Internacional

Chanceler defende governo Milei e 'nova Argentina' a empresários em SP, após focar em relações de Estado em Brasília

Diana Mondino defendeu 'decretaço' e cortes de gasto do governo argentino e falou sobre modernização do Mercosul e ações conjuntas com o Brasil

Agência O Globo - 16/04/2024
Chanceler defende governo Milei e 'nova Argentina' a empresários em SP, após focar em relações de Estado em Brasília
Javier Milei - Foto: REUTERS/Agustin Marcarian

A chanceler argentina, Diana Mondino, defendeu as medidas econômicas e políticas adotadas pelo presidente Javier Milei, em encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), nesta terça-feira, no segundo dia de sua turnê pelo Brasil. Um dia após ressaltar as relações de Estado entre os dois países em encontros com autoridades do governo brasileiro, em Brasília, a diplomata adotou um papel mais próximo de porta-voz dos interesses do governo argentino, apresentando à classe empresarial o que chamou de “uma nova Argentina”.

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— Temos uma nova Argentina. E essa Argentina vai existir se todos vocês acreditarem nela — disse Mondino, ao responder a uma pergunta sobre a relação entre os setores de agronegócio do país.

Em um discurso de pouco mais de 18 minutos, a ministra advogou a favor de uma série de ações do governo Milei, que foram motivo de polêmica no ambiente político interno. É o caso do corte de gastos, defendido pelo presidente como única forma de controlar o déficit econômico. Na prática, a medida ofereceu um respiro às contas públicas e iniciou uma recuperação, mas também impulsionou a pobreza e a miséria, afetando sobretudo as classes mais populares.

— Chegamos a três meses, dezembro, janeiro e fevereiro, em que o déficit foi zero. Os dados de março já estão quase prontos — afirmou Mondino. — Isso resultou em um choque muito importante na economia, porque essa redução de gastos significa que quem recebia esse gasto tem menos dinheiro no bolso. Todo gasto que o Estado faz tira de um, pelo imposto, para dar a outro. É essa parte que estamos tentando ordenar.

A diplomata também se pronunciou sobre o “decretaço” de Milei, assinado nos primeiros dias de governo, em dezembro, que revogou uma série de leis sob a justificativa de desburocratizar processos e facilitar a atividade econômica. Parte do decreto, que trata da área trabalhista, está "sub judice” para análise de constitucionalidade, e motiva protestos populares.

— Esse decreto se trata apenas de liberdades individuais. Eu, pessoalmente, fiquei totalmente surpresa que alguém possa se opor a liberdades individuais. Toda essa reforma consistia em que as pessoas pudessem decidir se pagam ou não sua contribuição sindical, se pagam a aposentadoria da forma A ou B, e sobre uma série de temas extraordinariamente ampla — disse a ministra, acrescentando que a medida seria “70 páginas de liberdades individuais”. — Em praticamente nenhum caso existe a palavra “deverão”.

As declarações políticas não se restringiram aos planos de Milei, mas também a comparações com o governo anterior. A chanceler fez uma série de críticas a períodos passados da política argentina, sem se referir a nenhum dos ex-mandatários diretamente.

— Eu fico entediada contando a envergadura do problema que temos, porque, repito a Argentina devia tanto quanto o que produz anualmente, a dívida superior a um PIB — disse Mondino. — Não menciono a corrupção que isso gera. O exemplo talvez mais doloroso é que a metade dos refeitórios de organizações sociais, que recebiam fundos, não existiam. Não um, não dois: metade não existia. Estamos encontrando problemas de fenomenal corrupção em muitos setores.

Parceria com o Brasil e Mercosul

A frente da pasta que trata das relações exteriores e também do comércio internacional, Mondino afirmou aos empresários que tanto Argentina quanto Brasil podem conseguir uma projeção mundial conjunta liderando setores estratégicos, como energia verde e produção alimentar.

— Podemos ser solução para o mundo para os principais problemas identificados na atualidade. O mundo identificou que tem um problema de transição energética: Argentina, Brasil e o Mercosul em geral somos parte da solução. Podemos nos converter em sequestrados de carbono, além de gerar energia limpa, além de exportar energia limpa. Somos parte da solução de segurança alimentar do mundo, temos uma capacidade de produção de proteínas absolutamente extraordinária Se tivessemos menos restrições do lado de nossos compradores, poderíamos praticamente alimentar o mundo inteiro — afirmou.

Sobre o bloco econômico sul-americano, a ministra defendeu uma reformulação e modernização, ampliando termos de cooperação, inclusive no sentido de tornar cada um dos países um parceiro preferencial ao outro.

— Estamos trabalhando, em conjunto com o Brasil, com o Paraguai e com o Uruguai, em uma modernização, um choque de adrenalina — disse Mondino. — O Mercosul tem 32 anos, nunca se modificou, e o mundo mudou. As empresas do Mercosul mudaram, mas o convênio não mudou. É preciso que tenhamos mais elementos.

A chanceler defendeu a ampliação de acordos, por meio do bloco, com parceiros de outras partes do mundo, para além da União Europeia — que disse interessar a todos, mas que não se trataria de uma "panaceia". Mondoni mencionou tratativas em andamento com blocos como EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), que envolve Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein, e ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), e que os chanceleres do bloco chegaram a um acordo para tentar tratar de todas elas simultaneamente.

— Nenhum dos quatro países (do Mercosul) tem capacidade de gestão suficiente para lidar com tudo isso de forma simultânea. Então fizemos um acordo entre chanceleres onde cada país vai liderar um dos acordos. Assim podemos ir trabalhando simultaneamente, porque se não fizermos isso de forma sequencial, cai ser extremamente lento — disse.