Internacional

Ataque ao consulado do Irã na Síria 'ultrapassou limites' e pode provocar escalada da guerra, dizem analistas

Ofensiva atribuída a Israel matou 13 pessoas, incluindo sete membros da Guarda Revolucionária iraniana; governo israelense não comentou o caso

Agência O Globo - 02/04/2024
Ataque ao consulado do Irã na Síria 'ultrapassou limites' e pode provocar escalada da guerra, dizem analistas

O ataque aéreo atribuído a Israel contra o Consulado do Irã em Damasco, a capital síria, poderia desencadear uma escalada da guerra em Gaza pela região — algo que Teerã buscava evitar, na avaliação de analistas ouvidos pela AFP. O bombardeio desta segunda-feira destruiu o anexo consular da embaixada iraniana e matou 13 pessoas, incluindo sete membros da Guarda Revolucionária do Irã.

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Dois dos mortos no ataque eram comandantes de alto escalão da Força Quds, unidade especial da Guarda Revolucionária. Eles eram os generais Mohammad Reza Zahedi e Mohammad Hadi Haji Rahimi, vice-comandante da Força Quds no Líbano e na Síria. O primeiro chegou a liderar a Força Aérea da Guarda Revolucionária por alguns meses em 2004, e a força terrestre da organização entre 2004 e 2007.

— Ao atacar uma instalação diplomática iraniana, Israel ultrapassou um limite — avaliou Ali Vaez, do International Crisis Group (ICG).

Após meses de combate na Faixa de Gaza, Israel agora intensifica suas operações contra comandantes iranianos e pró-iranianos no Líbano e na Síria, medida que observadores temem que possa escalar para uma guerra total. O Irã já disse que deseja evitar um conflito em grande escala, mas o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, afirmou nesta terça-feira que o ataque em Damasco “não ficará sem resposta”.

Teerã chegou a negar ter conhecimento prévio do ataque sem precedentes do grupo terrorista Hamas em território israelense — ação que desencadeou a guerra —, mas é um dos principais apoiadores do grupo e de uma infinidade de outras organizações armadas que atacaram Israel em solidariedade ao Hamas, incluindo o Hezbollah.

‘Em direção à escalada’

Bassam Abu Abdallah, que dirige o Centro de Pesquisa Estratégica de Damasco e é próximo ao governo sírio, disse que antes de segunda-feira “havia regras de engajamento”, mas que agora é “uma guerra total entre Israel e o eixo de resistência”. O termo é usado pelo Irã e seus apoiadores para se referir à aliança com grupos armados ao redor da região que compartilham uma postura antissionista e anti-americana.

— Agora está claro que a tendência é em direção à escalada — disse Abu Abdallah. — Poderemos começar a ver um aumento dos ataques contra bases dos EUA na Síria, no Iraque ou em outros lugares.

No final de janeiro, grupos pró-iranianos disseram que estavam suspendendo os ataques contra tropas dos Estados Unidos no Iraque e na Síria para evitar uma escalada regional, depois que Bagdá e Teerã disseram que se opunham à campanha dos grupos. Nesta terça-feira, porém, o Hezbollah alertou que o ataque ao consulado iraniano “não passará sem que o inimigo receba punição e vingança”.

— É mais provável que o Irã imponha um custo a Israel, mas provavelmente o fará de maneira indireta e por meio de seus parceiros e representantes na região — disse Vaez. — O dilema do Irã é que a falta de resposta pode sinalizar fraqueza para Israel, mas a retaliação arrisca uma ação mais dura dos Estados Unidos ou do governo israelense.

‘Guerra transnacional’

O ataque em Damasco poderia sinalizar que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está se preparando para um conflito regional mais amplo. Sob pressão de Washington, Netanyahu estaria ficando sem tempo para conduzir a guerra em Gaza em e, em vez disso, passaria a direcionar esforços para o Líbano e a Síria na tentativa de enfraquecer o esforço militar regional iraniano, avaliou Nick Heras, do Instituto de Estratégia e Política da New Lines.

— Israel vê os conflitos contra o Hamas em Gaza e contra o Hezbollah no Líbano como duas frentes em uma guerra transnacional contra o Irã que os iranianos comandam de Damasco. Netanyahu espera que Israel tenha que travar em breve uma guerra regional com o Irã — afirmou. — Os israelenses estão tentando eliminar os comandantes mais importantes e experientes da Guarda Revolucionária para enfraquecer o planejamento e as capacidades iranianas antes dessa guerra.