Internacional
Alemanha detém dois supostos espiões russos que planejavam sabotar apoio à Ucrânia; bases americanas estavam entre alvos
Acusados supostamente expressaram disposição para 'cometer ataques explosivos e incendiários, principalmente em infraestrutura militar e instalações industriais' no país
As autoridades alemãs anunciaram, nesta quinta-feira, a detenção de dois supostos espiões russos, suspeitos de quererem cometer atos de sabotagem, inclusive contra o Exército americano, para minar o apoio militar à Ucrânia. Segundo o comunicado, Dieter S. e Alexander J. possuem dupla cidadania (alemã e russa) e foram detidos no dia anterior na cidade de Bayreuth, estado da Baviera, sudeste da Alemanha.
A polícia fez buscas nas residências e nos locais de trabalho dos dois homens, suspeitos de "terem atuado em um serviço de inteligência estrangeiro" no que os promotores descreveram como um "caso particularmente grave" de espionagem. Os acusados supostamente expressaram disposição para "cometer ataques explosivos e incendiários, principalmente em infraestrutura militar e instalações industriais na Alemanha", além de bases militares dos EUA sediadas no país.
A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, elogiou o trabalho dos serviços de segurança, que "evitaram possíveis ataques explosivos que atacariam e minariam a nossa ajuda militar à Ucrânia".
"Este é um caso particularmente grave de suposta atividade de agentes do regime criminoso (do presidente russo Vladimir) Putin", denunciou na sua conta X, acrescentando: "Continuaremos a frustrar tais planos de ameaça".
A ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, convocou o embaixador russo em Berlim, disse à AFP um porta-voz do seu ministério.
Bases militares americanas
O principal acusado, Dieter S., teria explorado possíveis alvos para cometer atentados, "incluindo instalações das Forças Armadas dos Estados Unidos" no país. Os promotores afirmaram que ele estava trocando informações com uma pessoa vinculada aos serviços de inteligência russos desde outubro de 2023, mencionando possíveis atos de sabotagem.
"As ações tinham como objetivo, em particular, minar o apoio militar fornecido pela Alemanha à Ucrânia contra a agressão russa", afirmaram fontes judiciais, acrescentando que Alexander J. começou a auxiliar Dieter S. a partir de março de 2024.
Dieter S. explorava alvos em potencial tirando fotos e vídeos de transportes e equipamentos militares. Ele então supostamente compartilhava as informações com sua pessoa de contato. Segundo o semanário Der Spiegel, a grande base bávara americana de Grafenwohr, onde os soldados ucranianos são treinados no uso dos tanques de batalha Abrams, estava na mira.
S. enfrenta uma acusação adicional de pertencer a uma "organização terrorista estrangeira". Os promotores disseram que suspeitam que ele tenha sido um combatente em uma unidade armada da autoproclamada "República Popular de Donetsk" pró-russa do leste da Ucrânia entre 2014 e 2016.
Outros casos de espionagem
A Alemanha é o segundo maior fornecedor de ajuda militar da Ucrânia, e a notícia das prisões dos espiões veio no momento em que o vice-chanceler Robert Habeck estava em uma visita a Kiev.
O país tem sido abalado por vários casos de suposta espionagem para a Rússia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, em meio a sugestões de que algumas autoridades alemãs foram muito simpáticas a Moscou no passado.
Um ex-oficial da inteligência alemã está sendo julgado em Berlim, acusado de entregar informações a Moscou que mostravam que a Alemanha tinha acesso a detalhes das operações mercenárias russas na Ucrânia. Ele nega as acusações.
Em novembro de 2022, um homem alemão recebeu uma sentença suspensa por passar informações para a inteligência russa enquanto servia como oficial da reserva do exército alemão.
— Sabemos que o aparato de poder russo também está se concentrando em nosso país. Devemos responder a essa ameaça com resistência e determinação — disse o ministro da Justiça, Marco Buschmann, na quinta-feira.
As autoridades russas, por sua vez, apresentaram acusações de traição contra dezenas de pessoas acusadas de ajudar Kiev e o Ocidente desde a invasão. Um tribunal russo condenou um morador da região de Omsk, na Sibéria, a 12 anos de prisão no início deste mês por tentar passar segredos para o governo alemão em troca de ajuda para se mudar para lá.
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