Internacional
Sanções contra Coreia do Norte não ajudaram a melhorar segurança, diz Rússia após veto acabar com supervisão em país
Russos chamam Painel de Especialistas, cujo mandato expira em um mês de ineficaz; Ocidente vê relação com suposto envio de armas norte-coreanas a Moscou
Um dia depois da Rússia vetar a extensão do mandato do comitê da ONU responsável por monitorar a aplicação das sanções internacionais à Coreia do Norte — incluindo sobre a venda de armas — Moscou defendeu a decisão, afirmando que as medidas contra Pyongyang são anacrônicas, e não ajudam na garantia da paz regional. A decisão russa foi duramente atacada pelo Ocidente e por países como a Coreia do Sul, e relacionada às denúncias de que os norte-coreanos estão fornecendo equipamentos militares ao país.
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Em comunicado, publicado nesta sexta-feira, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse que o Conselho de Segurança “já não pode agir de acordo com velhos modelos em relação aos problemas da Península Coreana”, defendendo uma revisão “imediata” das sanções hoje em vigor (algumas delas aprovadas com o apoio da própria Rússia).
“As sanções são acompanhadas de graves consequências humanitárias para a população civil da Coreia do Norte, e este efeito é ainda agravado por medidas coercitivas unilaterais ilegais”, escreveu Zakharova. "Ao longo dos anos, as medidas restritivas internacionais não ajudaram a melhorar a situação de segurança na região. Pelo contrário, na ausência de mecanismos de revisão das medidas de sanções no sentido da mitigação, este instrumento continua a ser um grave elemento que impede a construção de confiança e a manutenção do diálogo político."
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Ela ainda criticou o que vê como “atividade militar cada vez mais agressiva dos Estados Unidos e seus aliados” na região, fazendo eco a um discurso repetido pelos norte-coreanos.
“Isso é corretamente visto em Pyongyang como uma ameaça à segurança nacional e ao sistema histórico do Estado, e o obriga a tomar medidas de retaliação”, pontuou Zakharova.
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Na quinta-feira, a Rússia vetou a extensão do mandato do Painel de Especialistas da ONU responsável por monitorar a aplicação das sanções internacionais contra a Coreia do Norte, que abrangem praticamente todos os setores da economia local, e são ligadas em boa parte às atividades nucleares e armamentistas do país. O mandato dos inspetores expira no dia 30 de abril.
Ao justificar a decisão, o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, disse que o painel havia se tornado “irrelevante” e que se reduziu a “atuar conforme as abordagens ocidentais, replicando informação enviesada e analisando manchetes de jornais e fotos de péssima qualidade”.
— Esta posição é mais consistente com os nossos interesses, nós estamos falando de um grupo de especialistas — reiterou a posição russa, nesta sexta-feira, o secretário de Imprensa do Kremlin, Dmitry Peskov.
Apenas a Rússia votou contra o texto, exercendo seu poder de veto como membro permanente — a China se absteve, e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Lin Jian, afirmou que “impor sanções cegamente não resolverá o problema” na Península Coreana.
— A única via é a solução política, afirmou Lin Jian, em entrevista coletiva nesta sexta-feira.
Parceria renovada
Depois de décadas de uma relação complexa, que por vezes beirou o desprezo, a Rússia retomou de forma decisiva os laços com os norte-coreanos a partir da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. O objetivo central, segundo analistas, está nos vastos arsenais norte-coreanos, que incluem munições de artilharia e foguetes de curto alcance.
Há indícios de que esses equipamentos estejam sendo enviados para os russos desde 2022, mas no ano passado, após uma visita do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, a Pyongyang, essa linha de fornecimento começou a chamar mais atenção. A parceria renovada, ou "aliança na luta contra o imperialismo", foi sacramentada em setembro de 2023, quando o presidente russo Vladimir Putin recebeu Kim Jong-un em uma visita ao Extremo Oriente russo.
Segundo análises de imagens de satélite, navios de carga estão deixando o porto de Rason, próximo à fronteira com a Rússia e a China, rumo a um antigo terminal soviético em solo russo, levando o que seriam contêineres carregados com armamentos e munição. De lá, eles percorrem cerca de 10 mil km até as linhas de frente na Ucrânia, onde há indícios fortes de que tenham sido usados em ataques contra militares e civis.
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De acordo com as resoluções em vigor, esse envio de armas é ilegal e pode acarretar em medidas punitivas para os norte-coreanos e para os russos. Contudo, sem a renovação do painel, o monitoramento das sanções fica seriamente afetado, algo que, segundo os críticos, parece caber nos planos de Moscou.
— O significado do mandato vetado é que, finalmente, a posição real da Rússia (e da China) sobre o painel e sobre o regime mais amplo de sanções finalmente ficou claro — disse Eric Penton-Voak, ex-coordenador do Painel de Especialistas da ONU, ao site NK News. — A única surpresa para aqueles que acompanham essa questão é isso não ter acontecido há mais tempo.
O veto ocorre em um momento particularmente complicado da guerra na Ucrânia. Enquanto os russos parecem ter encontrado uma linha segura de suprimentos — da Coreia do Norte e do Irã —, os ucranianos fazem apelos em seguida para que o Ocidente incremente sua ajuda ao país.
Nos EUA, principais doadores de equipamentos militares, um pacote de US$ 60 bilhões (R$ 300 bilhões) em ajuda está parado no Congresso, em meio a disputas internas. Na Europa, os países ainda se mostra, reticentes em fornecer a Kiev equipamentos mais modernos, como o sistema de mísseis Taurus, da Alemanha. E nas linhas de frente, os russos aproveitam o cenário para consolidar posições e lançar ataques contra as linhas ucranianas.
“A votação de hoje [quinta-feira] é mais um exemplo de como a presença ilegal da Rússia no Conselho de Segurança da ONU põe em risco a segurança global. Instamos todas as nações amantes da paz a condenarem veementemente o veto da Rússia e a apoiarem a Ucrânia na luta contra a agressão russa e a propagação do terror e da ilegalidade em todo o mundo”, escreveu no X, o antigo Twitter, o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, na quinta-feira, pouco depois da votação.
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