Internacional
Ao lado de Japão e Filipinas, Biden tenta projetar frente contra a China na Ásia
Presidente americano quer fortalecer alianças com nações na região para conter o que vê como expansão perigosa de Pequim
Em mais um ato daquele que é considerado um pilar de sua política externa, o presidente dos EUA, Joe Biden, recebe nesta quinta-feira na Casa Branca os líderes de Japão e Filipinas, um encontro inédito entre os três países e que tem como tema principal a China. O líder americano considera Pequim a única potência global com intenção e capacidade para realizar alterações na ordem global, e a vê como um risco para a estabilidade regional, em especial quando o assunto é Taiwan.
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Ao lado do premier japonês, Fumio Kishida — com quem se reuniu longamente e a quem ofereceu um jantar com honras de chefe de Estado na quarta-feira — e do presidente filipino, Ferdinando Marcos Jr., Biden quer reiterar o apoio americano às duas nações na região do Mar do Sul da China, cenário de disputas territoriais envolvendo chineses, filipinos, japoneses, taiwaneses, malaios, vietnamitas e bruneanos.
Recentemente, navios da Guarda Costeira chinesa atacaram embarcações filipinas, no que consideram ser suas águas territoriais, usando jatos d’água e outras formas de intimidação — para as Filipinas, tais atos beiram uma violação do pacto de defesa assinado em 1951 entre Manila e Washington, que exige que as nações se ajudem militarmente caso uma delas seja atacada por um terceiro país.
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Os EUA estão dispostos a incrementar sua presença nessas águas, e no domingo lideraram inéditas manobras navais com Filipinas, Austrália e Japão na área, com o objetivo de “garantir o cumprimento da lei, que é a fundação de uma região Indo-Pacífica estável e pacífica”, além de garantir a liberdade de trânsito, afirmou comunicado conjunto dos países.
No mesmo dia, Pequim realizou “patrulhas de combate conjuntas navais e aéreas” na mesma região, afirmando em comunicado que “todas as atividades militares que complicam a situação no Mar do Sul da China e criam pontos de conflito estão sob controle”. O texto não cita explicitamente as manobras conjuntas dos aliados.
— EUA, Japão e Filipinas são três democracias marítimas alinhadas com objetivos estratégicos cada vez mais convergentes — disse, na terça-feira, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
Meses depois de assumir o governo, em 2021, Biden estabeleceu que a contenção da China, em uma relação de competição que por vezes beira a rivalidade, deveria ser a prioridade da política externa americana. E apontou que essa contenção passa não apenas pelo confronto direto, como o fez seu antecessor, Donald Trump, através de sanções e da famosa “guerra comercial”, mas também por cortejar antigos aliados americanos na região.
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Ainda em 2021, Biden ressuscitou o chamado Quarteto, criando uma nova porém ainda incerta aliança de segurança com Índia, Coreia do Sul e Japão. No mesmo ano, em parceria com o Reino Unido, firmou o pacto de segurança conhecido como Aukus, que ofereceu à Austrália um salto tecnológico de defesa, incluindo com submarinos nucleares.
Mas não se trata apenas de defesa e segurança: no caso das Filipinas, com quem a Casa Branca parece ter uma relação melhor do que a que manteve com o intempestivo Rodrigo Duterte, uma série de incentivos econômicos está sobre a mesa.
Há expectativa de que gigantes empresariais americanas, como a Meta e a UPS, anunciem investimentos de grande porte na economia filipina. No mês passado, a secretária de Comércio, Gina Raimondo, visitou Manila e anunciou aportes de mais de US$ 1 bilhão vindos de empresas americanas. Planos para projetos de infraestrutura, incluindo portos, ações voltadas à produção de energia limpa e de semicondutores também estão na pauta.
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Na véspera, Biden reiterou ao premier japonês, Fumio Kishida, o papel de destaque que dá ao Japão nesta estratégia de contenção da China. Além do Quarteto, Biden sinalizou que pretende buscar maneiras de incluir Tóquio em ações coordenadas com o Aukus, e que anunciará uma nova arquitetura para um sistema de mísseis em parceria com a Austrália.
— Há apenas algumas gerações, nossas duas nações estavam presas em um conflito devastador — disse Biden, ao lado de Kishida, na Casa Branca. — Teria sido fácil para que continuássemos sendo adversários. Mas nós fizemos uma escolha melhor: nos tornamos os amigos mais próximos.
'Desafio sem precedentes'
Nesta quinta-feira, Kishida se tornou o segundo premier japonês a discursar diante do Congresso dos EUA, algo que apenas Shinzo Abe, morto em 2022, havia feito há quase uma década. Na fala, ele disse que os Estados Unidos são “indispensáveis” para manter a ordem mundial e enfrentar potenciais ameaças, citando a China.
— A ordem internacional na qual os Estados Unidos trabalharam durante gerações enfrenta novos desafios, desafios daqueles com valores e princípios muito diferentes dos nossos — ressaltou.
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Ele disse ter percebido no país "uma corrente subjacente de dúvidas entre alguns americanos sobre qual deveria ser o seu papel no mundo" e que compreendia "o cansaço de ser o país que manteve a ordem internacional quase por si só".
— Sem o apoio dos Estados Unidos, quanto tempo levará até que as esperanças da Ucrânia sejam frustradas pela invasão de Moscou? Sem a presença dos Estados Unidos, quanto tempo demorará até que o Indo-Pacífico enfrente realidades ainda mais duras? — declarou.
Ao falar sobre a China e suas ações militares, como a do Mar do Sul da China e ao redor de Taiwan, considerada uma província rebelde por Pequim, Kishida declarou que elas "representam um desafio sem precedentes e o maior desafio estratégico não apenas para a paz e segurança do Japão, mas para a paz e segurança de toda a comunidade internacional".
Nesta quinta-feira, a porta-voz da Chancelaria chinesa disse, em reação aos acordos e declarações firmados por EUA e Japão, que ambos países, “ignorando as sérias preocupações da China, difamaram e atacaram a China em questões relacionadas a Taiwan e assuntos marítimos".
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