Quando um cria da base estoura no profissional, a torcida se enche de orgulho do clube por reconhecer talentos, investir neles e ter paciência para lançá-los. A série A base vem forte — parte do projeto Tem Que Ler, que traz reportagens exclusivas para assinantes do GLOBO — mostra dois deles por semana: um sub-15 e um sub-17, promessas em que o torcedor das principais equipes da Série A já tem que ficar de olho. Conheça Hendel e Riquelme, joias do Atlético-MG.

Hendel (Índio), 15 anos, Sub-17 do Atlético-MG

A geração 2008 tem criado grande expectativa no Atlético-MG. Uma reunião de talentos em potencial que vem se impondo nos torneios de base do país. Conquistar espaço neste grupo não é fácil. Ainda mais para quem acabou de chegar. Foi o que fez Hendel Nascimento, o Índio, no ano passado. Em poucos meses, o jovem meio-campista mostrou as credenciais e encantou a comissão técnica. De atleta em avaliação, virou liderança. E já é uma das principais promessas atleticanas para o futuro.

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Seu ano de 2023 justifica a expectativa. Foram seis títulos. Cinco com o Atlético-MG: Benfica Campus, Copa 2 de Julho, BH Cup, Campeonato Mineiro e o Surf Camp, na Espanha. O outro foi o Quadrangular Internacional sub-15, no Paraguai, pelo Brasil, que contou também com Colômbia, Chile, além dos donos da casa. Sim, sua ascensão meteórica no Galo chamou a atenção da comissão técnica da seleção.

Tanto no Atlético-MG quanto com a Amarelinha, Hendel é um dos donos do meio-campo. Costuma jogar na função do 8 e, atendendo às exigências dos tempos atuais, tem qualidades defensivas e facilidade para aparecer no ataque.

— Hendel joga mais pelo lado direito. Faz muita infiltração nas costas do lateral. Mas é um jogador que, assim como está na defesa, arma a saída e chega no ataque muito bem — apresenta Henrique Teixeira, técnico de Índio no sub-15 em 2023 e que este ano vai acompanhá-lo no sub-17: — Ele tem alguns pontos fortes quando está mais próximo do gol adversário. O primeiro é quando faz pressão alta. É um dos caras que se antecipa e é muito bom para roubar a bola. E, apesar de não ter feito tantos gols assim (foram nove na temporada), chega ao ataque e finaliza bem. Com as duas pernas, inclusive. Não marcou mais apenas por circunstâncias dos jogos.

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Quem vê o protagonismo do meio-campista não é capaz de associá-lo ao jovem discreto recém-chegado de São Paulo no começo de 2023. Mas isso não durou muito. Assim como em campo, onde só precisou de duas semanas de avaliação para convencer o clube a apostar nele, Hendel conquistou a amizade e a confiança dos companheiros em pouco tempo.

—No início do ano ele era mais na dele. Mas se adaptou muito fácil. Em meses já estava enturmado, coisa que considero importante pensando no futebol profissional. Quanto mais rápido você se adapta, mais fácil consegue jogar em qualquer clube — analisa Teixeira.

Prestes a completar 16 (faz aniversário em 3 de abril), Hendel teve os primeiros contatos com a bola no projeto Ceariba, da favela Real Parque, no bairro do Morumbi. Chegou a passar pelo São Caetano e pelo Juventus, da Mooca, onde chamou atenção dos olheiros do Galo. Embora a partida em si não tenha sido boa para sua equipe, sua atuação individual deixou os atleticanos com a sensação de que valia a pena chamá-lo para um período de testes. Acertaram em cheio.

O apelido vem dos traços indígenas. Os ancestrais de Hendel são da etnia Pankararu. Historicamente ligados à região do Brejo dos Padres, em Tacaratu, interior de Pernambuco, parte deste povo migrou para São Paulo — mais especificamente a favela de Real Parque — na década de 1940.

—Quando eu era mais novo e ia com meu pai aos jogos, todo mundo ficou sabendo que ele era indígena. Aí me apelidaram por conta dessa relação familiar — conta Hendel.

A história construída por ele até aqui conquistou a confiança não só do Atlético-MG. O meio-campista já tem contrato com a Adidas e é representado pelo escritório do agente Giuliano Bertolucci, considerado hoje o empresário brasileiro mais influente do mercado, com clientes como o volante Bruno Guimarães, o zagueiro Marquinhos, o lateral Piquerez e o atacante Pedro.

Neste futuro promissor, o próximo desafio começa agora, com a ascensão para o sub-17. Na nova categoria, terá que confirmar as expectativas geradas em 2023 e conquistar seu espaço. O que ele já mostrou que sabe fazer muito bem.

— Espero um ano excelente, como já foi 2023. Que a gente possa conquistar muita coisa, evoluir mais, já que estamos subindo de categoria — projeta o garoto.

Riquelme, 15 anos, Sub-15 do Atlético-MG

Se para um jogador da própria categoria já não seria fácil ter espaço no badalado sub-15 do Atlético-MG de 2023, imagina para quem é mais novo? Mas Riquelme Henrique não se intimidou com a questão da idade e também deixou boa impressão. A ponto de, embora só agora esteja entrando oficialmente no sub-15, já ser visto como promissor dentro do clube.

Seu primeiro nome, como não é difícil imaginar, foi dado em homenagem ao histórico camisa 10 argentino Juan Román Riquelme, ex-jogador do Boca Juniors e da seleção nos anos 1990 e 2000 e atual presidente do clube de Buenos Aires. Assim como muitos pais do começo deste século, o da joia atleticana, Reginaldo, era fã do futebol do hermano e decidiu homenageá-lo. Hoje, se enche de orgulho ao ver o próprio filho também no futebol. Só que não na mesma posição. Até o momento, o Riquelme mineiro de Belo Horizonte se encontrou mesmo foi no ataque. No sub-14, no ano passado, jogou tanto como centroavante quanto pelos lados.

— Não consegui acompanhar o Riquelme jogando porque sou mais novo — conta o jovem que acabou de completar 15 anos: — Mas com certeza já vi vários lances dele. Sei que batia muito bem as faltas. Em relação à posição, fazia um camisa 10 mais meio de campo. Minha posição favorece mais o drible, o “X1” (termo usado no futebol para se referir aos duelos individuais), a jogar mais perto do gol.

No Atlético-MG, também há a convicção de que, apesar do nome, a vocação de Riquelme é mesmo para o ataque. Até aqui, a avaliação é de que o garoto tem um belo futuro.

— Riquelme tem jogado como atacante de lado, mas a gente também tem visto a possibilidade de jogar no centro. Ele tem alguns recursos interessantes, com um nível de força alto, que lhe permite vencer muitos duelos. E tem também um nível de assertividade e de vitórias pessoais nos duelos pelo alto. É um jogador que ataca o espaço, de chegada no último terço interessante — avalia Marcelo Vilhena, coordenador técnico das categorias de base do Atlético-MG: — Foi um dos destaques do sub-14 no ano passado e chegou a jogar alguns jogos na nossa categoria sub-15, o que mostra um pouco das credenciais dele.

Riquelme não fez feio neste breve período no sub-15. Ainda com 14 anos, foi chamado para reforçar o time na reta final do Campeonato Mineiro 2023 e marcou três gols, ajudando na conquista do título. Agora, com 15, fez a transição definitiva. E já no primeiro jogo da temporada mostrou que continua afiado. Ontem, marcou um na goleada por 4 a 1 sobre o Red Bull Bragantino, pelo Coffee Tournament, em Manhuaçu (MG).

A inspiração de Riquelme é um jogador bem brasileiro: Hulk. A ponto de até imitar a comemoração do atacante do time profissional algumas vezes.

— As características dele se comparam muito às minhas. Ele é um cara ofensivo que chuta com as duas pernas e finaliza bem — compara o jovem jogador.

A esta altura, o pai Reginaldo certamente não deve se importar com o fato de o seu Riquelme não ser meia como o original.