Internacional

Amorim embarca para a Europa e vai defender participação da Rússia em negociação para a paz na Ucrânia e contribuição do Brasil

Assessor especial de Lula passará a semana em reuniões com autoridades na França, na Rússia e na Alemanha

Agência O Globo - 19/04/2024
Amorim embarca para a Europa e vai defender participação da Rússia em negociação para a paz na Ucrânia e contribuição do Brasil
Celso Amorim - Foto: Tomaz Silva (Ag.Brasil)

O assessor para Assuntos Internacionais do Planalto, Celso Amorim, embarca, na noite desta sexta-feira, para uma visita a três países: França, Rússia e Alemanha. O foco da viagem é a guerra entre Rússia e Ucrânia, no Leste Europeu, que dura mais de dois anos, sem perspectiva de uma solução negociada.

Em entrevista ao GLOBO, Amorim afirmou que vai defender, junto a autoridades francesas e alemãs, a participação da Rússia no grupo de países que discutem fórmulas para acabar com o conflito. Ele disse que o envolvimento da Suíça nos debates e a defesa do país europeu de um equilíbrio nas negociações pode ajudar, desde que a Rússia faça parte desse contexto.

— A Suíça se envolveu no tema e tentou buscar um pouco de equilíbrio. Mas parece que esse equilíbrio ainda não foi alcançado, embora eles [os suíços] também admitam que não pode haver um diálogo verdadeiro se não houver participação da Rússia. Eles estão aceitando um pouco a visão ucraniana, de que isso seria em um outro momento. Só que eu acho que a gente nem chegará a um outro momento se não tiver uma conversa com os russos. Não sei se a célebre frase do Garrincha se aplica: já combinou com os russos? — perguntou.

Nos três países, Amorim reforçará a oferta do Brasil em ajudar na construção de um diálogo que tenha como fim a paz. Disse que o governo brasileiro está alinhado com a China e mantém boas relações com os Estados Unidos.

— Temos que construir o clima para um diálogo. O Brasil tem boas relações com vários países — afirmou.

Celso Amorim afirmou que o Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outras nações emergentes) poderia ser um mediador. Ressaltou que Brasil e China têm se coordenado nessa questão e poderiam contribuir.

Perguntado sobre como isso aconteceria, ele respondeu que poderia ser por meio de assuntos humanitários, ligados à segurança alimentar e à troca de prisioneiros, por exemplo. Seriam pontos em que Rússia e Ucrânia teriam chances de chegar a um entendimento.

— Não estou dizendo que desejo isso, pois quero que seja muito mais rápido. Mas, na própria Guerra do Vietnã, eles já estavam negociando quatro anos antes de conseguirem a paz. Temos de construir o clima para esse diálogo e acho que os países do Brics podem contribuir, porque muitos deles — certamente é o caso do Brasil — têm uma boa relação com os vários lados. Essa não é uma questão que envolve só Ucrânia, mas também Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), EUA, França e Alemanha — enfatizou.

Sobre as recentes declarações do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que disse que seria um erro Lula se reunir com Putin e se queixou de não ter sido convidado para vir a Brasília, Amorim respondeu:

— Todo mundo tem o direito de falar o que pensa. Eu não posso comentar declarações de um presidente. Temos interesse em ter um diálogo com ele, mas de forma adequada, em nível adequado.

Ele lembrou que foi a Kiev, no ano passado, e se encontrou com Zelensky. Enfatizou que Lula e o líder ucraniano se reuniram em Nova York, em setembro do ano passado, à margem da Assembleia-Geral da ONU. À Rússia será a segunda ida de Amorim no governo Lula.

A Ucrânia foi invadida por tropas russas em fevereiro de 2022. Os EUA e outros países ocidentais decidiram aplicar sanções econômicas à Rússia, as o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é contra, sob o argumento de que punições unilaterais vão de encontro às normas internacionais. A medida precisaria ser aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A agenda de Amorim começa neste sábado, em Paris, com uma reunião com Emmanuel Bonne, conselheiro diplomático do presidente da França, Emmanuel Macron. Em seguida, ele vai para Moscou e São Petersburgo — onde haverá uma reunião sobre segurança entre membros do Brics.

Em Moscou, Amorim será recebido, em reuniões separadas, pelo secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nicolai Patrushev; o assessor diplomático do presidente Vladimir Putin, Yury Ushakov; e o chanceler Sergey Lavrov.

Na volta, Celso Amorim passará por Belim. Ele tem encontros agendados com Jens Plötner, assessor especial do chanceler alemão Olaf Scholz, e com o ministro federal para Assuntos Especiais, Wolfgang Schmidt. A volta do principal formulador da diplomacia presidencial brasileira está prevista para sábado, dia 27 de abril.