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Miliciano em 'Os outros', Edu Sterblitch reflete sobre bem x mal e lembra assalto: 'Se tivesse uma arma, teria atirado'

Série estreia nesta quinta (18) na Globo e mostra ator num papel dramático, como morador de um condomínio onde moradores são incapazes de dialogar e cometem atos extremos

Agência O Globo - 18/04/2024
Miliciano em 'Os outros', Edu Sterblitch reflete sobre bem x mal e lembra assalto: 'Se tivesse uma arma, teria atirado'

Eduardo Sterblitch confessa que não sabe o que faria se tivesse uma arma na mão, há três semanas, quando foi assaltado em São Paulo.

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— Eu estava entrando no hotel, o cara passou de bicicleta, como entregador de um aplicativo, e levou meu celular. Fiquei com uma raiva que eu nem sabia que existia dentro de mim. Acho que, se ele tivesse caído, eu teria ido pra cima, agredido. Sou uma pessoa que nunca usou violência, mas fico pensando que, se eu tivesse um revólver ali, teria sacado, atirado pra cima, olha que loucura — reflete o ator, que a partir desta quinta-feira (18) surge na tela da Globo após “Renascer” com um personagem denso, o ex-policial Sérgio, da série “Os outros”, maior sucesso do Globoplay no ano passado.

A história escrita por Lucas Paraizo e dirigida por Luisa Lima mostra várias figuras em situações-limite, e se passa num condomínio fechado da Zona Oeste carioca, comum também em outras cidades do Brasil. Aquele lugar que costuma passar uma sensação de segurança é onde Cibele (Adriana Esteves) almeja ter uma vida tranquila com a família. Até que ela vê seu filho adolescente, Marcinho (Antonio Haddad), ser agredido por outro jovem morador, Rogério (Paulo Mendes). Seu sonho de felicidade é ameaçado pelos vizinhos. Incapazes de lidar com o episódio de modo civilizado, essas famílias protagonizam uma sucessão de atos violentos, a ponto de Cibele, mãe superprotetora, concluir que deve comprar uma arma para o caso de última necessidade.

— Cibele é uma mulher brasileira que, na busca por uma vida de segurança e de paz, encontrou o oposto. Deparou-se com a violência e a intolerância. A dos outros e a dela. A série faz a gente discutir valores, os nossos e os alheios. Faz a gente descobrir o inimigo que podemos ter dentro de nós e não dar asas a ele. Um espelho pra gente se olhar — destaca Adriana, impressionada com a repercussão de “Os outros” no streaming: — Faço novela há muitos anos. Você sai na rua e todo mundo comenta. Eu vi isso acontecer com esse trabalho também.

Não adianta chamar o síndico

Nessa história que retrata a vida de uma sociedade eticamente fragilizada, diferentemente do verso da canção de Jorge Ben Jor, de nada adianta chamar o síndico. No caso, a síndica, Lúcia (Drica Moraes).

— Ela age fora dos padrões do que é correto, é ilícita. Mas, ao mesmo tempo, é uma sobrevivente. Acho que “Os outros” impacta tanto por tratar de um tema que é recorrente: o mundo perdendo as fronteiras do que é correto e do que não é. Lúcia usa seus micropoderes para tirar o marido da cadeia — resume Drica, referindo-se a Jorge (Guilherme Fontes), preso por corrupção.

Liberado com tornozeleira eletrônica, o empreiteiro e a amada protagonizam um reencontro com direito a uma boa noite de sexo. À época da exibição no Globoplay, a cena chamou atenção dos espectadores, incrédulos ao verem duas figuras de meia-idade ativas sexualmente.

— Fiquei espantada com as reações. Estou no auge da minha sexualidade aos 54 anos. Nunca estive tão bem, nunca transei tão gostoso. Não sei o que acontece, se as pessoas casam e param de transar, mas não me identifico com essas reações — afirma uma satisfeita Drica, admitindo, aos risos, que não ocuparia a função de síndica: — Me envolvo nas reuniões de condomínio, mas não encararia essa parada.

Alianças convenientes

É com Sérgio que Lúcia fecha um acordo que pode lhe trazer benefícios. Se por um lado ele mostra uma frieza desmedida, por outro, o miliciano expõe alguma fragilidade quando o assunto é a filha, Lorraine (Gi Fernandes).

— Temos tudo dentro da gente. Eu sou uma grande pessoa e um merda ao mesmo tempo. Como a vida, que é maravilhosa e um filme de terror. De que maneir a gente faz a média disso tudo é que torna a gente um bom ser humano ou não. Me inspirei na capacidade das pessoas de irem até o limite de violência delas. Me inspirei nessas pessoas que mentem, porque elas têm qualidades também. Políticos que são cruéis com o povo e, ao mesmo tempo, parecem ser ótimos. Você não é um ladrão, mas maltrata sua família, não separa o lixo... Todo mundo é dúbio. Acho que o público gostou porque vê outras pessoas nesses personagens — analisa Sterblitch, que, para além do papel dramático, estreia como um dos novos apresentadores do “Papo de segunda”, do GNT, a partir da próxima segunda: — Só no Globoplay, essa série já me deu mais resultado popular do que muitos programas que fiz na TV aberta.

Pronto pra guerra

Intérprete de um dos jovens envolvidos na briga que desencadeia a história de “Os outros”, Paulo Mendes foi considerado uma das revelações da produção. Até então, o ator atuava no teatro e fazia dublagens.

— Foi meu primeiro trabalho para a TV. Ao mesmo tempo que era difícil, foi muito bom me ver atuando com aquelas pessoas que eu admiro. Lembro que emagreci, ficava cansado com toda a preparação física, o personagem lutava judô. Mas é louco porque, sinceramente, aquelas cenas pesadas não me afetavam. Eu gosto de passar por essa adrenalina toda, saber que eu vou ser desafiado e ter que dar muito de mim. Não tenho nada a ver com o Rogério, não sou briguento. Se vejo confusão, quero fugir — diz o jovem de 19 anos, contando que ouvia uma playlist personalizada antes de gravar como o bad boy: — Tinha bastante rock, como “Highway to hell”, do AC/DC, e “Something in the way”, do Nirvana.

Pouco tempo depois, o ator mostrou sua versatilidade artística ao viver um bondoso noviço na novela “Amor perfeito”:

— Gosto muito de comédia, e um dos meus maiores ídolos é Jim Carrey. Era incrível vê-lo de outro jeito em “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Então pensei que tive a oportunidade de fazer isso, viver personagens diferentes. Gosto de ver que está dando certo. A primeira vez que aconteceu de virem pedir pra tirar foto, perguntei: “É comigo mesmo?”.