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Unicef afirma que mais de 230 milhões de mulheres e crianças são sobreviventes de mutilação genital

A prática pode ter consequências a longo prazo, como problemas de fertilidade, complicações no parto, bebês que nascem mortos e dor na relação sexual

Agência O Globo - 08/03/2024
Unicef afirma que mais de 230 milhões de mulheres e crianças são sobreviventes de mutilação genital

Mais de 230 milhões de meninas e mulheres em todo o mundo são sobreviventes de mutilação genital, um número que aumentou 15% desde a última estimativa, em 2016, destaca um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado nesta quinta-feira.

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— É, de fato, uma má notícia. Esse é um número maior do que nunca — lamentou Claudia Coppa, principal autora do texto, divulgado por ocasião do Dia Internacional da Mulher.

A mutilação genital feminina pode incluir a remoção total ou parcial do clitóris, bem como dos pequenos lábios, e também a sutura da abertura vaginal, para estreitá-la. Fonte de hemorragias e infecções fatais, também pode ter consequências a longo prazo, como problemas de fertilidade, complicações no parto, bebês que nascem mortos e dor na relação sexual.

A África abriga o maior número de sobreviventes de mutilação genital feminina, com mais de 144 milhões, à frente da Ásia (80 milhões) e do Oriente Médio (6 milhões), segundo estudo realizado em 31 países onde essa prática é comum.

O aumento global é provocado, em grande parte, pelo crescimento populacional em certos países, mas o relatório destaca o progresso na redução da sua prevalência em outros locais. Em Serra Leoa, Etiópia, Burkina Faso e Quênia, foram registradas fortes quedas.

Na Somália, no entanto, 99% das mulheres entre 15 e 49 anos foram submetidas à mutilação genital, bem como 95% na Guiné, 90% no Djibuti e 89% no Mali.

— Também presenciamos uma tendência preocupante de muitas meninas estarem sendo sujeitas a essa prática em idades mais baixas, muitas delas antes do quinto aniversário — observou a chefe do Unicef, Catherin Russell. — Temos que intensificar os esforços para acabar com essa prática — Completou Russell.

A mutilação genital existe há séculos

Os avanços têm que se multiplicar por 27 para que a prática seja erradicada até 2030, como pedido na Agenda da ONU para o Desenvolvimento Sustentável. Embora as percepções estejam evoluindo, segundo Claudia Coppa, a prática existe há anos, portanto, mudar essa tradição demanda paciência.

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— Em algumas sociedades, por exemplo, ela é considerada um rito de iniciação necessário, em outros contextos, é uma forma de preservar, por exemplo, a castidade das meninas. É uma forma de controlar a sexualidade delas — explicou a autora.

Coppa também explica que as mães podem se opor ao procedimento, entretanto, a dor acaba sendo menor que a vergonha, porque as consequências que as filhas precisam enfrentar, caso não façam a mutilação, podem ser mais doloras. As meninas que não tiverem sido submetidas a essa prática podem, por exemplo, não serem consideradas para casamento.

O Unicef segue promovendo leis para proibir a mutilação genital. Sobre o papel dos homens, enquanto em alguns países eles são a favor da mutilação genital feminina, em outros são as próprias mulheres que relutam em abandonar essa prática ancestral. Contudo, Claudia afirma sobre os homens:

— Permanecem calados, e esse silêncio dá a impressão de que existe uma aceitação ativa dessa prática. Portanto, todos devem se posicionar — disse Claudia.