Internacional
'Agentes estrangeiros': nova geração da diáspora russa eleva tom de críticas a Putin e à guerra
Cidadãos que deixaram o país nos últimos anos tendem a expressar publicamente suas opiniões sobre o governo, sem o temor de muitos de seus compatriotas
Enquanto Putin goza de popularidade dentro da Rússia, a nova geração da diáspora russa — estimativas diversas dão conta de, ao menos, centenas de milhares de russos emigrados para mais de cem países desde fevereiro de 2022 — tende a ser crítica do governo e mais engajada politicamente do que o cidadão russo médio, apontam especialistas. Grande parte dos emigrados desde 2022 é de jovens que escaparam para evitar o recrutamento forçado na guerra da Ucrânia, por terem sofrido perseguição política ou com medo de expressarem suas opiniões contra o autoritarismo e belicismo do Kremlin.
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Só na Alemanha, a comunidade russa já ganhou 33 mil novos membros entre o fim de 2022 e o de 2023, fazendo crescer em 14% a histórica comunidade russa assentada ao longo de décadas, estimam pesquisadoras do Centro de Estudos do Leste Europeu e Internacionais (ZOiS, na sigla em alemão). O número ainda poderá aumentar, uma vez que é frequente que os emigrantes primeiro se estabeleçam em países próximos que não exigem visto, como a Geórgia ou a Turquia, para depois se transferirem, sem previsão de volta, à Alemanha.
Nos dias que antecederam as eleições deste fim de semana, o GLOBO ouviu vários membros da oposição russa na Alemanha. Muitos compartilharam suas histórias de perseguição, prisão, censura ou violência na Rússia. Todos disseram ter medo de sofrer represálias, incluindo contra suas famílias, por terem fugido da Rússia ou por se engajarem no ativismo do exílio.
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Foi o caso de Kaya, Slava e Oleg, três jovens russos de 18 e 19 anos, que abandonaram seu país para evitar verem a universidade substituída pela ida ao fronte e, agora, têm receio de voltar para casa. Segundo eles, a história se repetiu para todos os seus colegas de turma. Eles viajaram duas horas da sua casa no centro da Alemanha para votar em Berlim.
Já Vitaly Bovar, legislador municipal em São Petersburgo, foi removido do seu cargo após incitar cidadãos a saírem às ruas contra a guerra na Ucrânia. Emigrou após ser ameaçado de prisão e, hoje, ainda vive em estado de alerta, mesmo na Alemanha, enquanto continua sua atividade política em rede com russos em outras cidades da Europa.
— Eles (autoridades russas) me consideram um “agente estrangeiro”. É como uma marca. É um sinal para todos ficarem longe de você. Não seria difícil contratar alguém para apenas me espancar. Para me punir. Por isso continuo sendo muito cuidadoso com meus movimentos em Berlim — disse ele.
Para Tatiana Golova, socióloga do ZoiS que estuda a diáspora russa desde o início da guerra na Ucrânia, o medo de sofrer represálias ou a sensação de que os esforços de ativismo são inúteis contra o autoritarismo de Putin arriscam, com o tempo, limitar o ativismo político das comunidades emigradas.
— Um movimento antiguerra não é possível na Rússia, então quem está no exterior pode falar não só por si mesmo, mas também por aqueles que odeiam esta guerra, querem mudança politica e nao podem se expressar. É uma voz muito importante, mas nada está decidido ainda explica. - Algumas pessoas ainda esperam poder voltar. Elas ainda estão em movimento.
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