Internacional
Lula deu aval a tom mais duro de nota sobre crise humanitária em Gaza
Ministro Mauro Vieira pediu o tom mais duro e texto foi despachado tarde da noite com Lula
A nota publicada pelo governo brasileiro nesta sexta-feira envolvendo a grave crise humanitária na Faixa de Gaza em razão do conflito entre Israel e Hamas foi aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já tarde da noite, em São Vicente e Granadinas, onde participam da cúpula da Celac. O tom mais duro da nota foi determinado por Vieira, que também pediu que o texto desse conta de toda a crise, e não apenas do ataque aos palestino que buscavam ajuda humanitária, ocorrido nesta quinta-feira.
Autoridades palestinas acusarem Israel de disparar e matar mais de 100 pessoas em meio a uma entrega caótica de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo grupo terrorista Hamas, o incidente deixou ao menos 112 mortos e 760 feridos.
Os primeiros momentos foram de cautela em Brasília, em razão da preocupação do governo de entrar na guerra de narrativa de acusações entre os dois lados. O segundo ponto, que teve peso na construção da nota, foi a declarações de Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel, e um dos mais radicais integrantes do Gabinete de Netanyahu, que afirmou que os militares israelenses agiram de forma excelente contra uma multidão que "tentou prejudicá-los", e chamou de “loucura” a manutenção dos envios de itens básicos ao território. A declaração foi vista como inaceitável por membros do governo.
O principal objetivo do governo brasileiro com a nota, no entanto, não foi tratar apenas do episódio de quinta-feira, visto como "suficientemente grave", mas que fosse abordada toda a tragédia em curso na Faixa de Gaza.
O governo acompanha as informações sobre o agravamento da crise humanitária e considerava a possibilidade de episódios graves, como o que aconteceu nesta quinta-feira. Mais do que apontar o dedo para o governo de Israel, o governo brasileira queria jogar luz, mais uma vez, sobre o processo perigoso que está em curso com o agravamento da crise e a inércia da comunidade internacional, que pela percepção do governo colabora para o quadro atual.
A ajuda humanitária que chega na Faixa de Gaza é insuficiente para atender a população e o quadro foi agravado com a interrupção do envio de verbas por países para a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).
A Jordânia intensificou a coordenação com parceiros internacionais para lançar por ar alimentos e outros suprimentos para civis do enclave palestino esta semana, enquanto grupos de ajuda alertam sobre as crescentes restrições em suas capacidades de distribuição de alimentos. Na terça-feira, aviões dos Emirados Árabes Unidos e do Egito se uniram à operação ao longo da costa. Foi a primeira vez que Cairo lançou ajuda para Gaza desde o início da guerra com Israel, em 7 de outubro.
Grupos de ajuda geralmente lançam suprimentos por ar apenas como último recurso, dada a ineficiência e o custo relativo do método em comparação com entregas por estrada, além dos perigos de navegar no espaço aéreo de uma zona em conflito e do risco para pessoas que poderiam ser potencialmente atingidas quando os suprimentos caem no chão.
Parte do suprimento jogado caiu na mar, o que fez com que palestinos entrassem na água para tentar recuperar os alimentos jogados pelas aeronaves jodanianas e francesas.
Nos bastidores, integrantes do governo ressaltam a fragilidade da ação e destacam que não é possível evitar que pessoas se engalfinhem pelos suprimentos. Nesse contexto, o episódio lembrado é o do Afeganistão, em 2021, quando o Talibã retomou o controle do país e civis tentatram deixar a região a todo custo. Na época, pessoas se penduraram na parte externa de aviões para tentar escapar do país e acabaram caindo.
Durante sua viagem à África, Lula já tinha informações sobre o agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza. Na ocasião, o presidente comparou a morte de civis por Israel com a morte de Judeus por Hitler, na Segunda Guerra Mundial, e desencadeou uma crise diplomática com o país. Assessores apontam que a declaração veio na esteira dessas informações recebidas.
Há uma avaliação de que é possível que a relação com Israel piore a partir da nota divulgada nesta sexta-feira, mas isso é posto como "secundário". A prioridade do governo é denunciar os episódios graves em andamento na região, sem "meias palavras", em busca de resultados efetivos.
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