Internacional
Ex-vice-presidente do Equador preso em embaixada foi condenado por associação criminosa no caso Odebrecht; conheça
Com a carreira política marcada por polêmicas e corrupção, Jorge Glas está no centro das tensões diplomáticas entre governo equatoriano e o México
O ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas Espinel, preso desde sábado num presídio de segurança máxima em Guayaquil, é o motivo por trás do rompimento das relações diplomáticas entre Equador e México. A polícia de Quito invadiu a embaixada mexicana para prendê-lo na última sexta-feira, ação que gerou condenação internacional. Desde seu primeiro cargo oficial, como chefe do Fundo de Solidariedade da primeira gestão do ex-presidente Rafael Correa, em 2007, Glas teve uma ascensão meteórica no governo – e foi marcado por polêmicas e condenação por corrupção, incluindo envolvimento no caso Odebrecht.
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Ele começou coordenando empresas de eletricidade e telecomunicações. Depois, assumiu o Ministério da Coordenação dos Setores Estratégicos, um dos mais importantes do Equador. Era responsável pela política pública de recursos petrolíferos, minerais, elétricos, de telecomunicações e de água. Na época, o país vivia um grande momento de desenvolvimento devido ao petróleo e às matérias-primas. O ex-vice, que é engenheiro de formação, ficou conhecido também por plagiar sua tese de graduação – e seu pai, diretor de uma escola, foi condenado por abusar sexualmente de uma estudante de 13 anos, que engravidou.
O bom relacionamento nos círculos de Correa levou Glas a acompanhá-lo na campanha presidencial de 2013. No mesmo período, porém, também começaram os problemas dele com a lei. Em 2017, após quatro anos no cargo, Glas foi condenado a seis anos de prisão por associação criminosa no caso Odebrecht. Depois, foi considerado culpado pelo crime de suborno, recebendo uma sentença de oito anos. Ambas as investigações colocavam Glas na liderança de uma rede de corrupção que, com Correa e outros funcionários do governo, negociava contribuições de empresas multinacionais para o partido Aliança País.
Na época, a Corte Nacional de Justiça avaliou que Glas atuou como “número dois” de Correa, um dos principais responsáveis pelo crime de associação ilícita. O tribunal considerou que o ex-vice “articulou com José Conceição Santos (gerente da construtora no Equador) a concessão de contratos públicos em troca de pagamentos”. Como resultado, o tribunal pediu uma indenização de 33,3 milhões (R$ 167 milhões, na cotação atual) ao Estado. Segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, essa era a quantia que a construtora brasileira pagou em propinas no Equador entre 2007 e 2016. O ex-vice, por sua vez, afirmava que o caso era uma “conspiração” da Odebrecht contra ele.
Ainda em 2017, Glas era vice-presidente de Lenin Moreno (2017-2021), sucessor de Correa. Meses após assumir o cargo, no entanto, ele foi afastado. O decreto foi feito um dia depois do então vice publicar uma lista de críticas a Moreno, incluindo acusações de que ele havia entregado o controle da mídia estatal a “representantes da mídia privada” e tinha “uma maneira perversa de lidar com dados econômicos”. Como o vice é eleito por voto popular no país, ele não poderia ser demitido pelo chefe de Estado. A única maneira de perder o cargo seria por um julgamento na Assembleia Nacional, algo que foi descartado na ocasião.
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Após ter passado cinco anos na prisão por dois casos de corrupção em que estava envolvido, e graças a um recurso de habeas corpus, Glas obteve liberdade condicional 2022. Apesar disso, os processos judiciais continuaram, e o político foi convocado pela Justiça no final do último ano para responder por outro caso de corrupção. Foi quando ele se refugiou na Embaixada do México, numa tentativa evitar voltar à prisão. As autoridades equatorianas tentaram diferentes mecanismos jurídicos para que o governo mexicano entregasse o ex-vice, até que na última sexta-feira a polícia invadiu a embaixada onde ele estava asilado.
Glas também está sendo investigado por um suposto crime de peculato, que consiste em desviar fundos públicos. Segundo a Promotoria equatoriana, o ex-vice desviou fundos que deveriam ser destinados à reconstrução das províncias de Manabí e Esmeraldas, afetadas pelo terremoto de 2016. A investigação do Ministério Público sugere que pelo menos 386 milhões de dólares (R$ 1,8 bilhão, na cotação atual) foram usados em outras obras que não eram urgentes.
Antes que o mandado de prisão fosse emitido, Glas se antecipou e se refugiou na Embaixada do México. Acreditava estar seguro lá, e parecia uma vitória ter recebido asilo. Ninguém contava com a ordem do atual presidente do Equador, Daniel Noboa, de capturá-lo a qualquer preço, mesmo que isso significasse romper com o México. (Com El País)
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