Internacional

Ministro publica vídeo de brasileira sobrevivente dos ataques do Hamas para criticar fala de Lula

Segundo a colunista Bela Megale, o governo decidiu não responder aos novos ataques de Katz ao presidente

Agência O Globo - 21/02/2024
Ministro publica vídeo de brasileira sobrevivente dos ataques do Hamas para criticar fala de Lula

Em meio à crise diplomática entre Brasil e Israel, o chanceler Israel Katz, enviou, nesta quarta-feira, uma nova mensagem destinada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais, criticando-o pela comparação da ação militar israelense em Gaza com o extermínio de judeus pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. Katz postou um vídeo ao lado da brasileira Rafaela Triestman, namorada do brasileiro Ranani Glazer, morto no festival de música eletrônica Nova, alvo de ataques dos terroristas do Hamas em 7 de outubro.

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"Presidente Lula, após a sua comparação entre a nossa guerra justa contra o Hamas e os atos desumanos de Hitler e dos nazistas, a Rafaela tem uma mensagem que o senhor deveria ouvir", postou o ministro no X (antigo Twitter). Ele acrescentou que Glazer foi "brutalmente assassinado" por terroristas do Hamas, junto com alguns de seus amigos, mas que Rafaela sobreviveu.

O evento acontecia no deserto de Negev, perto de Re-im, no sul de Israel, a menos de 20 quilômetros da Faixa de Gaza.

No vídeo de pouco mais de oito minutos, Rafaela relata que estava na festa durante os ataques do Hamas, precisando se esconder junto com Glazer em um bunker na estrada. Ela também conta que, para sobreviver, precisou se esconder embaixo de corpos por cerca de cinco horas. Rafaela também diz que o governo do Brasil não entrou em contato com familiares de pessoas que morreram em Gaza, como a de Glazer, e que "sentiu que foram esquecidos".

Segundo a colunista Bela Megale, o governo decidiu não responder aos novos ataques de Katz a Lula. A avaliação de ministros palacianos e de membros do Itamaraty é que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem escalado a crise com o Brasil para alimentar a política interna de seu país.

— Para nós, está claro que essa é uma ação está voltada para a política interna de Israel, a de procurar um inimigo externo para tentar se fortalecer — disse um ministro palaciano à coluna.

Entenda a crise

Trata-se da terceira crítica direta de Katz a Lula desde a declaração do presidente brasileiro sobre a ofensiva militar israelense, que desencadeou uma crise diplomática entre Brasil e Israel.

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Na terça-feira, Katz criticou veementemente a declaração de Lula, chamando-a de "promíscua" e "delirante" em uma postagem no X. Ele também afirmou que a comparação era uma "vergonha para o Brasil" e uma afronta aos judeus brasileiros. Katz reiterou, ainda, que Lula continuará sendo persona non grata em Israel até que ele se desculpe por seus comentários, uma ação que a diplomacia brasileira até agora descartou.

Em resposta, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, classificou as manifestações do governo do premier Benjamin Netanyahu como "inaceitáveis" e "mentirosas", e garantiu que o Brasil responderá diplomaticamente, mas firmemente, a qualquer ataque recebido.

A crise diplomática foi desencadeada pela declaração de Lula, que também classificou como "genocídio" a guerra em Gaza, sobre o Holocausto no último domingo. A fala do presidente brasileiro ocorreu durante uma crítica aos países ricos que suspenderam o financiamento à agência da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês). Como resposta, o governo israelense declarou Lula persona non grata.

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Quando o integrante de um governo estrangeiro é considerado persona non grata, ele deixa de ser aceito pelo governo do Estado que o declarou, mas não equivale à expulsão. A definição, entre outros pontos, também serve para mostrar descontentamento.

Em uma acentuação da crise diplomática, o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, embarcou nesta terça-feira de volta ao seu país. Um dia antes, Meyer fora convocado para uma reunião no Museu do Holocausto, em Jerusalém, para dar explicações sobre a fala de Lula. Ao lado de Meyer, o chanceler israelense fez uma declaração à imprensa em hebraico, após o encontro, sem direito a intérprete.

Foi nesta ocasião que o chanceler foi visto usando um microfone de lapela, um detalhe que mostra como o governo de Israel se preparou para expor o conteúdo da conversa com o embaixador do Brasil em Tel Aviv. A quebra de protocolo, com a mudança de última hora de local da reunião, foi avaliada por diplomatas brasileiros como forma de constranger o representante do presidente Lula e criar um fato político a favor do governo de Israel, levando o governo a pedir a volta de Meyer ao país e a cogitar a expulsão de sua contraparte no Brasil.

Israel declarou guerra contra o grupo terrorista Hamas e passou a bombardear a Faixa de Gaza após os ataques 7 de outubro, com o objetivo de "aniquilar" o grupo fundamentalista. Em quatro meses de conflito, mais de 29 mil pessoas, a maioria civis, foram mortas no território palestino, segundo o Ministério da Saúde local.