Internacional
Em aniversário de golpe militar, Milei refuta memória da ditadura e suas 30 mil vítimas; vídeo
Vídeo compartilhado nas redes oficiais da Casa Rosada indica que a história da ditadura argentina 'não foi contada de forma completa'
No aniversário de 48 anos do golpe militar na Argentina (1976-1983), a Casa Rosada divulgou, neste domingo, um vídeo questionando fatos históricos sobre a ditadura, incluindo a cifra de 30 mil vítimas do regime, como adiantado pelo O GLOBO. A publicação foi compartilhada no X pelo presidente argentino, Javier Milei, que cobrou "uma memória completa" do período "para que haja verdade e justiça".
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Nomeado "Dia da Memória pela Verdade e Justiça", o vídeo em formato de mini-documentário foi produzido por Santiago Oría, documentarista e um dos estrategistas por trás da imagem de Milei. A peça abre com uma citação do autor tcheco Milan Kundera, morto em julho do ano passado, que foi filiado ao Partido Comunista na juventude, mas se tornou um dos maiores críticos do sistema após a invasão do país pela União Soviética. O escritor Juan Bautista "Tata" Yofre lê um trecho do escritor tcheco no qual ele afirma que "para liquidar as nações, o primeiro passo é tirar-lhes a memória", indicando que a história da ditadura argentina também "não foi contada de forma completa".
Na sequência, surge María Fernanda Viola, filha de um militar assassinado por guerrilheiros dois anos antes do regime militar. Ela questiona as organizações de direitos humanos, alegando que ela e seus irmãos não foram acolhidos após a morte do pai, e defende que pessoas "de ambos os lados" foram mortas. Viola conta que foi proibida de prestar homenagem ao pai no cemitério pelo kirchnerismo.
O ex-guerrilheiro Luis Labraña aparece nas imagens alegando que teria sido o responsável por inventar o número de 30 mil desaparecidos como forma de garantir o financiamento das Mães e Avós da Praça de Maio, principal grupo em defesa dos familiares das vítimas desaparecidas na ditadura. Embora a cifra original cite que 8.631 pessoas morreram ou desapareceram durante o regime militar, o número de 30 mil é amplamente usado por movimentos sociais, e o até mesmo o Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado, que levantou o número de vítimas, reconhece a subnotificação dos dados oficiais.
Filha de militar que lutou na Guerra das Malvinas, a vice-presidente argentina, Victoria Villaruel, é uma das cabeças da política de revisionismo histórico do governo Milei, que começou ainda na campanha eleitoral. Como advogada, ela defendeu diversos militares denunciados por crimes cometidos durante a ditadura. Segundo a imprensa argentina, ela foi uma das responsáveis pelo vídeo publicado neste domingo. Antes da sua publicação nas redes oficiais da Casa Rosada, ela fez uma postagem na qual cobrou a "reparação às vítimas do terrorismo" usando #NãoForam30000
Durante a campanha, a vice-presidente argentina chegou a referir-se às Mães da Praça de Maio como mães de terroristas.
— Esperamos que [o dia 24 de março] seja um dia de paz e reflexão para todos — declarou o porta-voz do governo, Manuel Adorni.
Nos debates presidenciais do ano passado, Milei já havia negado que a ditadura argentina tenha deixado 30 mil pessoas desaparecidas, como sustentam ONGs locais, entre elas as Mães e Avós da Praça de Maio. Segundo ele, o país viveu uma guerra, na qual um dos lados — o Estado — cometeu excessos. A fala do então candidato provocou reações imediatas, mas Milei jamais recuou.
Neste domingo, como uma tradição de todos os anos, milhares de argentinos tomaram as ruas em memória às vítimas da ditadura. Na capital Buenos Aires, a mobilização se concentrou na Praça de Maio, no centro da cidade.
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