Política
PCC não teria se infiltrado assim sem ajuda do poder público, diz promotor do caso das empresas de ônibus
Para Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, o setor de transporte é "mal fiscalizado" pela prefeitura

O promotor do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya, que investiga há duas décadas o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores organizações criminosas do país, diz que a facção não seria capaz de se infiltrar no poder público se não tivesse ajuda de servidores públicos. Para ele, a corrupção de agentes estatais é um dos motivos de o grupo ser classificado hoje como uma máfia.
A declaração foi dada em entrevista à Rádio CBN e ao GLOBO nesta quinta-feira. Gakiya está à frente da Operação Fim da Linha, deflagrada na terça-feira pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), junto da Receita Federal, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Polícia Militar, contra o envolvimento do PCC no transporte público paulistano.
As autoridades prenderam seis pessoas, das quais três eram alvo de mandados de prisão — todas elas diretoras ou sócias das empresas investigadas, a Transwolff (TW) e a UPBus. As companhias receberam mais de R$ 800 milhões da prefeitura em 2023 por meio de contratos e transportam cerca de 700 mil pessoas por dia.
— Eu não acho que o PCC seria capaz (de se infiltrar da forma que se infiltrou sem ajuda do poder institucionalizado). Não temos as provas ainda nesse sentido, mas quando eu falo que o PCC tem status de máfia... um dos requisitos para que uma organização criminosa se torne uma máfia é a infiltração no poder público com a corrupção de agentes públicos — diz Gakiya.
Outras investigações em andamento, desta vez na Polícia Civil, apontam que não apenas a TW e a UPBus podem estar envolvidas com o PCC, mas diversas outras, diz o promotor. Ele também afirma existirem indícios de atuação do grupo em municípios no interior de São Paulo na compra de organizações sociais que ganharam licitações na área de saúde e na de coleta de lixo.
— O setor (de transporte em São Paulo) estava muito mal fiscalizado, essa é a verdade. Não é possível que indivíduos procurados pela Justiça, por roubo a banco, tráfico internacional, façam parte, por meio de esposa, filhos e parentes, da direção dessas empresas — declara.
O promotor defende que a Prefeitura de São Paulo reveja todos os contratos de licitação na área de transporte e que o Ministério Pública está à disposição para auxiliá-la. O pente-fino, diz ele, deveria vir preventivamente do Executivo municipal, sem esperar uma operação do MP ou ação da Justiça.
O material colhido nas dezenas de endereços alvo de mandados de busca e apreensão na terça-feira, segundo Gakiya, trouxe "muitos elementos" para os investigadores.
— Vamos instaurar uma outra investigação aqui mesmo, no âmbito na força-tarefa do Gaeco que eu coordeno, para que a gente possa verificar se houve a participação de servidores públicos ou mesmo de políticos.
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