Política

PCC não teria se infiltrado assim sem ajuda do poder público, diz promotor do caso das empresas de ônibus

Para Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, o setor de transporte é "mal fiscalizado" pela prefeitura

Agência O Globo - 11/04/2024
PCC não teria se infiltrado assim sem ajuda do poder público, diz promotor do caso das empresas de ônibus
PCC não teria se infiltrado assim sem ajuda do poder público, diz promotor do caso das empresas de ônibus - Foto: Reprodução / internet

O promotor do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya, que investiga há duas décadas o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores organizações criminosas do país, diz que a facção não seria capaz de se infiltrar no poder público se não tivesse ajuda de servidores públicos. Para ele, a corrupção de agentes estatais é um dos motivos de o grupo ser classificado hoje como uma máfia.

A declaração foi dada em entrevista à Rádio CBN e ao GLOBO nesta quinta-feira. Gakiya está à frente da Operação Fim da Linha, deflagrada na terça-feira pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), junto da Receita Federal, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Polícia Militar, contra o envolvimento do PCC no transporte público paulistano.

As autoridades prenderam seis pessoas, das quais três eram alvo de mandados de prisão — todas elas diretoras ou sócias das empresas investigadas, a Transwolff (TW) e a UPBus. As companhias receberam mais de R$ 800 milhões da prefeitura em 2023 por meio de contratos e transportam cerca de 700 mil pessoas por dia.

— Eu não acho que o PCC seria capaz (de se infiltrar da forma que se infiltrou sem ajuda do poder institucionalizado). Não temos as provas ainda nesse sentido, mas quando eu falo que o PCC tem status de máfia... um dos requisitos para que uma organização criminosa se torne uma máfia é a infiltração no poder público com a corrupção de agentes públicos — diz Gakiya.

Outras investigações em andamento, desta vez na Polícia Civil, apontam que não apenas a TW e a UPBus podem estar envolvidas com o PCC, mas diversas outras, diz o promotor. Ele também afirma existirem indícios de atuação do grupo em municípios no interior de São Paulo na compra de organizações sociais que ganharam licitações na área de saúde e na de coleta de lixo.

— O setor (de transporte em São Paulo) estava muito mal fiscalizado, essa é a verdade. Não é possível que indivíduos procurados pela Justiça, por roubo a banco, tráfico internacional, façam parte, por meio de esposa, filhos e parentes, da direção dessas empresas — declara.

O promotor defende que a Prefeitura de São Paulo reveja todos os contratos de licitação na área de transporte e que o Ministério Pública está à disposição para auxiliá-la. O pente-fino, diz ele, deveria vir preventivamente do Executivo municipal, sem esperar uma operação do MP ou ação da Justiça.

O material colhido nas dezenas de endereços alvo de mandados de busca e apreensão na terça-feira, segundo Gakiya, trouxe "muitos elementos" para os investigadores.

— Vamos instaurar uma outra investigação aqui mesmo, no âmbito na força-tarefa do Gaeco que eu coordeno, para que a gente possa verificar se houve a participação de servidores públicos ou mesmo de políticos.