Internacional

Investigação vai apurar se combustível sujo pode ter causado colapso de navio que derrubou ponte nos EUA

Embarcação, que navegava sob bandeira de Cingapura, estava a caminho do Porto Colombo, o maior do país asiático, e deveria chegar lá em 22 de abril

Agência O Globo - 27/03/2024
Investigação vai apurar se combustível sujo pode ter causado colapso de navio que derrubou ponte nos EUA
Investigação vai apurar se combustível sujo pode ter causado colapso de navio que derrubou ponte nos EUA - Foto: Reprodução / internet

Investigações sobre o colapso que levou o navio Dali a colidir com a ponte Francis Scott Key e derrubá-la, na cidade de Baltimore, em Maryland, nos Estados Unidos, vão apurar se a presença de combustível sujo pode ter sido a causa da perda de energia da embarcação.

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Segundo o jornal americano Fox News, um dos oficiais a bordo do navio relatou que um dos motores "tossiu" e parou em seguida. Neste momento, de acordo com o homem, “o cheiro de combustível queimado estava por toda parte na sala de máquinas”.

Combustível contaminado é uma das causas possíveis para apagões em navios, de acordo com o arquiteto naval Fotis Pagoualtos. À Fox News, o profissional explicou que um apagão completo pode resultar na perda de propulsão do navio. Nesse caso, os geradores podem até funcionar, mas não conseguem realizar todas as funções.

Segundo o Corpo de Bombeiros de Baltimore, havia muito óleo diesel na água, ao redor do navio, após o incidente. Não se sabe, no entanto, quanto combustível pode ter vazado na água, e nenhum relato de poluição significativo foi observado.

Presumidamente mortos

Autoridades americanas declararam o fim dos trabalhos de salvamento para encontrar seis pessoas dadas como desaparecidas após a queda da ponte Francis Scott Key, em Baltimore, atingida por um navio-cargueiro na terça-feira. Os trabalhos das equipes no local agora se concentram na busca por corpos, uma vez que os desaparecidos foram considerados presumidamente mortos após mais de 24 horas na água gelada.

— Com base na duração das buscas […], na temperatura da água neste momento, não acreditamos que vamos encontrar essas pessoas com vida — declarou o vice-almirante da Guarda-Costeira Shannon Gilreath, em entrevista coletiva sobre os trabalhos na ponte Francis Scott Key.

Pouco depois do acidente, o secretário de Transportes de Maryland, Paul Wiedefeld, afirmou que o governo tinha a informação de que todas as vítimas do acidente seriam trabalhadores que faziam um serviço de reparo na estrutura da ponte. De acordo com familiares, organizações de imigração e a chancelaria de países latino-americanos, as vítimas seriam de Guatemala (2), El Salvador (1), Honduras (1) — a chancelaria do México confirmou que há cidadãos do país envolvidos, mas não precisou um número de vítimas.

O trabalho de buscas foi suspenso no anoitecer de terça-feira, após quase 18 horas da queda da ponte, e retomada na manhã desta quarta, com foco na localização e recuperação dos corpos.

Também é esperado, para esta quarta-feira, que uma investigação mais aprofundada sobre as causas do acidente avance. Informações preliminares, colhidas com a tripulação, apontam que o navio sofreu uma perda de propulsão, provavelmente provocada por uma pane elétrica. Equipes das agências que vão participar da apuração devem entrar no navio nas próximas horas.

Em paralelo, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês) disse que também está investigando a estrutura da ponta, incluindo quais eram às proteções aos pilares centrais. O secretário de Transportes do governo Biden, Pete Buttigieg, chamou o evento de "circunstância única" e afirmou que nenhuma ponte poderia suportar um evento desta magnitude.

Em um acidente como este, serão as seguradoras que vão reembolsar os danos, afirmou à AFP o especialista Mathieu Berrurier: seguro de danos sofridos pelo navio e seguro de responsabilidade civil por danos causados a terceiros.

O acidente

A estrutura colapsou por volta da 1h30 (2h30 em Brasília) de terça-feira, quando um navio-cargueiro de cerca de 300 metros de comprimento, carregado de contêineres, chocou-se contra um dos pilares de apoio centrais da ponte, provocando uma reação em cadeia.

O navio-cargueiro Dali, de bandeira de Cingapura, havia deixado o Porto de Baltimore minutos antes do acidente. A embarcação estava nos primeiros momentos de uma viagem planejada de 27 dias até o Sri Lanka, onde deveria chegar em 22 de abril, segundo o VesselFinder, um site de rastreamento de navios.

A embarcação, propriedade da Grace Ocean Investment, operado pela Synergy Group e fretado pela Maersk, tinha dois pilotos à bordo.

De acordo com o governador de Maryland, Wes Moore, a tripulação do navio conseguiu enviar um sinal de 'Mayday' antes do choque contra a estrutura, o que permitiu que funcionários da prefeitura bloqueassem o acesso à ponte, evitando que mais pessoas estivessem no local no momento do acidente.

'Deus, que estejam vivos'

O operário José Campos falou de seus colegas desaparecidos, trabalhadores como ele da empresa Brawner Builders Inc.

— Muito triste, primeiramente Deus, que estejam vivos ainda. Não sei como explicar porque sinto um aperto no coração com o que está acontecendo — declarou em espanhol a um fotógrafo da AFP.

— É uma tragédia terrível e imprevista — disse, por sua vez, Jeffrey Pritzker, da Brawner Builders. — Nenhum de nós podia imaginar que isto pudesse ocorrer. Estamos todos comovidos e angustiados.

O presidente Joe Biden classificou o ocorrido de "terrível acidente" e prometeu reconstruir a infraestrutura o quanto antes, mas isto "levará um tempo".

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—Estou dando instruções para minha equipe para que mova montanhas para reabrir o porto e reconstruir a ponte o mais rápido possível — disse Biden em um breve discurso na Casa Branca.

O chefe do Corpo de Bombeiros de Baltimore, James Wallace, afirmou que duas pessoas foram resgatadas com vida do rio, uma delas em "estado muito grave" e outra ilesa. Ele também afirmou que foi confirmada a presença de vários carros submersos.

'Som de trovão'

O tráfego marítimo foi suspenso "até segundo aviso", mas "o porto segue aberto para a passagem de caminhões", disse aos jornalistas o secretário de Transporte Wiedefeld.

— Fomos acordados pelo que parecia ser um terremoto e um longo e vibrante som de trovão — declarou um homem à imprensa local.

A ponte, de quatro pistas e 2,6 quilômetros de comprimento, atravessa o rio Patapsco, ao sudoeste de Baltimore, uma cidade industrial e portuária na costa atlântica dos Estados Unidos.

Por ela circulam mais de 11 milhões de veículos por ano, cerca de 31 mil por dia. Leva o nome de Francis Scott Key, autor da letra do hino americano.

O porto de Baltimore é o principal da Costa Leste dos Estados Unidos e o nono mais importante do país, tanto pela carga estrangeira que maneja quanto pelo valor da mesma. O terminal oferece emprego direto para mais de 15 mil pessoas.