Internacional
Vídeo mostra disparos e munições traçantes enquanto palestinos buscavam ajuda humanitária em Gaza; assista
Ao menos 112 pessoas morreram e 760 ficaram feridas; episódio ocorreu por volta das 4h40 do horário local, quando ainda estava escuro, o que pode ter colaborado para o tumulto
Um vídeo gravado por uma afiliada da rede catari al-Jazeera mostra o momento em que centenas de palestinos tentam fugir e se proteger, no escuro, enquanto diversos disparos são ouvidos ao fundo, atribuídos pelo canal ao Exército de Israel. Ao menos 112 pessoas foram mortas e 760 ficaram feridas durante a entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza na madrugada desta quinta-feira, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo grupo terrorista Hamas.
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No vídeo, também é possível ver várias munições traçantes, um tipo de projétil que se acende para iluminar um caminho determinado e ajudar tropas a ajustar a mira em seus alvos. Segundo o New York Times, que analisou a gravação, apesar de o autor dos disparos não aparecer no vídeo, a trajetória dessas rajadas mostra que partem do sudoeste da estrada costeira de Al-Rasheed, região onde estavam estacionados veículos militares israelense, a apenas 800 metros de distância.
Autoridades palestinas afirmam que soldados israelenses dispararam contra a população, que havia se reunido para buscar mantimentos. Em comunicado, as Forças Armadas de Israel negou a acusação, dizendo que as mortes decorreram de uma confusão durante a entrega de ajuda, com soldados somente tendo disparado para o ar e contra as pernas de um grupo de residentes que se afastou do comboio humanitário e se aproximou de uma unidade militar de Israel.
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Mais tarde, o porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, disse, porém, que só foram feitos disparos de alerta para dispersar a multidão. Ele afirmou que os drones que sobrevoaram o local não realizaram ataques aéreos, e que as pessoas foram mortas devido à aglomeração e ao atropelamento não intencional pelos caminhões de ajuda que tentavam fugir do tumulto.
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— [Os soldados dispararam] apenas em face do perigo, quando a multidão se moveu de uma forma que os pôs em risco — afirmou em entrevista coletiva. — Apesar das acusações, não disparamos contra aqueles que buscavam ajuda humanitária (...) nem no comboio, por terra ou ar.
Entenda o que se sabe
A tragédia começou quando 38 caminhões com suprimentos atravessavam uma rotatória em al-Rasheed, no oeste da Cidade de Gaza, onde centenas de palestinos aguardavam a ajuda. Segundo Hagari, os caminhões vieram do Egito, passaram pelo posto de controle de Kerem Shalom, em Israel, e tinham como destino o norte de Gaza, sendo escoltados pelas forças israelenses durante o trajeto. Os primeiros disparos foram ouvidos, de acordo com a al-Jazeera, por volta das 4h40 do horário local, quando ainda estava escuro, o que pode ter colaborado para o tumulto.
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Testemunhas relataram à AFP que viram milhares de pessoas correndo na direção dos caminhões de ajuda humanitária que se aproximavam. Uma pessoa afirmou que os veículos com as doações chegaram “muito perto de alguns tanques do Exército israelense que estavam na área, e milhares de pessoas simplesmente avançaram sobre os caminhões”. Nesse momento, afirmou, “os soldados dispararam contra a multidão”.
Segundo um alto funcionário do Exército de Israel, os soldados primeiro dispararam “tiros de advertência” quando as pessoas correram em direção aos caminhões, e só depois abriram fogo.
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— Foram disparos limitados, não foi um acontecimento maciço do nosso ponto de vista — acrescentou a fonte à AFP.
Moradores que aguardavam a chegada da ajuda juntamente com a multidão relataram outra versão dos fatos:
— Estava esperando desde ontem [quarta]. Por volta das 4h30 desta manhã, os caminhões começaram a chegar. Quando nos aproximamos dos caminhões de ajuda, os tanques e aviões de guerra israelenses começaram a disparar contra nós, como se fosse uma armadilha — relatou à al-Jazeera, sob anonimato, uma testemunha.
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Feridos
De acordo com um correspondente da al-Jazeera em Gaza, as ambulâncias não puderam chegar à área porque as estradas estavam “totalmente destruídas”. Imagens mostram corpos de pessoas mortas e feridas sendo levadas em caminhões e charretes. As vítimas foram encaminhadas para quatro hospitais: al-Shifa, Kamal Adwan, Ahli e centros médicos da Jordânia em Gaza.
Segundo Jadallah al-Shafei, chefe do departamento de enfermagem do hospital al-Shifa, “o hospital foi inundado com dezenas de cadáveres e centenas de feridos”. Uma parte do centro médico não está funcionando por falta de combustível, utilizado no fornecimento de energia. Também não há medicamentos disponíveis e o estoque de sangue está perto do fim, de acordo com um correspondente da al-Jazeera que está no hospital, cenário que pode elevar ainda mais o número de mortos.
— A maioria das vítimas sofreu tiros e estilhaços na cabeça e na parte superior do corpo — disse o chefe de enfermagem do al-Shifa, em entrevista à al-Jazeera. — Elas foram atingidas por disparos diretos de tanques, drones e armas de fogo.
Versão israelense
No comunicado, o Exército israelense afirmou que, quando o comboio chegou ao entroncamento na Cidade de Gaza, “residentes cercaram os caminhões para saquear os suprimentos que eram entregues. Como resultado do empurra-empurra, pisoteamento e atropelamento pelos veículos, dezenas de palestinos foram mortos e feridos”. De acordo com Hagari, a aproximação da Cidade de Gaza ocorreu às 4h45.
Ainda segundo o comunicado, os caminhões continuaram se dirigindo para o norte da Faixa de Gaza, e surgiram relatos de que indivíduos armados dispararam contra os veículos e os saquearam. Nesse momento, diz o Exército de Israel, algumas pessoas na multidão começaram a se aproximar de uma unidade das Forças Armadas de Israel na área, o que fez os soldados fazerem disparos de alerta para o ar antes de atirar para atingir as pernas daqueles que continuavam avançando em sua direção.
Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, e um dos mais radicais integrantes do Gabinete de Netanyahu, louvou a atitude dos militares, e chamou de “loucura” a manutenção dos envios de itens básicos ao território.
“Deve ser dado apoio total aos nossos heroicos combatentes que operam em Gaza, que agiram de forma excelente contra uma multidão de Gaza que tentou prejudicá-los”, escreveu no X, o antigo Twitter.
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