Internacional
Bombardeios, atentados e vírus: Israel e Irã trocam ataques há décadas; veja alguns exemplos
Ação de sábado é considerada sem precedentes por conta da escala e maneira como foi feita, mas passa longe de ser uma exceção no cenário mais amplo
Apesar de sem precedentes em termos militares, e de contar com alguns dos mais conhecidos mísseis e drones militares iranianos, o ataque contra Israel na noite de sábado não foi um evento isolado na tensa relação entre os dois países desde a Revolução Islâmica de 1979. Além de declarações sobre a legitimidade do rival e da percepção de que o outro é uma ameaça existencial, iranianos e israelenses se atacaram muitas vezes ao longo das últimas décadas, com mísseis, atentados e assassinatos de figuras de alto escalão.
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Na semana passada, a Justiça da Argentina considerou que o Irã era responsável pelos ataques contra a embaixada israelense em Buenos Aires, em 1992, e contra a Associação Mutual Istraelita Argentina (Amia), também na capital, em 1992, em ações levadas adiante por integrantes de grupos como o Hezbollah. Segundo os magistrados, Teerã não se conformou com o fim de um acordo de cooperação militar firmado com os argentinos, e usou o ataque para se vingar — contudo, outras versões ligam a explosão na embaixada ao assassinato do então líder do Hezbollah por Israel naquele mesmo ano. O Irã nega qualquer ligação.
Em 2012, os iranianos foram acusados de planejar e executar atentados contra cidadãos, embaixadas e outros alvos israelenses em uma série de países — em fevereiro, explosões em veículos de funcionários de Israel na Geórgia e Índia não causaram vítimas, e elas foram apelidadas pelo então (e atual) premier Benjamin Netanyahu de “terrorismo sem fronteiras”. Naquele mesmo ano, ataques similares foram frustrados no Azerbaijão e no Chipre, mas na Bulgária, cinco turistas israelenses e um motorista búlgaro morreram quando um homem-bomba detonou explosivos no ônibus onde eles estavam. O Irã negou qualquer participação.
Tal como os iranianos, Israel jamais admitiu sua responsabilidade em atentados, embora seus objetivos fossem bem claros. A partir de 2010, em meio a preocupações sobre a eventual militarização do programa nuclear do Irã, cientistas nucleares começaram a ser assassinados em incidentes que guardavam semelhanças entre si: em quatro casos, bombas foram instaladas nos veículos onde eles viajavam em Teerã, possivelmente com a ajuda de grupos dissidentes.
Mas nenhum atentado foi tão elaborado como o que matou Mohsen Fakhrizadeh, considerado um dos principais nomes do suposto programa de desenvolvimento de bombas nucleares do Irã (algo que o país nega existir). Em 2020, quando ele viajava nos arredores de Teerã, seu carro foi atingido por disparos feitos por uma metralhadora operada à distância por agentes israelenses, matando o cientista na hora. Fakhrizadeh era considerado um alvo de alto grau de importância para os israelenses, e desde 2007 estava na mira do Mossad, o serviço de inteligência interna de Israel. A morte foi prontamente condenada por Teerã, e ocorreu meses depois do ataque americano que vitimou o popular comandante da Força Quds, Qassem Soleimani, no Iraque.
Além das mortes, houve casos de ações para debilitar o programa nuclear do Irã. Em 2010, o vírus Stuxnet provocou danos graves à central de Natanz, atrasando o desenvolvimento de atividades como o enriquecimento de urânio e inutilizando mais de mil centrífugas. Teerã acusou Israel e os EUA de participarem da ação. Dez anos depois, um incêndio provocou estragos na mesma central nuclear, e as autoridades iranianas afirmaram que se tratou de um “caso de sabotagem” — naquele momento, o acordo internacional que regulava as atividades atômicas do Irã, firmado em 2015, se encontrava em estado terminal, e o então presidente dos EUA, Donald Trump, não escondia seu discurso beligerante em relação a Teerã, com apoio direto de Israel.
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Em termos militares, os dois países jamais entraram em guerra, como a que a comunidade internacional tenta evitar neste momento, mas houve um número considerável de ataques diretos e indiretos entre os dois lados, com vítimas dos dois lados e a participação de aliados.
O principal deles é o Hezbollah, milícia libanesa patrocinada por Teerã e que em 2006 travou um violento conflito com Israel dentro do Líbano, e que teve apoio iraniano para a construção de um considerável arsenal, composto, segundo especialistas, por mais de 100 mil mísseis. Após o fim da guerra, os atritos na fronteira se tornaram rotina, e não raro há vítimas dos dois lados. Com a guerra em Gaza, os enfrentamentos se multiplicaram, assim como as vítimas entre civis — embora as tensões estejam elevadas, o Hezbollah não parece disposto a embarcar em uma guerra mais ampla, como a de 2006, possivelmente seguindo ordens do Irã.
Isso não impediu ações israelenses mais ousadas dentro do território libanês — em janeiro, um drone matou o vice-chefe da ala política do Hamas, Saleh al-Arouri, em um apartamento em Beirute. O ataque provocou críticas do Líbano e de Teerã. O Hamas tem uma relação complexa com o Irã, e apesar de ostentar algumas armas fornecidas pelos iranianos, não há qualquer indicação de que Teerã tenha qualquer tipo de controle sobre suas ações, tampouco conhecimento prévio de ataques como o de 7 de outubro de 2023.
Ainda sobre a guerra em Gaza, desde o início da ofensiva militar israelense, bombardeios mataram 18 oficiais da Guarda Revolucionária do Irã na Síria. Israel alega que o país árabe, cujo governo é alinhado a Teerã, serve de base para que os iranianos planejem ações ao redor do Oriente Médio, e se vê no direito de lançar ataques aéreos. Das 18 mortes, 16 ocorreram em bombardeios na capital, Damasco, incluindo a ação contra o consulado do Irã que motivou os ataques de sábado — Israel afirma que o local não era uma representação diplomática, mas sim uma “base avançada da Guarda Revolucionária”, e que, por isso, não estaria protegido pelas leis internacionais.
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