Brasil
De ônibus a clínicas odontológicas: veja os negócios do PCC em São Paulo
Operação do Ministério Público nesta terça-feira revelou atuação da facção na área do transporte público, mas grupo atuaria em diversos setores da economia formal
A operação do Ministério Público contra empresas de ônibus acusadas de serem ligadas ao PCC em São Paulo, nesta terça-feira, mirou apenas um dos tipos de negócio usados pela facção para lavar dinheiro obtido com o tráfico de drogas. Como mostrou O GLOBO em diversas reportagens, nos últimos anos o grupo criminoso investiu em setores da economia que vão do ramo imobiliário às clínicas odontológicas, com o objetivo de transformar os ganhos ilícitos em lucros corporativos aparentemente legítimos.
Os imóveis são um exemplo da estratégia da facção. Em 2022, inquéritos policiais davam conta de que havia pelo menos 250 loteamentos clandestinos nas mãos do crime organizado na capital paulista, a maioria deles ligados ao PCC. O esquema envolve a criação de associações, incorporadoras e construtoras para invadir áreas de preservação ambiental e vender terrenos. Os grupos constroem "condomínios" ilegais com calçada, ruas, iluminação e até rede de esgoto. Apenas uma das quadrilhas desarticuladas pela polícia, a Imobiliária do Crime, tinha R$ 156 milhões em contratos de venda desses terrenos.
Outro ramo da atuação do PCC em São Paulo é o dos postos de combustível. Segundo representantes das distribuidoras, que falaram ao GLOBO sob anonimato, mais de 300 postos do estado estariam nas mãos do crime organizado hoje, de um total de cerca de 8.500 — a maioria seria administrada pela facção. No país, seriam por volta de 850. Esses postos operam, em sua maioria, em nome de laranjas, e vendem combustível adulterado aos clientes.
O PCC também se infiltrou em setores econômicos menos convencionais nos últimos anos. Investigações da polícia paulista revelaram que, em 2020, um único criminoso do grupo — especializado na criação de consórcios de traficantes que enviavam contêineres de droga ao exterior — montou ao menos 60 clínicas odontológicas em São Paulo e na região do Baixo Tietê para disfarçar a atuação criminosa. Era filho de um protético, daí a opção por esse negócio de fachada.
O investimento em empresas para prestar serviços a prefeituras e ao setor público em geral, como investigado pela Operação Fim da Linha, não se restringe à capital paulista. Em março, um dos líderes do PCC no Guarujá, cidade da Baixada Santista, Cristiano Lopes da Costa, conhecido como “Meia Folha”, foi morto a tiros. Ele era o responsável por uma empresa que firmou dois contratos com a prefeitura da cidade litorânea. Segundo a Prefeitura do Guarujá, Costa era representante da HC Transporte e Locação Eirelli, que presta serviços de controlador de acesso e de limpeza nas unidades de Saúde do município.
A atuação do PCC na chamada "economia formal" poderia ser comparada aos esquemas mafiosos que operam há décadas na Itália, como afirma o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Gakiya investiga o PCC desde os anos 2000 e esteve a frente da operação do MP nesta terça-feira.
— O que nos preocupou muito é que a facção (PCC) tem tomado contornos de máfia, cuja característica principal é a infiltração nos poderes do Estado. Não detectamos nenhuma omissão por parte do poder público municipal, mas detectamos que (os criminosos) estão disputando licitações de serviço público municipal. Já ocorreu na Itália, e agora temos visto isso acontecer no Brasil — afirmou Gakyia.
A UPBus e a Transwolff (TW), empresas alvo da operação, transportam quase 700 mil pessoas por dia e receberam quase R$ 800 milhões em remuneração da Prefeitura.
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