige que os pronto-socorros atendam pacientes em trabalho de parto ativo e forneçam transferência médica para outro hospital se não tiverem pessoal ou recursos para tratá-los. As instalações médicas devem cumprir a lei se receberem financiamento do Medicare, sistema de seguros de saúde gerido pelo governo do país.

Leia mais: Sequestro de mais 200 estudantes nigerianas pelo Boko Haram completa uma década neste domingo

Os serviços de emergência que se recusam a atender, tratar ou transferir pacientes para outro hospital estão sujeitos a multas e correm risco de perder o financiamento.

A Suprema Corte dos EUA irá discutir a questão na próxima quarta-feira, após alguns estados do país terem promulgado leis rigorosas sobre o aborto, e tomará decisões que podem enfraquecer essas proteções. Recentemente a administração Biden processou o estado de Idaho, que proibiu o aborto mesmo em emergências médicas, argumentando que isso entra em conflito com a lei federal.

"Não deve ser negado a nenhuma mulher os cuidados de que necessita" disse Jennifer Klein, diretora do Conselho de Política de Género da Casa Branca, em um comunicado. “Todos os pacientes, incluindo mulheres que enfrentam emergências relacionadas à gravidez, devem ter acesso aos cuidados médicos de emergência exigidos pela Lei de Tratamento Médico de Emergência e Trabalho”, concluiu.

Para Sara Rosenbaum, professora de direito e política de saúde da Universidade George Washington, pacientes grávidas “se tornaram radioativas para os departamentos de emergência” em estados com restrições extremas ao aborto.

— Eles têm tanto medo de uma paciente grávida que a equipe de emergência nem olha. Eles só querem que essas pessoas desapareçam — disse Rosenbaum à AP.