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Carlos Eduardo Dolabella: ‘Espigão’ traz de volta à tela o pai de Dado, grande galã da TV brasileira

Falecido em 2003, ator de novelas como 'O bem-amado' e 'Pai herói' deixou um grande vazio no coração do filho: 'Toda gratidão do mundo ainda é pouca para agradecer a vida que eu tenho dentro do caráter que herdamos de você'

Agência O Globo - 08/04/2024
Carlos Eduardo Dolabella: ‘Espigão’ traz de volta à tela o pai de Dado, grande galã da TV brasileira

Um dos maiores galãs da história da TV brasileira, Carlos Eduardo Dolabella (1937-2003), o pai do ator e cantor Dado Dolabella, volta à TV esta segunda-feira (8) na reprise da novela “O espigão” (1974), de Dias Gomes. Obra cheia de críticas à ganância do empresariado, ela foi centrada na figura de Lauro Fontana (Milton Moraes), dono de uma rede de hotéis, que se valia da especulação imobiliária para fazer bons negócios, além de avançar em áreas de interesse ambiental.

O desafio de Lauro, na trama, era convencer os quatro irmãos Camará a vender um casarão no bairro carioca de Botafogo, em cujo terreno ele planeja construir o maior hotel do Brasil. Os Camará são todos misteriosos e cheios de manias, e apenas o caçula, Marcito (Dolabella) é a favor da venda do casarão. Sedutor barato, ele planejava gastar sua parte do dinheiro com as várias mulheres que namorava ao mesmo tempo. E a particularidade de Marcito era a de que ele só conseguia se satisfazer sexualmente ao som de sinos badalando.

Um papel na medida para este filho de dono de cartório, que estudou em bons colégios e formou-se em Relações Públicas na Suíça. Carlos Eduardo Dolabella cinco idiomas e insistiu em ser ator depois que ganhou seu primeiro prêmio num festival de teatro amador, em 1962. Antes disso, ele chegou a trabalhar em empresas do avô.

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Seu primeiro papel como profissional veio em 1965, na peça “A dama do Maxim’s”, ao lado de Tônia Carrero e Paulo Autran. E a estreia na televisão aconteceu em 1966 na novela “O amor tem cara de mulher”, de Cassiano Gabus Mendes. Dolabella ganhou notoriedade na TV ao interpretar o delegado Falcão em “Irmãos Coragem” (1970), da TV Globo.

Na emissora, ele ainda se destacou como o jornalista Neco Pedreira, que vivia às turras com o prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), em “O bem-amado” e participou de ainda de novelas como “O Astro” (1977), “Pai Herói” (1979) e “Água viva” (1980).

Apesar de ter escolhido o teatro e a TV, Carlos Eduardo Dolabella era apaixonado por música e pensou em ser cantor. Apresentou-se várias vezes em boates, cantando repertório da cantora Maysa. Adorava também Frank Sinatra, Sarah Vaughan e Milton Nascimento.

O Flamengo era uma outra paixão. Torcedor fanático do rubro-negro, ele não costumava perder um jogo do seu time no Maracanã, mas teve problemas por seu fanatismo. Em março de 1998, o personagem Arnaldo, interpretado pelo ator na novela “Por amor”, disse: “O Flamengo foi transformado em um balcão de empregos e, nos últimos três anos, comprou 90 jogadores”.

De acordo com a direção da novela, a frase prevista no roteiro do capítulo criticava os dirigentes dos clubes cariocas de forma genérica, não citando exatamente a equipe rubro-negra. O ator, portanto, inseriu um caco no texto. “A bola estava na marca do pênalti e eu de cara para o gol. Só fiz chutar”, disse Dolabella, na época, ao “Jornal do Brasil”. A direção do clube se sentiu melindrada e solicitou direito de resposta à Globo. Dessa forma, alguns capítulos depois, outro personagem teve que resolver o imbróglio. Marcelo, vivido por Fábio Assunção, um dos principais nomes da trama, disse que “o Flamengo não comprou 90, mas 27 jogadores.”

Crítica à crítica

Uma nota zero dado pela coluna “Controle Remoto” do GLOBO ao seu companheiro de “Por amor”, o ator Jorge Coutinho, também tirou Carlos Eduardo Dolabella do sério. Ele iniciou na internet uma campanha de questionamento da validade da crítica televisiva.

— Concordo com qualquer tipo de crítica, menos essa. Quem pode dar nota é Deus, ou professor de colégio quando aplica provas objetivas. Uma boa crítica tem que ser embasada, quem faz precisa explicar – disse ao GLOBO o ator, que jamais tinha sido contemplado com um 0 ou 10 na coluna.

Em 2001, Dado, um de seus filhos com a atriz Pepita Rodrigues, começou a se destacar em MaIhação – Múltipla Escolha”. Era um dos atores jovens da TV Globo que mais recebiam cartas de fãs — por semana, eram cerca de 250. O pai dizia se orgulhar de Dado (“Ele tem muito talento e acho que começou muito meIhor do que eu. Está no sangue!”, dizia), mas também fazia suas críticas:

— Se vejo uma cena que acho que deveria ter sido feita melhor, falo para ele. Mas o Dado não gosta muito, não!

Saúde deteriorada

Carlos Eduardo Dolabella morreu em 26 de maio de 2003, aos 65 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, no Rio, desde fevereiro, quando deu entrada na unidade coronariana do centro de saúde. A saúde do ator vinha se deteriorando. Em agosto de 2002, ele teve um infarto. Sofria também de diabetes, segundo os médicos do Samaritano.

Os problemas de saúde levaram a TV Globo a afastar Dolabella do elenco da novela “O Beijo do Vampiro”, na qual não chegou a atuar. Antes de se internar, ele andou dando conselhos a Dado. Dizia que o filho deveria dar menos atenção às badalações e tomar juízo.” Dado homenageou o pai, logo depois, na música “Intuição”. Em 2012, a família Dolabella teve os bens penhorados devido a uma dívida deixada por Carlos Eduardo com uma clínica de medicina renal. O caso estava na Justiça desde 2004.

Dado Dolabella nunca deixou de reverenciar o pai. Em 2013, ele escreveu no Facebook: “Há 76 anos nasceu um homem que mudou o destino de toda sua família (...) Filho dos negócios, trocou todo o poder e luxo pela sua arte. O seu maior sonho era conviver numa sociedade mais justa e honesta com o próximo. E acreditou na arte esse dom. Toda gratidão do mundo ainda é pouca para agradecer a vida que eu tenho dentro do caráter que herdamos de você... Parabéns, pai! Você pra mim sempre será ‘O CARA’.”

Em 2017, Dado acrescentou: “Hoje meu pai faria 80 anos se fosse vivo. Como ele sabe fazer acontecer de novo... ele é eterno. Parabéns meu pai... se conheci melhor que você, não foi nessa vida! Te amo! Além do além! Até depois do fim...”