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Mark Knopfler: 'A música do Dire Straits mudou a vida de muitas pessoas. Como não continuar tocando?'

Artista lança novo álbum, 'One Deep River', nesta sexta-feira (12) aos 74 anos

Agência O Globo - 08/04/2024
Mark Knopfler: 'A música do Dire Straits mudou a vida de muitas pessoas. Como não continuar tocando?'
Mark Knopfler: 'A música do Dire Straits mudou a vida de muitas pessoas. Como não continuar tocando?' - Foto: Reprodução / internet

Mark Knopfler, de 74 anos, aguarda pacientemente em um reservado do Bluebird, um restaurante e bar elegante no bairro londrino de Chelsea. Ele toma um café com leite, vestido de escuro, com a cabeça completamente raspada. Há uma mistura de ceticismo, resignação e curiosidade diante da milésima entrevista que ele concede ao longo de tantos anos de trajetória musical. Cem milhões de discos vendidos em todo o mundo como líder da banda Dire Straits. Uma fortuna pessoal acumulada em quase 90 milhões de euros. E a certeza de ser uma lenda do rock. Seu olhar, sua voz (principalmente sua voz) e sua ironia imediatamente o tornam alguém muito próximo.

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"Há tantas coisas novas no mundo da música. Por isso é que estamos conversando hoje, você e eu. Porque preciso levantar a mão em meio ao alvoroço. Tenho que levantá-la e agitá-la, para que saibam que acabei de gravar um novo álbum", explica Knopfler. "Ao mesmo tempo que outras 55.000 pessoas, provavelmente, também lançaram um novo álbum. É uma situação ridícula. Mas é o modo de tentar vender sua música. Eu poderia dizer: 'Não dou mais entrevistas'. Diga então o que aconteceria. Ou, melhor ainda, o que não aconteceria."

Depois de uma separação turbulenta da banda, que também incluía seu irmão mais novo, David Knopfler, e o baixista John Illsley, Mark lançou-se em uma carreira solo que lhe permitiu sustentar ao longo do tempo o sucesso e a popularidade com discos geniais e colaborações históricas: Bob Dylan, Rod Stewart, Sting, The Killers... "Isso faz com que a vida continue interessante. Parte do prazer que isso proporciona é permitir que a música respire entre pessoas diferentes. Eu sempre dou guitarras para as pessoas com quem toco", ele admite.

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Seu novo álbum, "One Deep River", será lançado em 12 de abril, apresentando faixas como "Two Pairs Of Hands", "Ahead of the Game" ou "Watch Me Gone". Knopfler retorna à Grã-Bretanha. Na verdade, ele nunca a deixou. Ele volta para Newcastle, a cidade onde cresceu, atravessada pelo rio Tyne. Aquela parte norte da Inglaterra, quase mais escocesa do que inglesa. "Tudo continua me trazendo de volta à Grã-Bretanha, tudo me prende a este país. Eu até diria que isso acontece ainda mais agora. Por exemplo, a resposta europeia à situação da Ucrânia tem sido muito mais hesitante do que a britânica, que não mudou nada. E eu gosto disso", ele observa.

Em um mundo que já não se parece com aquele que lhe trouxe fama e sucesso, Knopfler insiste em continuar compondo e produzindo álbuns. O novo álbum apresenta uma variedade de estilos e uma qualidade avassaladora. Poderia ter sido um sucesso há 30 anos. Hoje, não será o mesmo. Mas ele acha impossível se afastar. "Não tenho outra escolha. Sou viciado nisso. Aos poucos, percebi que era um compositor e letrista, além de um guitarrista", ele diz com um sorriso. "Encaro como filosofia. Você não tem outra escolha a não ser ser filosófico, e eu posso me dar ao luxo disso. Tive muito sucesso. E graças a isso, estou em uma posição muito privilegiada, onde posso até me dar ao luxo de ter meu próprio estúdio. Mesmo que não seja rentável. É algo maravilhoso, e nunca tenho um dia ruim quando estou lá. Apenas cinco quilômetros de casa. Não preciso mais viajar para os Estados Unidos para gravar", ele explica.

Os dias com a banda

Knopfler encontrou o sucesso quando estava se aproximando dos 30 anos. Antes disso, foi jornalista e professor de inglês. Conhecer as ruas, entender o que significa trabalhar para ganhar a vida, permitiu-lhe manter os pés no chão quando a tempestade da fama chegou. E deixou um resíduo de inspiração futura em sua mente. "Ser jornalista foi maravilhoso para mim. Comecei quando tinha apenas 17 ou 18 anos. No Yorkshire Evening Post, um jornal local bastante bom. Eu havia recebido ofertas de emprego em muitos outros, como o Manchester Evening News ou o Liverpool Echo, porque já havia feito um nome na escola de Jornalismo", ele lembra, seus olhos se iluminando. "Foi maravilhoso para um jovem, porque ajuda você a crescer. Você entende como a vida é construída. Eu não tinha ideia de como uma investigação judicial era iniciada até me mandarem cobrir os tribunais. Eu tinha que estar lá às oito e meia da manhã, bem vestido e com o cabelo cortado. Tudo isso é bom para um jovem, porque ensina você a se organizar", ele explica.

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Ele nem tomou um gole de seu café ainda, e a vontade de falar superou qualquer traço de preguiça. É hora de entrar nas perguntas sobre o Dire Straits. Não será tão delicado como se poderia presumir. "Hoje mesmo eu tinha combinado de almoçar com John [Illsley]. Ele ainda é um dos meus melhores amigos", diz. Mark Knopfler era o coração e a alma daquela banda. Foi esse controle absoluto que deteriorou as coisas. Mas o passado não pertence mais apenas a ele, para esconder ou deixar de lado. "Brothers in Arms, Money for Nothing, Romeo and Juliet, Sultans of Swing... tocamos todas essas músicas no palco tantas vezes. Eu as compus, e sei que são importantes para muitas pessoas. Mudaram suas vidas. Eu entendo isso, e por isso continuo tocando e tento fazer o melhor que posso", ele compartilha. "Elas se tornaram parte da vida de muitas pessoas, e isso é maravilhoso", ele explica. E a fama? Você sente falta? "Eu estava acostumado a observar o mundo e escrever sobre as coisas que chamavam minha atenção. E, de repente, você tem a impressão de que é o mundo que está te observando. Mas é apenas uma impressão. Na realidade, não é assim, o mundo tem coisas mais importantes para fazer do que gastar seu tempo com você", ele diz, quase piscando um olho.