Economia

Veja de onde vem a ‘cebola do Outback’ e por que o clima está atrapalhando o cultivo

Mudanças climáticas são desafio para produtores de ‘cebolas gordas’ no Chile

Agência O Globo - 27/02/2024
Veja de onde vem a ‘cebola do Outback’ e por que o clima está atrapalhando o cultivo
Veja de onde vem a ‘cebola do Outback’ e por que o clima está atrapalhando o cultivo - Foto: Reprodução / internet

A imensidão de folhas verdes esconde o grande trunfo daquela plantação em Quinta de Tilcoco, a 127 km ao sul de Santiago, no Chile. Porém, basta chegar um pouco mais perto para observar que o que ocupa aquelas centenas de hectares é uma cebola grande, gorda, mais conhecida como a “cebola do Outback”.

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Há mais de duas décadas sendo considerada a queridinha dos brasileiros que frequentam a rede de restaurantes, cultivá-la tem sido um desafio para os produtores nos últimos anos por conta das mudanças climáticas que o país andino tem enfrentado.

No verão de 2022-2023, por exemplo, as altas temperaturas somadas aos incêndios que atingiram regiões próximas às plantações, fizeram com que os estômatos fechassem e as cebolas não absorvessem água.

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Nesta safra, foram plantados 170 hectares, que resultaram em hortaliças menores, com um tamanho aquém do desejado. Além disso, alguns produtores mudaram o seu cultivo por conta da má rentabilidade em anos anteriores.

De acordo com a meteorologista do Meteored Chile, Viviana Urbina, as altas temperaturas no verão estão relacionadas com um fenômeno conhecido como megasseca. "É uma estiagem muito prolongada e que tem durado mais de uma década. Isso está associado a uma alta pressão no oceano Pacífico, que aumenta a temperatura das águas nas proximidades da Austrália e Nova Zelândia, e dificulta a chegada de umidade e precipitações principalmente na região central do Chile", explica.

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Rodrigo Ramn é engenheiro agrônomo e assessora cultivos de cebolas. Para ele, é necessário se adaptar às condições para lidar com as mudanças climáticas. “Quando o ano é de muita chuva, trabalhamos com plantações mais ao norte do país. Se choveu tarde, vamos para o sul e, quando a seca é muito grande, procuramos lugares com represas, onde há segurança para irrigar”.

Ainda segundo Ramn, também são tomadas outras medidas como a irrigação por gotejamento, o que permite um uso melhor da água; o uso de bloqueador solar para diminuir a temperatura do cultivo; e o aumento na densidade da plantação para que o solo não fique tão exposto ao aquecimento.

Um dos produtores auxiliados por Ramn é Gastón Cuadra. Sua plantação, em Quinta de Tilcoco, é um dos quatro centros de produção utilizados pela empresa familiar RCR, que atualmente é a maior exportadora da cebola gorda no Chile para o Outback Steakhouse no Brasil. Em 2023, por exemplo, foram enviadas 22.976 caixas e um total de 321.664 kg da hortaliça.

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"Nosso diferencial está em prezar pela qualidade e pelo melhor cumprimento na entrega do volume exigido pelo Outback", destaca o produtor, exportador e dono da RCR, Gustavo Reyes.

De acordo com Reyes, “produzir exclusivamente para obter cebolas grandes é muito complicado e delicado. No Chile, elas não chegam a 2% do total de cebolas produzidas".

Uma das características que mais chamam a atenção nesse tipo de cebola é o seu tamanho, mas ela não é a única. Além de pesar cerca de 1 kg, a cebola tem um centro único e um cultivo longo. No sul do Chile, por exemplo, o ideal é que sejam plantadas entre julho e agosto, e colhidas entre fevereiro e abril. Somente assim para se conseguir cebolas com pelo menos 108 mm de diâmetro.

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Para medir esse diâmetro, se utiliza o calibrador manual, um objeto redondo com o meio vazado. Ele é usado tanto na plantação como na etapa de encaixotamento, reforçando o controle de qualidade. O transporte do produto também demanda cuidados especiais.

São utilizados caminhões refrigerados a 2 °C com 25% de ventilação, a fim de evitar ao máximo a perda da mercadoria, seja por presença de fungos ou qualquer outra razão.

Entre os produtores chilenos, a preocupação agora é com o plantio da nova safra, no meio do ano. “Em 2023 choveu muito e a semeadura atrasou em alguns lugares. A minha sorte é que já tinha semeado quando as fortes chuvas chegaram e arrastaram as sementes de alguns produtores”, lembra Cuadra.

Nos próximos meses, Viviana Urbina afirma que haverá a transição entre os fenômenos El Niño e La Niña e, para a região central do Chile, espera-se um regime de precipitação dentro do normal para o inverno, ainda que a média seja mais baixa. Para o período 2024-2025, a expectativa é plantar 188 hectares de cebola gorda.

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As mudanças climáticas não são uma preocupação em relação ao fornecimento da cebola, segundo o Outback. “Mantemos uma série de medidas, estudos, planejamento preditivo e um processo robusto de acompanhamento de plantio e logística com nossos diversos fornecedores.

Com isso, mesmo diante de condições climáticas adversas, nosso objetivo é sempre mitigar ao máximo a possibilidade de falta de cebola e qualquer impacto no abastecimento. E temos tido sucesso”, afirma Mauro Guardabassi, presidente da Bloomin’ Brands no Brasil, grupo detentor da marca Outback Steakhouse.