Economia
Com proposta única e desconto de 0,01%, Consórcio C2 Mobilidade vence leilão do trem de SP a Campinas
Investimento será de R$ 13,5 bilhões. Vencedor ofereceu maior desconto nas contraprestações a serem pagas pelo governo

O consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos, liderado pela empresa Conporte Participações, venceu o leilão de concessão do governo de São Paulo para a construção e operação do Trem Intercidades (TIC), que ligará Campinas a São Paulo. A linha ferroviária, que faz parte do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) do governo federal, vai ligar as duas cidades em pouco mais de uma hora, em trens de dois andares, quando estiver em plena operação em 2031. O investimento previsto é de R$ 13,5 bilhões e o prazo de concessão de 30 anos.
O vencedor ofereceu 0,01%%, o maior desconto percentual sobre a contraprestação financeira máxima que o o governo paulista vai pagar ao longo dos 30 anos — cerca de R$ 8 bilhões. Não houve outras propostas como esperava o governo do estado, que tinha a expectativa de que a CCR partipasse com um lance.
O projeto do trem de São Paulo para Campinas, considerado prioritário da gestão do governador Tarcísio de Freitas, faz parte do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) do governo federal. Ele será feito por meio de Parceria Público Privada (PPP) em que o governo entra com uma parte dos recursos e a vencedora custeia o restante. O governo vai investir R$ 8,9 bilhões na obra e a maior parte dos recursos do governo será obtida através de um empréstimo junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O leilão aconteceu em meio a protestos do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas do Transporte Ferroviário de São Paulo, que vieram para a porta da B3 durante o leilão. Com faixas e cartazes contra a concessão, os manifestantes gritavam que as passagens de trens na linha 7 Rubi (que também está incluída no pacote concedido à operadora privada) devem aumentar. Durante o protesto, os manifestantes criticarem o governador Tarcísio de Freitas e seu viés privatizador de serviços estatais.
Primeiro passo para volta dos passageiros aos trens
O advogado Ricardo Barretto, sócio do Fenelon Barretto Rost, especializado em infraestrutura e regulação, avalia que a concessão representa a retomada dos investimentos em transporte de passageiros sobre trilhos no país. Ele observa que a linha vai contemplar uma região populosa (12 milhões de habitantes em São Paulo e 1,1 milhão em Campinas), reduzindo o tempo diário de deslocamento e ampliando as oportunidades de negócios. A viagem entre as duas cidades de trem levará pouco mais de uma hora.
— A implantação do transporte sobre trilhos em uma região tão populosa certamente elevará a qualidade de vida das pessoas — disse Barretto.
O governo espera que o serviço seja atraente para quem viaja de ônibus e fretados entre as cidades — especialmente a população que vive em Campinas e trabalha na capital. Para o advogado, as condições do edital do leilão trouxeram um bom equilíbrio entre o aporte de investimentos públicos e privados, assegurando modicidade tarifária aos futuros passageiros e remuneração razoável ao parceiro privado. O preço máximo da passagem será de R$ 64, mas a operadora poderá oferecer descontos àqueles que comprarem com antecipação, por exemplo.
Este será o primeiro trem de média velocidade do país, rodando a até 150 quilômetros por hora. A expectativa é que sejam transportados uma média de 60 mil passageiros por dia. Além do TIC Campinas, que terá tarifa de no máximo R$ 64 e será um “trem de viagem”, com assentos marcados, mesas e bagageiro, o projeto também contempla a criação do trem intermetropolitano (TIM) entre Jundiaí e Campinas, com quatro paradas, e a concessão da Linha 7 (Rubi) da CPTM, que liga o município de Jundiaí à estação da Luz, na capital paulista. Eles serão operados pelo mesmo consórcio vencedor do TIC.
O governo garante ao parceiro privado 90% da demanda de passageiros programada. Caso haja uma demanda menor que isso, o governo compensará financeiramente a concessionária. Se por outro lado o número de passageiros for mais de 110% do estimado, o privado e o poder público compartilham a receita igualmente.
— Para a Linha 7, eu pago por trem rodando, não importa quantas pessoas embarcarem, e para o Trem Intermetropolitano a mesma coisa. Já no TIC, eu garanto 90% da receita que eu estimei. Se tiver a menos que isso, eu pago para ele, se tiver mais que 110% a gente divide. Isso é o compartilhamento da demanda. A contraprestação pecuniária é para fechar a conta, porque mesmo com o compartilhamento da demanda, a conta não fechava — explicou ao GLOBO Rafael Benini, secretário estadual de Parcerias e Investimentos, no início do mês.
O contrato com o vencedor deve ser assinado em até quatro meses. Em seguida, começa a transferência da tecnologia da CPTM para a operação da Linha 7 (Rubi). Haverá um período de treinamento de um ano, e depois disso o vencedor vai operar o ramal por mais um ano sob supervisão da estatal. A ideia é evitar que se repitam os constantes problemas enfrentados nas linhas 8 e 9, que passaram da CPTM para as mãos da ViaMobilidade (CCR) em 2021.
A Linha Rubi tem atualmente 19 estações, ligando Jundiaí até a Luz, mas após a concessão perderá duas paradas e terminará na Barra Funda. Depois da concessão da Linha 7, a próxima etapa é a entrega do Trem Intermetropolitano de Jundiaí até Campinas, cuja obra deve ser entregue em 2028, porque é um trecho de construção menos desafiadora. Esse trecho terá paradas em Louveira, Vinhedo e Valinhos – a tarifa deve ser de no máximo R$ 28,10.
A previsão é que, em 2031, os três modelos estejam em operação simultaneamente. Neste cenário, somando a quantidade diária de passageiros, o estudo de demanda prevê o transporte de mais de meio milhão de pessoas.
O trem até Campinas terá composições com capacidade para cerca de 800 passageiros que farão o percurso de 96 quilômetros, a uma velocidade de até 150 quilômetros por hora. Será uma viagem quase direta de São Paulo até Campinas: haverá apenas uma parada, em Jundiaí).
Durante a modelagem da concessão, ainda em 2019, as empresas interessadas em assumir o trecho sugeriram o uso de trens “double deck”, ou seja, com dois andares. A argumentação das empresas é de que esse modelo pode aumentar o número de passageiros por vagão sem obrigar a expansão de plataformas.
Modelo comum no exterior
O modelo de trem intercidades já é usado em várias metrópoles do mundo. O trajeto entre Londres e Birmingham, na Inglaterra, por exemplo, tem cerca de 163 quilômetros, percorridos em um trem que atinge uma velocidade média de cerca de 80 km/h.
Já a famosa rota Lisboa-Porto também é feita com um trem intercidades no modelo SP-Campinas. Por lá, o trem faz o trajeto entre as cidades portuguesas a uma velocidade média de 72 km/h.
Além do TIC SP/Campinas, o governo paulista planeja viabilizar mais dois ambiciosos projetos de transporte ferroviário: um trem que vai da capital paulista a Sorocaba e outro que a conecta ao município de São José dos Campos, no Vale do Paraíba. Os estudos já começaram. O investimento no trem até Sorocaba, por exemplo, que terá 94 quilômetros de extensão, será de R$ 8,5 bilhões. O trajeto, hoje feito em 1h50 min, vai durar cerca de 60 minutos e promete atender a uma demanda de 50 mil passageiros por dia
Mais lidas
-
1FOLHA INCHADA
Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios escancara descontrole: contratados e comissionados superam em mais de cinco vezes os efetivos
-
2
Misa recebe exposição ‘Terra’ com fotografias de Sebastião Salgado
-
3ADEUS AO MESTRE CHICO POTIGUAR
Morre aos 84 anos o professor Francisco Vieira Barros, referência da Matemática e da educação em Palmeira dos Índios e Alagoas
-
4UCRÂNIA
'Zelensky chorará lágrimas de crocodilo': especialista dá detalhes da zona tampão russa na Ucrânia
-
5ACABOU A SINECURA
Folha paralela da Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios: MP firma TAC e dá prazo para exoneração em massa; veja a lista