Geral
Diretora de humor da Globo, Patricia Pedrosa detalha sitcom de Regina Casé e desafios do gênero: 'Enfrentar esse algoritmo louco'
'Tô nessa' vai ser gravado com plateia e tem previsão de estreia ainda neste ano

Seria uma metáfora um tanto gasta chamar a nova divisão do gênero humor da Globo de orquestra e sua diretora, Patricia Pedrosa, de regente. Mas, neste caso, a alegoria encaixa bem. O sonho de vida desta pianista, ex-aluna de música da UniRio, era, literalmente, conduzir uma sinfonia. E, desde meados do ano passado, é — guardadas as devidas proporções — um pouco isso o que ela faz: toma conta de todas as produções de comédia da casa, da TV aberta aos canais pagos, passando pelo streaming e pelos filmes. Começou com dois projetos, hoje tem 22 em desenvolvimento. Um dos maiores, ela anuncia, é o “Tô nessa”, sitcom estrelada por Regina Casé e criada por Jorge Furtado, cuja previsão de estreia é ainda neste ano na Globo.
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A atração mostra cinco mulheres, numa casa na Zona Norte do Rio, que se envolvem semanalmente com um novo empreendimento para pagar todos os boletos que chegam. Foi de Patricia a ideia de gravar num auditório, com plateia, emulando sucessos de antigamente, como “Sai de baixo” (1996-2002). A missão dela neste cargo é responder aos anseios de uma audiência ainda mais fanática pelo gênero a partir da pandemia.
De acordo com pesquisas da casa, a busca por conteúdo de humor explodiu — algo que todo mundo percebe ao consumir, cada vez mais, vídeos engraçados nas redes sociais. Mas o público é um tanto contraditório na hora de expressar o que quer ver na TV, ela analisa.
— Ao mesmo tempo que as pessoas falam “que não se faz mais comédia como antigamente”, que têm saudade de “Sai de baixo”, de “A grande família”, aparece a frase “o humor não inova”. A gente trabalha para entregar os formatos de antigamente com novos. Como se chega a isso? Estamos descobrindo, mas também queremos fazer algo que, talvez, o público não saiba que quer — diz Patricia, que anuncia também “Pablo e Luisão”, série do Globoplay inspirada em histórias de Paulo Vieira publicadas no Twitter, e a terceira temporada de “Encantado’s”, já em sala de roteiro. — A gente tem que enfrentar esse algoritmo louco porque o humor está aqui (aponta para o celular).Como você faz as pessoas trocarem o que está no acesso delas, que elas escolhem, que entrega exatamente o que quer ver? É um desafio fazer comédia para as massas no mundo dos nichos.
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Este mês, ela apresentou cerca de 30 projetos num pitching (como é chamada a rodada de apresentação de ideias) de diversos formatos, de reality shows a filmes, passando por programas de auditório. Eles saíram de uma plataforma feita para receber ideias de criadores de todo o Brasil. Foram, ao todo, quase 400 propostas inscritas.
—Falam sobre família, cotidiano, corre do dia a dia. E vejo muita diversidade brotando. Todo projeto que pegamos tem o lugar de dar voz a grupos que não a tiveram por muito tempo — diz Patricia. — A sociedade vem evoluindo e dando espaço, graças a Deus, para uma multiplicidade de opiniões.
Faculdade de cinema
Formada em Cinema pela UFF, Patricia, hoje com 40 anos, cursava música quando entrou, despretensiosamente, no programa de estágio da emissora. Começou a trilhar caminhos como diretora ao aprender o ofício em “A grande família”. Depois foi contratada como assistente de direção na novela “A favorita”. Voltou como diretora na série sobre Lineu, Nenê e companhia (“fiz a última cena”) e não saiu mais da comédia. Um dos poucos trabalhos fora do gênero é a série sobre vampiros e lobisomens “Espécie invasora”, de Rosane Svartman e Claudia Sardinha, ainda em pós-produção para o Globoplay.
— Fui mordida pelo bichinho da televisão e larguei a música definitivamente— diz a diretora.
Ela coloca na conta de “Mister Brau” a dentada derradeira. Criada por Jorge Furtado e exibida entre 2015 e 2018, a comédia versava sobre Bráulio (Lázaro Ramos), astro da música de origem humilde, e sua mulher, Michele (Taís Araujo), que o transformou num pop star:
— Ali a chave virou. Fui vendo que as histórias que estávamos contando divertiam, mas também traziam assuntos muito relevantes. Sempre falo assim: “Se precisa falar sério, faça humor.”
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Parceiro de Patrícia também em outros trabalhos como “Amor e sorte”, esta gravada durante a pandemia, em 2020, Jorge Furtado divide com a diretora a ideia de que a comédia não deve ser só de risadas efêmeras.
— Mesmo os piores problemas podem ser tratados com humor— diz o roteirista e diretor, que a conheceu durante uma visita ao set de “A grande família”. — Meu tipo favorito são as comédias em que a gente também se emociona. A vida não é só tristeza ou só riso. E Patricia é assim também: todos os trabalhos que a gente fez são de texto, de ensaio, de construção da dramaturgia. Isso faz muita falta no país.
Influência de Guel Arraes
Esse aprendizado veio, em boa parte, da influência de Guel Arraes. Um grande nome da comédia da TV, por trás de programas como “TV Pirata” (1988), “A comédia da vida privada” (1995-1997) e “O auto da compadecida” (1999), ele a ensinou o caráter coletivo da televisão e a inesquecível lição de que é possível fazer trabalhos sofisticados para as grandes massas.
—Se você olhar todos os projetos dele, há muita sofisticação. É erudito e, ao mesmo tempo, é popular — diz a carioca, que teve o primeiro contato com Arraes em “A grande família”, projeto em que ele era diretor de núcleo.
Lázaro Ramos, que foi apresentado à diretora por Guel, Maurício Farias e Jorge Furtado na época de “Mister Brau”, percebe nela essa influência dos mestres, mas com um traço importante:
— Jorge Furtado fala muito que gosta de fazer “biscoito fino para as massas”. Patricia traz isso também, mas ela coloca uma mise-en-scène no jeito de a gente se locomover e na maneira de lidar com a contribuição de cada ator. E, ao mesmo tempo, é bacana ver o conhecimento dos estilos de comédia.
Velha conhecida desde os tempos das aulas de dança da pré-adolescência, Tatá Werneck frisa que esse conhecimento já era traço da jovem Patricia.
—Ela é uma CDF. Entende muito de tudo. Fala um livro? Já leu. Uma série? Já viu —diz a atriz, cujo “Lady night”, do Multishow, agora faz parte do núcleo dirigido pela amiga.— Faz sentido ela se mostrar uma diretora tão talentosa e disciplinada desde cedo.
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