Internacional
ONU anuncia que irá retirar seus funcionários não essenciais do Haiti, que corre para formar governo de transição
Frente à crise humanitária, a União Europeia fará uma doação para 'atender às necessidades mais urgentes da população'; pelo menos 1,4 milhão de haitianos estão à beira a fome, segundo a ONU
As Nações Unidas anunciaram nesta quarta-feira que irão retirar seus funcionários não essenciais dos Haiti, frente à violência crescente desencadeada por gangues armadas. Com o país mergulhado em uma crise, as autoridades haitianas correm para compor o Conselho Presidencial transitório que, além de substituir o primeiro-ministro, Ariel Henry, tentará impor alguma estabilidade. Enquanto a normalidade não volta, a União Europeia anunciou nesta quarta que enviará uma ajuda humanitária no valor de € 20 milhões (cerca de R$ 108 milhões) para "atender às necessidades mais urgentes da população".
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"Devido à situação de segurança volátil no Haiti e dependendo do resultado de um processo de gerenciamento de risco de segurança, reduziremos a presença de funcionários não essenciais", disse um porta-voz da ONU em um comunicado. Na véspera, o Quênia impôs a formação de um novo governo como condição para o envio das forças de segurança ao país caribenho — o que está longe de ser simples.
A tarefa é complicada pelo curto prazo exigido pela comunidade internacional — 48 horas, de acordo com os Estados Unidos — e pela necessidade de dividir os sete membros do conselho entre diferentes partidos políticos e o setor privado. A maioria desses partidos ainda não apresentou oficialmente seus candidatos e ainda está em negociações, segundo um correspondente da AFP.
Apenas uma coalizão, a EDE/RED/Compromis historique, próxima ao falecido presidente Jovenel Moïse, assassinado em 2021, indicou sua representante, a ex-ministra da Condição Feminina Marie Ghislaine Mompremier. A escolha é mais complicada nas fileiras do coletivo 21 de Dezembro, do premier Henry, que estão em desacordo sobre quem deve ser seu candidato. A maioria escolheu o ex-deputado Vikerson Garnier, mas alguns membros se opõem.
— Estamos falando de partidos políticos que não conseguiram chegar a um acordo nos últimos anos — explicou à AFP Ivan Briscoe, diretor do programa para a América Latina e o Caribe do International Crisis Group.
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Agora que Henry está de saída, Briscoe destaca que "talvez eles olhem para o interesse nacional e deixem de lado seus interesses partidários por um tempo, até as eleições."
— Mas é evidente que há dúvidas sobre sua capacidade de chegar a um acordo — acrescentou.
'Negociar com as gangues'
O sucesso ou não dessas novas autoridades dependerá em grande parte de sua capacidade de restaurar a segurança em um país sujeito a poderosas gangues armadas, que controlam 80% do território. Esses grupos armados se uniram no início deste mês para atacar locais estratégicos, como o palácio presidencial, delegacias de polícia e prisões, desafiando abertamente Henry. Eles exigiam a renúncia do premier, alertando que, caso contrário, um "genocídio" seria desencadeado.
— As gangues se tornaram muito poderosas. Elas penetraram profundamente nas comunidades — alertou Briscoe. — Elas não estão indo embora e adotaram uma retórica política cada vez mais beligerante.
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Seu líder, o ex-policial Jimmy Chérizier, mais conhecido como "Barbecue, já deixou claro que não aceitaria um governo proposto pela Comunidade do Caribe (Caricom). Na segunda, o bloco regional anunciou o estabelecimento do conselho presidencial de transição no Haiti, após uma reunião na Jamaica com representantes da ONU e de países como os Estados Unidos e a França. Pouco depois, Henry disse que renunciaria em uma mensagem enviada de Porto Rico, onde está hospedado há dias depois de não conseguir voltar para casa.
Enquanto isso, em Porto Príncipe, que foi atingida pela violência nas últimas semanas, as atividades comerciais foram retomadas nesta quarta-feira, de acordo com um correspondente da AFP. As escolas, bem como o aeroporto internacional, ainda permanecem fechadas, mas o transporte público pôde ser visto nas ruas e alguns escritórios da administração pública foram reabertos depois de ficarem fechados por mais de duas semanas.
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Para o haitiano Fritz Fils Aimé, entrevistado pela AFP, "nada pode ser feito agora se não houver coordenação com as gangues".
Ajuda humanitária
As autoridades haviam declarado e prorrogaram o estado de emergência e toque de recolher noturno na capital no início do mês, mas não conseguiram acalmar a situação. De acordo com a Organização Internacional para Migração (OIM), mais de 360 mil pessoas foram deslocadas no Haiti, e o chefe do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU no Haiti, Jean-Martin Bauer, disse em um comunicado que o país está passando por "uma das mais graves crises alimentares do mundo", com "1,4 milhão de haitianos à beira da fome".
Frente à crise, a União Europeia anunciou que enviará uma ajuda humanitária no valor de € 20 milhões de euros.
— Um nível sem precedentes de violência entre gangues está aumentando dramaticamente as necessidades humanitárias em todo o país — disse o porta-voz da Comissão Europeia, braço executivo da UE, Balazs Ujvari, acrescentando que será para "atender às "necessidades mais urgentes da população".
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Muitas pessoas na capital estão satisfeitas com a renúncia do primeiro-ministro, mas algumas questionam o papel que as gangues, que controlam grande parte do país, desempenharão. O premier, no poder desde o assassinato do presidente Moïse, foi amplamente questionado, uma vez que o Haiti não realiza eleições desde 2016.
— [Henry] era o maior obstáculo que tínhamos. Ele não tinha um plano real para o país. Mas devemos ter um mecanismo rápido para substituí-lo — declarou Emmanuel, um homem que não quis dar seu sobrenome.
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Agora, na visão de Jean Dieuchel, "cabe ao povo haitiano decidir quem deve ser o primeiro-ministro e quem deve ser o presidente.
— Essas pessoas devem ser haitianos patriotas e ter um senso de soberania nacional — acrescentou.
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