Internacional
Prisão de traficantes de pessoas deixa ilhadas milhares de migrantes que tentavam atravessar a selva de Darién
Serviço foi suspenso depois que a Marinha colombiana prendeu homens que transportavam 150 passageiros sem documentação; floresta é uma das principais rotas migratórias até os EUA
Mais de 3 mil pessoas que tentavam chegar à selva de Darién acabaram ilhadas em áreas remotas do Caribe colombiano após a prisão de dois capitães de barcos, acusados de tráfico humano, interromper as travessias marítimas na região. Apesar de extremamente perigosa, a floresta, localizada entre Colômbia e Panamá, se tornou uma das principais rotas para imigrantes que tentam chegar aos Estados Unidos, a maioria vindo da América Latina.
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De acordo com o Alto-comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), cerca de 3.500 pessoas estão presas nas cidades colombianas de Necoclí e Turbo, onde pretendiam pegar um barco para cruzar o Golfo de Urabá até o início da travessia de três dias da selva de Darién a pé — em geral, feita com guias ilegais que os direcionam até o Panamá por cerca de US$ 350 (R$ 1.735) por pessoa. Entre os ilhados, o Acnur estima que 850 estão dormindo na praia ou nas ruas desde o interrompimento do serviço.
Autoridades locais temem que o excesso de pessoas na região isolada possa sobrecarregar os serviços públicos, especialmente a saúde.
— Necoclí é uma cidade com capacidade limitada — disse o secretário de governo local, Johann Wachter, ao jornal britânico The Guardian. — Estamos tentando mediar, porque obviamente estamos preocupados com o fato de que a presença de tantas pessoas possa acabar afetando a ordem pública.
Segundo Wachter, os homens foram detidos depois de serem flagrados pela Marinha colombiana transportando cerca de 150 passageiros sem documentos. Após o incidente, as duas principais empresas de transporte marítimo de Necoclí suspenderam seus serviços.
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Pressão americana
As empresas cobram garantias das autoridades locais de que não estão sendo alvo de uma operação mais ampla do governo da Colômbia, que vem sendo pressionado pelos EUA a aumentar o controle nas rotas migratórias. A questão migratória será um dos temas centrais da provável disputa entre o atual presidente americano, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump pela Casa Branca em novembro. Na quinta-feira, o ambos visitaram a fronteira EUA-México, no Texas.
Em 2023, um recorde de mais de 520 mil pessoas cruzaram a selva de Darién, cerca de 120 mil delas menores de idade. Nos primeiros dois meses deste ano, mais de 72 mil pessoas atravessaram Darién, o que supera as 50 mil no mesmo período do ano anterior. Quase dois terços dessas pessoas são venezuelanas, seguidas de haitianos, equatorianos, colombianos e chineses.
Em 2022, foram registradas 62 mortes de pessoas que tentavam atravessar a floresta, segundo cifras oficiais. Em 2023, morreram 34, um número que pode ser maior devido à dificuldade do governo panamenho de obter dados considerando a inacessibilidade do local, a falta de denúncias e o abandono dos corpos, que, às vezes, são devorados por animais selvagens.
— Os incidentes reportados de abusos estão aumentando, vários migrantes perderam a vida e outros são testemunhas ou vítimas de violência, abuso sexual, ameaças físicas e discriminação — disse à AFP o chefe da Missão no Panamá da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Giuseppe Loprete. — Os migrantes passam dias na floresta, em áreas remotas ou em embarcações precárias, sem comida ou remédios suficientes, seguindo informações falsas, e se tornam vulneráveis a todo tipo de abuso.
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Cresce número de estupros em Darién
A ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) denunciou na quinta-feira o aumento da brutalidade e dos estupros de que são vítimas muitos migrantes que cruzam a selva de Darién em seu percurso até os Estados Unidos. Em apenas uma semana de fevereiro, as equipes de saúde da ONG atenderam 113 migrantes, entre eles nove menores, que sofreram agressões sexuais praticadas por grupos criminosos que atuam em Darién. Em janeiro, foram 120 casos.
— Eles os ameaçam, agridem, abusam sexualmente das mulheres de forma sistemática na frente de outros migrantes e até de suas famílias e de seus filhos — descreveu o chefe de missão da MSF na Colômbia e no Panamá, Luis Eguiluz. — No último episódio, migrantes nos detalharam como os que se negavam a colaborar eram mortos a tiros.
O governo panamenho tenta dissuadir os migrantes com mensagens que alertam para o perigo em Darién. O grande fluxo de migrantes levou autoridades panamenhas a instalar, com o apoio de organizações internacionais, centros de assistência aos migrantes em áreas povoadas de Darién, que prestam serviços básicos aos viajantes.
— A cooperação transfronteiriça e regional é necessária para enfrentar a crise o quanto antes ao longo das rotas migratórias dentro da região — ressaltou Loprete.
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