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O ‘Cemitério dos Loucos’ de Praga, na República Tcheca, esconde lendas debaixo de heras

Inaugurado em 1909 e fechado na década de 1950, o espaço guarda histórias chocantes e se tornou destino de pessoas que gostam de terror

Agência O Globo - 14/03/2024
O ‘Cemitério dos Loucos’ de Praga, na República Tcheca, esconde lendas debaixo de heras
O ‘Cemitério dos Loucos’ de Praga, na República Tcheca, esconde lendas debaixo de heras - Foto: Reprodução / internet

O imenso “cemitério dos loucos” de Praga, um dos cenários de “Amadeus”, obra prima de Milos Forman, e visitado por Margaret Thatcher, segue sendo um lugar esquecido e fora dos circuitos turísticos da República Checa.

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O cemitério, longe das rotas turísticas da capital checa e de seu centro histórico — Patrimônio da Humanidade pela Unesco — conta com cerca de 4.200 sepulturas. Este lugar, fundado há mais de um século, nos arredores da cidade, para receber os pacientes falecidos do hospital psiquiátrico de Bohnice, atrai caçadores de fantasmas, amantes de escândalos e de ritos satânicos que buscam energia negra, lendas e mistérios que o rodeiam.

— É um cemitério diferente dos outros — explica Jiri Vitek, zelador voluntário do lugar. Ex-bombeiro e agora vice-prefeito de um bairro de Praga.

— Estava destinado a pacientes psiquiátricos clássicos (esquizofrênicos, alcoólicos), mas também a pessoas com as que não se quer cruzar o caminho (incendiários, pedófilos, assassinos) — conta Vitek à AFP.

O enterro de Mozart

O cemitério foi inaugurado em setembro de 1909. Pouco tempo depois, já começou a receber os primeiros falecidos.

— Dois dias mais tarde, um menino de 11 anos que morreu de tuberculose, se tornou o primeiro paciente enterrado aqui — declarou Alzbeta Remrova, porta-voz do hospital de Bohnice.

Naquela época, o hospital se assemelhava a um vilarejo com uma igreja, uma lavanderia e uma padaria, a maior do gênero no Império Austro-húngaro.

— Os pacientes trabalhavam nos campos, cultivavam verduras e atuavam em oficinas — explicou Remrova.

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O pessoal do centro também podia ser enterrado no cemitério gratuitamente. Quando estalou a Primeira Guerra Mundial, também se enterrou soldados austríacos ingressados por doenças mentais e pacientes psiquiátricos da Itália, evacuados a Praga.

A maioria morreu durante uma epidemia de febre tifoide entre 1916 e 1918, afirma Vitek. O cemitério foi fechado em 1951, depois disso foi saqueado e abandonado durante seis décadas.

Este extraordinário lugar foi selecionado pelo diretor americano Milos Forman, de origem checa, para filmar o enterro de Wolfgang Amadeus Mozart para seu filme “Amadeus” (1984), parcialmente rodada em Praga e ganhadora de oito prêmios Oscar.

Piloto de Margaret Tactcher

Vitek conta que a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, visitou o cemitério em 1990 para transferir os restos mortais de um piloto britânico morto no final da Segunda Guerra Mundial. Ninguém sabia qual era a sepultura, menos um vagabundo local que identificou a identificou em troca de uma caixa de rum, acrescenta Vitek.

Entretanto, na maioria das vezes, o cemitério serviu como prova de valentia para os jovens da região, especialmente a parte sudoeste reservada aos criminosos. Alguns evocam uma energia negativa nesse lugar, afirmando que fazia mais frio do que no resto do cemitério.

— Os não crentes não eram enterrados em caixões, mas em sacos e eram higienizados com cal. A cal endurecida é o que gera o frio — diz ele.

Nos anos 1980, a polícia descobriu um ritual satânico no cemitério. Alguns checos mais pragmáticos utilizavam o lugar como aterro sanitário. Foi nesse estado que Jiri Vitek o descobriu em 2011, quando estava passeando com seu cachorro.

— Estava cheio de refrigeradores velhos, lavadoras, sofás e escombros. Assim que comecei a limpá-lo — conta.

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Pouco a pouco organizou visitas guiadas ao cemitério, está trabalhando em um livro e planeja reformar a capela coberta de hera e o memorial.

— Como bombeiro salvei pessoas vivas durante 15 anos. Faz cerca de 12 anos , salvo os mortos — afirma.