Internacional

Pela primeira vez, Senegal terá novo presidente polígamo com duas primeiras-damas

Prática de ter mais de uma esposa é comum entre homens no país de maioria muçulmana

Agência O Globo - 02/04/2024
Pela primeira vez, Senegal terá novo presidente polígamo com duas primeiras-damas

A eleições presidenciais no Senegal tiveram seus resultados divulgados na última sexta-feira, consagrando como vencedor e novo presidente Bassirou Diomaye Faye, que subiu ao palco de mãos dadas com as suas duas esposas, um gesto inédito no país africano.

Aos 44 anos, Faye foi empossado nesta terça-feira como o presidente mais jovem do país. O opositor ao antigo governo, que fez campanha com a promessa de uma mudança radical e de uma política pan-africana, quis enviar uma mensagem a um país de maioria muçulmana onde a poligamia é uma prática tradicional e religiosa generalizada.

Veja também: Bangladesh abre mesquita para comunidade Hijra transgênero

Leia mais: Nove crianças morrem no Afeganistão após explosão de mina da invasão soviética

A primeira esposa do presidente eleito, Marie Khone, é natural da mesma cidade de Faye. Eles se casaram há 15 anos e têm quatro filhos. O político celebrou o segundo casamento com Absa há um ano.

– Esta é uma consagração da tradição da poligamia ao mais alto nível do Estado, uma situação que reflete a tradição senegalesa – disse o sociólogo Djiby Diakhate.

A poligamia é um tema que gera controvérsias, e a aparição de Faye com suas duas esposas, aplaudidos por uma multidão, está no centro dos debates na mídia, na internet e nos lares, gerando reações diversas.

– Ser a segunda esposa me soa melhor do que ser a primeira – afirmou a cantora senegalesa Mia Guisse, com orgulho, em um vídeo que viralizou.

O sociólogo Fatou Sow Sarr defendeu na rede social X que "a poligamia, a monogamia ou a poliandria são modelos patrimoniais determinados pela história de cada povo".

Veja também: Empresa japonesa registra quatro mortes possivelmente ligadas a suplemento alimentar

– Agora estes modelos competem com o casamento homossexual – disse o acadêmico, em um país onde a homossexualidade é punida com penas de um a cinco anos de prisão. – Acho que o Ocidente não tem legitimidade para julgar as nossas culturas – acrescentou.

Muitas mulheres no Senegal são contra a poligamia, que descrevem como "hipócrita e injusta". Além disso, um relatório do Comitê dos Direitos Humanos da ONU indicou que essa prática contribui para a discriminação contra as mulheres.

Mudança de protocolo

A autora senegalesa Mariama Ba criticou duramente a poligamia no seu romance de 1979 "Uma Carta Tão Longa", no qual descreve o sofrimento e a solidão das mulheres quando os seus maridos decidem ter uma segunda esposa, geralmente mais jovem. O ex-ministro da Cultura e acadêmico Penda Mbow afirmou que a situação conjugal do novo chefe de governo é algo inédito.

– Isso significa que todo o protocolo deve ser revisto – destacou.

A poligamia é generalizada no Senegal, especialmente nas zonas rurais. O islã permite que os homens tenham até quatro esposas, desde que tenham recursos para sustentá-las e passem tempo igual com cada uma.

'Mensagem potente'

No Senegal, muitos casamentos não são registrados, o que torna difícil estimar a prevalência da poligamia, mas um relatório de 2013 do escritório nacional de estatísticas informou que 32,5% das pessoas casadas fazem parte de uma união poligâmica.

Nos Estados Unidos: Strippers conquistam lei de proteção trabalhista em Washington

Para Diakhaté, o presidente eleito "enviou uma mensagem potente para que outros homens assumam que são polígamos".

Em resposta aos seus críticos, Faye afirmou que está orgulhoso de sua situação conjugal.

– Tenho filhos lindos porque tenho esposas formidáveis. Elas são muito lindas. Agradeço a Deus porque estão sempre ao meu lado – disse ele durante a campanha.