Internacional
Eleições na Turquia: Oposição conquista prefeituras de Istambul e Ancara, desafiando governo Erdogan
Reeleito em Istambul, Ekrem Immoglu é um dos nomes mais fortes numa eventual disputa contra o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, no poder há 20 anos
O principal partido da oposição da Turquia venceu, neste domingo, as eleições municipais nas duas regiões mais importantes do país: Istambul, a cidade mais rica, e a capital, Ancara. Os resultados acendem um alerta vermelho para o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan, que foi um ativo cabo eleitoral na campanha, especialmente com reeleição de Ekrem Imamoglu à prefeitura de Istambul, que desponta como um forte nome da oposição para disputar a presidência em 2028.
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Segundo os resultados parciais, a legenda opositora Partido Republicano do Povo (CHP) abriu vantagem em áreas importantes em detrimento do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de Erdogan, que domina a política turca há mais de duas décadas. Na terceira maior cidade, Esmirna, o CHP também aparece na frente na apuração.
Em declarações após os resultados, Erdogan reconheceu que as eleições municipais marcaram "uma mudança" para seu partido e prometeu "respeitar a decisão da nação".
— Infelizmente, não obtivemos os resultados que queríamos — assumiu o presidente em discurso na sede do seu partido.
Aos 70 anos — 20 deles no comando da Turquia —, Erdogan tornou a reconquista de Istambul, onde governou de 1994 a 1998, sua missão pessoal, apelidando a cidade de "tesouro nacional" e chegando a realizar até quatro comícios por dia. No entanto, o aumento do custo de vida e a crise econômica afetaram a confiança do povo no seu partido islâmico-conservador. O país enfrenta uma inflação galopante de 67% em 12 meses e uma desvalorização expressiva da sua moeda.
Com 96% das urnas abertas, Imamoglu, de 52 anos, anunciou sua vitória contra o candidato de Erdogan por mais de um milhão de votos.
— Ganhamos as eleições — declarou o prefeito diante de uma grande multidão que enchia a praça em frente à prefeitura com bandeiras, celebrando o resultado.
O presidente do partido opositor, Ozgur Ozel, afirmou que "os eleitores decidiram mudar a cara da Turquia", após a divulgação dos primeiros resultados na noite deste domingo.
Para o acadêmico Berk Esen, da Universidade Sabanci, a oposição conseguiu "a maior derrota eleitoral da carreira de Erdogan".
— Apesar da desigualdade das condições de concorrência, os candidatos do governo perderam mesmo nos redutos conservadores. Este é o melhor resultado do CHP desde as eleições de 1977 — disse Esen.
Em Ancara, o prefeito Mansur Yavas, também do CHP, reivindicou a vitória depois da apuração de 46% das urnas, que o colocaram na dianteira com 58% dos votos frente a 33% do candidato apoiado por Erdogan.
— As eleições acabaram, vamos continuar a servir Ancara — declarou o prefeito da capital. — Aqueles que foram ignorados enviaram uma mensagem clara àqueles que governam este país.
A oposição também aparece na frente em outros redutos eleitorais importantes, como Izmir e Antalya, onde os apoiantes do partido invadiram as ruas. Os resultados indicam que mesmo bastiões do AKP podem mudar sua posição.
— Há uma necessidade real de equilíbrio, ao menos em nível local, contra o governo — declarou, em Ancara, Serhan Solak, de 56 anos, que disse ter votado em Mansur Yavas.
Em Istambul, Guler Kaya, de 43 anos, disse que as pessoas estão preocupadas com as mudanças na qualidade de vida.
— A crise está engolindo a classe média, tivemos de mudar todos os nossos hábitos — disse. — Se Erdogan ganhar, a situação vai piorar ainda mais.
Na província de maioria curda — minoria perseguida pelo governo Erdogan — de Diyarbakir, no sudeste do país, foram registrados confrontos à margem das eleições neste domingo: uma pessoa morreu e 12 ficaram feridas, informou um funcionário à AFP.
Nestas eleições, ao contrário de 2019, a oposição não se unificou, já que não houve consenso em relação ao nomes de Imamoglu em Istambul e outros em demais partes do país. Com isso, o partido pró-curdo Dem se apresentou sozinho, o que favoreceu o partido no poder, ameaçado pela pressão do partido islâmico Yeniden Refah.
O Dem afirmou ter identificado irregularidades "em quase todas as províncias curdas", nomeadamente através de casos suspeitos de votação por procuração. Segundo a associação de advogados MLSA, foi recusado o acesso de observadores franceses a uma sessão eleitoral na região.
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