Geral
Atores se manifestam após polêmica com nudez em peça no RJ: 'Se fosse nu feminino, daria essa repercussão?'
Com duas décadas de carreira no teatro, Léo San e Maurício Silveira mantêm no currículo participações pontuais em novelas da TV Globo

Léo San e Maurício Silveira deram um passo atrás ao ouvirem que precisariam tirar a roupa numa das cenas de "Pasolini no deserto da alma". Ambos os atores cultivam duas décadas de carreira no teatro e, até então, jamais haviam se desnudado diante de plateias. Com a barriga gelada, toparam o desafio. E logo combinaram com o diretor Francis Mayer o seguinte: eles só arrancariam as peças íntimas na hora agá — nos ensaios, portanto, permaneceriam vestidos com cuecas. Assim foi.
Leia mais: Veja fotos de peça que tem ator nu no palco e gerou briga de marido e mulher na plateia: 'Casamento está acabado'
'Nos sentimos rejeitados': Funcionários esquecem última sessão, vão embora, e público fica preso em cinema no RJ
Ao GLOBO, os artistas ressaltam que a nudez masculina — ainda que revelada na penumbra ou em sequências curtas — nunca é detalhe tão pequeno em salas de teatro do país. Desde que estrearam o espetáculo, em janeiro deste ano, os dois são surpreendidos por cochichos e aplausos contidos da plateia no momento em que aparecem pelados. No último domingo (25), o burburinho ganhou volume. É que um casal iniciou uma discussão durante a sessão, justamente devido aos órgãos genitais à mostra, e um espectador afirmou que "acabaria o casamento" se a esposa não abandonasse a peça com ele. Pois bem, a mulher permaneceu no mesmíssimo lugar.
— Neste mundo moderno em que vivemos, é lamentável ainda haver preconceito com o nu masculino. Se fossem duas mulheres em cena, será que teria acontecido a mesma coisa? — questiona Léo San, que dá vida ao ator italiano Ninetto Davoli, um dos "musos" de Pasolini e com quem o cineasta se relacionou por nove anos. — É uma pena que ainda existam tantas pessoas com a mente pequena por aí. Não há nada forçado na peça! A nudez não acontece de forma apelativa. É uma cena bonita, sem nada explícito. Simples assim.
A narrativa inspirada na trajetória de Pier Paolo Pasolini (1922-1975) — cineasta responsável por títulos como "Teorema" (1968), "Decameron" (1971) e "Salò ou Os 120 dias de Sodoma" (1976) — traz à tona passagens marcantes na vida do artista cristão, marxista e homossexual que expressou sua genialidade de maneira subversiva, em meio a um país católico governado por um regime fascista.
— Pasolini foi um homem transgressor. Não adianta querer fazer uma peça em que o tema é Pasolini, sustentando algum tipo de pudor — comenta Maurício Silveira, intérprete da figura central da montagem. — Se tivesse pudor, não estaria 100% entregue ao personagem. O jeito então é emprestar meu corpo por inteiro, além da voz, dos gestos, dos sentimentos... Na hora, até esqueço que estou sem roupa.
Na peça com duração de uma hora (e classificação indicativa não recomendada para menores de 18 anos), há duas passagens em que os atores ficam totalmente nus. Em ambas as cenas, os personagens trocam carícias e se beijam — numa delas, o ator Diego Rosa também se despe no palco. A atriz Rose Scalco completa o elenco.
— Quem vê a peça normalmente é fã de Pasolini ou simplesmente tem interesse na vida e na obra do cineasta — diz o diretor Francis Mayer. — Para mim, é um susto ver esse tipo de reação na plateia por causa de nudez. Acho que hoje já não cabe mais isso. Mas ainda há discriminação. Trata-se de nudez masculina seguida por um beijo na boca entre dois homens.
Quem são os atores em peça com nudez que gerou polêmica?
Léo San é carioca de 41 anos e iniciou a carreira como modelo, há mais de duas décadas. Cria da comunidade da Rocinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ele começou a estudar teatro no início da vida adulta e passou a integrar o elenco de peças. Paralelamente, realiza também participações no elenco de apoio de novelas da TV Globo, como "Três irmãs" (2008), "Alto astral" (2014) e "Orgulho e paixão" (2018).
O folhetim em que obteve mais destaque, até agora, foi "A dona do pedaço" (2019), em que interpretou Jasmin, treinador de boxe do personagem Paixão, interpretado por Duda Nagle.
Colega de Léo na peça sobre Pasolini, Maurício Silveira também é carioca e mantém mais de 20 peças no currículo, de acordo com cálculos dele. O ator de 47 anos já realizou participações pontuais em novelas como "Cobras & lagartos" (2006), "Sete pecados" (2007), "Paraíso tropical" (2007) e "Insensato coração" (2011).
Mais lidas
-
1COPA DO BRASIL
Relacionado, Neymar deve jogar contra o CRB amanhã em Maceió
-
2COFRE SEM TRANCA
Prefeitura de Palmeira dos Índios autoriza gasto de R$ 600 mil para apresentação de um único cantor no Festival de Inverno
-
3ACABOU A SINECURA
Folha paralela da Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios: MP firma TAC e dá prazo para exoneração em massa; veja a lista
-
4PALMEIRA DOS ÍNDIOS
Ministério Público intensifica fiscalização sobre Prefeitura e Câmara e abrirá também procedimento para apurar contratações via IGPS
-
5OBRIGAÇÕES APÓS O TAC
Veja as medidas que a Câmara de Vereadores de Palmeira adotará após acordo com MP