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Crocodilos encontram um paraíso no norte da Austrália

O Crocodylus Park está localizado em Kuckey Laggon, Território do Norte, na Austrália. Há 30 anos o espaço trabalha com a conservação de crocodilos de água salgada e água doce

Agência O Globo - 29/02/2024
Crocodilos encontram um paraíso no norte da Austrália
Crocodilos encontram um paraíso no norte da Austrália - Foto: Reprodução / internet

Nas águas escuras de um rio perto da cidade australiana de Darwin, localizada no Território do Norte, vivem centenas de crocodilos cujas potentes mandíbulas que pegariam em questão de minutos qualquer desavisado que resolvesse dar um mergulho por lá. Assim adverte Grahame Webb, um dos principais zoólogos do país, cujos esforços de conservação permitiram salvar esses predadores de água salgada da beira da extinção.

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— Não se pode domesticar os crocodilos, são realmente perigosos — disse Webb à AFP, em seu jardim na região tropical australiana de Top End.

Segundo Webb, a divulgação de mensagens contundentes sobre o perigo nos rios do norte australiano foi decisiva para a reconstrução da população de crocodilos, que chegaram a estar dizimados por conta da caça descontrolada.

Antes da proteção governamental dos anos 1970, se calcula que 98% dos crocodilos silvestres de água salgada desapareceram no território norte, por conta da procura por couro. Agora, de acordo com o governo, mais de 100 mil crocodilos que podem alcançar mais de seis metros de largura e pesar mais de uma tonelada, estão caçando pelas encostas, rios e pântanos do extremo norte australiano.

Voltando a ser um perigo

— Está sendo um tremendo êxito — contou Webb. Mas de acordo com a profissional, este é apenas o primeiro passo para garantir a proteção da espécie.

— Para conservar os crocodilos é necessário reconstruir sua população. Se bem feito, eles voltam a ser um perigo, a comer gente e então todo mundo vai querer eliminá-los — explicou Webb.

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— Para impedir essa rejeição, era necessário que as pessoas percebessem a importância de proteger os répteis — disse Charlie Manolis, perito em crocodilos da União Internacional para Conservação da Natureza.

Nos anos oitenta, uma campanha de segurança, conhecida localmente como “Crocwise”, com cartazes de advertência ao longo dos rios e o deslocamento dos predadores para fora das zonas mais povoadas, contribuíram para a mudança de atitude das pessoas.

Fora isso, foi autorizada a colheita de ovos selvagens no Território do Norte, para venda aos criadores de crocodilos que fornecem matéria prima para a indústria do couro, explicam Webb e Manolis. O lucrativo comércio do couro depende de fazendas abastecidas com ovos e animais capturados. Se autoriza a pegar 70 mil ovos e 1.400 crocodilos por ano.

— Existe bastante gente que tem emprego por conta dos crocodilos — aponta Webb, citando o turismo e as fazendas.

O paraíso dos crocodilos

Acredita-se que os criadores de crocodilos geram mais de 100 milhões de dólares australianos (cerca de 323 milhões de reais) para a região, que é a maior produtora de peles do país. O couro obtido é muito apreciado por marcas de luxo como Hermès e Louis Vuitton.

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Manolis reconhece que algumas pessoas criticam a estratégia de gestão, por “usar” os animais e removê-los do seu habitat natural, mas segundo ele, é a conexão com uma indústria que tem permitido salvar a espécie de matanças em massa.

— Não se trata de reprodução em si. A reprodução é o que usamos para garantir a preservação da população selvagem — afirmou o perito.

O parque fundado por Webb é uma atração turística e “paraíso” para os “crocodilos problemáticos”, animais removidos do seu habitat por serem um perigo para os moradores ou por desenvolver o gosto por comer gado.

— Não se pode adestrar um crocodilo, mas se pode colocá-lo em um lugar onde ele não será um problema — disse Jess Grills, criadora de 32 anos, enquanto agita a água com um pedaço de carne para servir a um crocodilo.

Medo de um milhão de anos

— Sempre tem que assumir que há um crocodilo na água — disse Grills, no barco que navega pelo rio artificial de Crocodylus Park, perto de Darwin. Segundo Manolis, com o crescimento da população, os ataques podem aumentar, mesmo que agora estejam escassos.

Enfrentar um medo que tem mais de “um milhão de anos” enquanto se apoia a conservação será “o maior desafio”, segundo Manolis.

— Sejamos francos, o Fundo Mundial de Vida Silvestre não tem uma foto de um crocodilo. Tem um panda — contou o perito. Para ele, a possibilidade de admirar de perto um predador, ajuda a gerar apoio à proteção desse animal.

— Se respeitar os animais e seu território, não creio que sejam tão assustadores —.