Internacional
Se retaliar Irã, Israel sofrerá mais pressão internacional do que por guerra em Gaza, dizem analistas
Após ofensiva contra o território israelense, Reino Unido, EUA e França deixaram de lado as diferenças sobre o conflito no enclave para defender Tel Aviv de 'arqui-inimigo' comum
Há apenas duas semanas, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, enfrentava pedidos para interromper os envios de armas para Israel por causa da guerra na Faixa de Gaza. Já nesta segunda-feira, ele saudou os aviões de guerra do Reino Unido que derrubaram alguns dos drones iranianos usados para atacar o Estado judeu. O caso mostra como o conflito mais recente entre Tel Aviv e Teerã bagunçou a equação no Oriente Médio. Durante a ofensiva realizada no sábado, quando mais de 300 mísseis foram disparados contra Israel, Reino Unido, EUA e França deixaram de lado as diferenças sobre a guerra no enclave para defender o país do que consideram um arqui-inimigo: o Irã.
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O premier israelense, Benjamin Netanyahu, conseguiu mudar a narrativa, segundo analistas britânicos e americanos ouvidos pelo New York Times. Foi ele quem aprovou um ataque aéreo a uma reunião de generais iranianos em Damasco no dia 1º de abril, matando 16 pessoas, incluindo membros do alto escalão da Guarda Revolucionária — ocorrência responsável por provocar a retaliação do Irã no último sábado. A avaliação dos especialistas, no entanto, é a de que a mudança será “passageira” caso Netanyahu agora ordene um contra-ataque danoso o suficiente para colocar a região em uma guerra mais ampla.
— Pedimos a eles que aproveitem essa vitória neste momento — disse Sunak no Parlamento, pegando emprestada uma frase que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, usou numa ligação telefônica com Netanyahu no domingo, após o ataque do Irã.
Era esperado que Sunak tivesse sua própria ligação com o primeiro-ministro de Israel nesta terça-feira, como parte de uma pressão total dos líderes europeus para instá-lo a não permitir que o confronto com o Irã se torne incontrolável. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse a um canal de notícias da França que fará “de tudo para evitar uma escalada”. Na Alemanha, a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, sinalizou os limites do apoio a um contra-ataque israelense. Ela afirmou que “o direito à autodefesa significa repelir um ataque”, mas que a retaliação “não é uma categoria no direito internacional”.
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Para os analistas, a pressão ocidental sobre Netanyahu em relação ao Irã seria ainda mais intensa do que em relação ao enclave palestino. Isso porque uma guerra total entre Tel Aviv e Teerã, afirmaram, tem mais potencial para desestabilizar a geopolítica e a economia do que a campanha militar israelense para erradicar os terroristas do Hamas em Gaza. Embora a ofensiva de Israel tenha mobilizado grande parte da opinião mundial, especialmente após o ataque que matou sete funcionários humanitários da World Central Kitchen, o confronto não convulsionou os mercados financeiros ou os preços do petróleo, algo que uma guerra entre Irã e Israel quase certamente provocaria.
— Houve uma resposta pública e unida defendendo Israel do ataque do Irã, [embora também tivesse] uma mensagem privada forte para Israel que é: ‘não se atreva’ [em revidar] — disse Daniel Levy, ex-negociador de paz israelense que agora dirige o Projeto Oriente Médio dos Estados Unidos, um think tank com sede em Londres e em Nova York. — Sobre Gaza, há muita preocupação pública, mas falta vontade de ser duro em particular. Gaza não arrasta diretamente os EUA para uma guerra.
Um conflito desse tipo entre Irã e Israel provavelmente atrairia os EUA — e possivelmente o Reino Unido, que desempenhou seu papel tradicional de apoio no esforço liderado pelos americanos para derrubar drones e mísseis iranianos. A situação poderia ocasionar efeitos políticos voláteis em ambos os países, onde os eleitores irão às urnas este ano.
Guerra em Gaza
Nesta segunda-feira, Sunak insistiu que a última crise não livraria Israel da responsabilidade pelo número de mortes de civis em Gaza, que já ultrapassa os 33 mil. O primeiro-ministro repetiu seu apelo por uma pausa humanitária que levasse a um cessar-fogo sustentável, e chegou a afirmar que “o país todo quer ver um fim ao derramamento de sangue e mais apoio humanitário sendo fornecido”. Mesmo antes do ataque iraniano a Israel, no entanto, o governo britânico já resistia aos apelos para interromper o envio de armas para os israelenses.
— Netanyahu deve ter imaginado que os iranianos retaliariam após o ataque em Damasco, e que isso faria com que os americanos e seus aliados ocidentais apoiassem Israel — afirmou. — Isso funcionou. Se [Netanyahu] tiver sabedoria de aproveitar a vitória, ou pelo menos retaliar de forma limitada, é tudo ganho para ele.
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Martin Indyk, ex-embaixador americano em Israel, disse que uma resposta limitada de Tel Aviv é o cenário mais provável. Na avaliação dele, o premier precisará responder, mas “não de uma forma que exija que os iranianos retaliem”. O desafio para a Europa e os EUA, disseram os analistas, é que de todos os países da região, Israel tem o maior incentivo para escalar as hostilidades com o Irã. Ele já tem lutado para erradicar o Hamas em Gaza e se tornou mais isolado diplomaticamente por causa do custo humanitário da guerra. Ainda assim, disseram, o líder americano não pode se dar ao luxo de uma ruptura total com Israel, especialmente se o país tiver um conflito com o Irã no ano eleitoral.
— Os israelenses têm tentado colocar os americanos em uma posição onde não tenham escolha — disse Jeremy Shapiro, diretor de pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores. — Apesar dos protestos da administração Biden, eles estão em uma posição difícil. O que eles vão fazer se os israelenses escalarem?
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