Esportes
Legado x 'fiasco': com presença de Macron, Paris inaugura centro aquático de quase R$ 1 bilhão sem piscina olímpica
Única estrutura permanente para Jogos Olimpícos é pequena demais para receber provas de natação

Da realização complicada, veio a fatura. A história do Centro Aquático Olímpico — única instalação permanente construída para os Jogos de Paris, que será inaugurada nesta quinta-feira por Emmanuel Macron — registrou entraves desde o início e obrigou os organizadores a fazer malabarismos para tirar do papel uma das estruturas mais emblemáticas da competição.
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Há mais de sete anos, no dossiê de candidatura, a piscina olímpica tinha previsão de custar menos de 70 milhões de euros. Subiu para 90 milhões quando o projeto final foi apresentado, em setembro de 2017. Mas, no fim das contas, terá custado 175 milhões (R$ 950,9 milhões, na cotação atual).
O mais curioso de tudo é que, no final, o centro não vai receber as provas olímpicas de natação — porque é pequeno demais para um evento deste tipo.
Será a Arena La Défense, em Nanterre, no outro extremo da capital, que sediará as provas de natação com duas piscinas removíveis. Após os Jogos, elas serão transferidas para Sevran e Bagnolet, duas cidades nos arredores de Paris.
Como explicar essa bagunça?
— Essa história da piscina é inédita nos Jogos. Algo foi montado para buscar o equilíbrio financeiro e, no final, a França vai ficar sem piscina olímpica — resume Armand de Rendinger, especialista em Jogos Olímpicos.
O especialista garante que é preciso recuar mais de 20 anos para entender o que aconteceu.
Problema desde 2001
Em 2001, em Moscou, durante o processo de atribuição dos Jogos de 2008, a França apresentou uma candidatura, "sem qualquer possibilidade de ganhar, mas sim, para preparar a candidatura de 2012", cuja edição foi vencida por Londres.
Foi nessa altura que nasceu o projeto de construção de uma piscina olímpica, uma instalação de que a França necessita, mas que continua a ser uma ideia fantasma cada vez que a capital francesa se candidata aos Jogos de Verão.
“Só que, quando foi imposto em Lima em 2017, as promessas tiveram que ser reconsideradas com mais seriedade, inclusive a da piscina”, lembra De Rendinger.
Em 2017, quando Paris foi escolhida para receber os Jogos de 2024, as promessas tiveram de ser reconsideradas com mais seriedade, inclusive a da piscina. O projeto rapidamente se tornou um quebra-cabeça. Um relatório da Inspeção de Finanças alertou em 2018 para um provável e significativo estouro de custos, avaliando a construção em 260 milhões de euros, impossível de arcar.
— O custo da piscina teve de ser reduzido — lembra De Rendinger.
Foram então contemplados vários cenários, com dois construtores nos blocos de partida, Vinci e Bouygues. Eles seriam escolhidos em abril de 2020 para o projeto, então estimado em 175 milhões de euros, mas com uma modificação importante face ao desenho original: não poderia ter mais de 5 mil lugares. Esta capacidade, porém, é insuficiente para a federação internacional de natação, que impõe um mínimo de 15 mil para a realização de provas da elite do esporte (o que deixa a França sem possibilidade de organizar uma Copa do Mundo, por exemplo).
Natação artística, mergulho e polo aquático
O Centro Aquático Olímpico (CAO), ligado ao Stade de France por uma passarela sobre a via A1, vai acolher as provas classificatórias de natação artística, saltos ornamentais e polo aquático.
— É obviamente um fiasco, mas o problema estava na origem — considera David Roizen, especialista da Fundação Jean Jaurès, um think tank.
O prédio possui área de 20 mil metros quadrados, com estrutura de madeira, e quatro piscinas: uma para aprendizado de natação, outra para uso recreativo, uma terceira para competição e a última para mergulho.
— Ainda é um grande avanço para Seine-Saint Denis, um dos departamentos com menos equipamentos de esporte — destaca anonimamente um governante eleito da região.
Algumas piscinas novas e renovadas também serão o legado dos Jogos no departamento mais pobre de França, onde uma em cada duas crianças não sabe nadar quando chega à escola secundária (até 12 anos), segundo as autoridades.
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