Internacional
Diplomatas mexicanos deixam o Equador após invasão à embaixada
Invasão policial teve o objetivo de capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas e casou o rompimento das relações entre os dois países
A equipe diplomática do México deixou Quito, capital do Equador, neste domingo, após o rompimento das relações com o país depois da invasão policial à sua embaixada na noite de sexta-feira. A ação teve o objetivo de capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, que recebeu refúgio político no território mexicano, informou o Ministério das Relações Exteriores do México.
"Nosso pessoal diplomático deixa o Equador e volta para casa com a cabeça e o nome do México erguidos após um ataque à nossa embaixada", informou na rede social X a ministra das Relações Exteriores, Alicia Bárcena, que um dia antes havia informado que a delegação mexicana retornaria em voo comercial.
Para o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, o ato configurou "uma flagrante violação do direito internacional e da soberania do México". O mandatário afirmou, pela rede social X, ter instruído a Chancelaria a declarar imediatamente a suspensão das relações diplomáticas com o governo equatoriano. Na teoria, Glas não poderia ser preso em uma embaixada estrangeira, porque o local está legalmente fora do alcance das autoridades nacionais.
O Equador defendeu a medida alegando que houve "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à missão diplomática, segundo comunicado da Secretaria de Comunicação da Presidência (Segcom).
A ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, detalhou pela rede social X que a diligência equatoriana feriu a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 1961. Ela denunciou "lesões sofridas pelo pessoal" da sede diplomática durante a incursão policial e alertou que seu país recorrerá à Corte Internacional de Justiça para denunciar o Equador.
'Ultraje' x 'abuso da missão'
O Equador defendeu a medida alegando que houve "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à missão diplomática, segundo comunicado da Secretaria de Comunicação da Presidência (Segcom).
Em meio a um forte esquema de segurança, vários veículos saíram da embaixada e, atrás de um deles, corria Roberto Canseco, chefe da missão diplomática:
— Não pode ser, é um ultraje! — gritava ele.
Em imagens divulgadas pela mídia local, homens uniformizados entram na embaixada, localizada no Norte de Quito, para prender Glas, a quem o México concedera asilo na mesma sexta-feira.
Os agentes impediram que Canseco se aproximasse de um dos carros, e ele caiu no chão, segundo imagens do canal Ecuavisa.
— É um ultraje, é contra a norma, não pode ser — disse o diplomata depois de se levantar.
A ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, denunciou "lesões sofridas pelo pessoal" da sede diplomática durante a incursão policial e alertou que seu país recorrerá à Corte Internacional de Justiça para denunciar o Equador.
Em declarações à Milenio TV, Bárcena disse ainda que "é claramente perceptível a agressão física" que sofreu Canseco, que está "bem", assim como o resto dos funcionários.
Glas, preso por corrupção, foi transferido para uma unidade do Ministério Público em Quito. Ele é alvo de investigação pelo suposto crime de apropriação ou utilização ilegal de bens do Estado.
A decisão de conceder-lhe asilo prejudicou as relações bilaterais. Na quinta-feira, Quito já decidira expulsar a embaixadora mexicana Raquel Serur após as declarações de López Obrador sobre a violência política no Equador.
A Segcom afirmou que "cada embaixada tem um único propósito: servir de espaço diplomático com o objetivo de fortalecer as relações entre os países" e acrescentou que "nenhum criminoso pode ser considerado perseguido politicamente". Jorge Glas foi condenado e teve mandado de prisão expedido pelas autoridades competentes, afirmou a secretaria.
O ex-presidente do Equador Rafael Correa, condenado a oito anos de prisão por corrupção e ainda hoje foragido, escreveu em X que “nem mesmo nas piores ditaduras a embaixada de um país foi violada”.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores do Equador afirma que Glas enfrenta um julgamento por corrupção e que a concessão de asilo a ele "apoia uma evasão da justiça do Estado equatoriano e promove a impunidade".
Jorge Glas, antigo vice-presidente entre 2013 e 2017 da gestão Correa (2007-2017), é acusado de desviar fundos públicos destinados à reconstrução de cidades costeiras após um terremoto em 2016. Num outro julgamento, o ex-funcionário foi condenado em dezembro de 2017, quando foi reeleito, a seis anos de prisão pela trama de corrupção da empresa brasileira Odebrecht. Em 2022, ele obteve a liberdade condicional, beneficiando-se de habeas corpus.
Antes da prisão, o Equador descreveu o asilo concedido pelo México como "ilícito" e insistiu que não concederia passagem segura para Glas ir ao México. Nos últimos anos, o México concedeu asilo ou refúgio a políticos alinhados a Rafael Correa, como o ex-chanceler Ricardo Patiño e os deputados Soledad Buendía, Carlos Viteri e Gabriela Rivadeneira.
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