A justiça chilena ordenou esta terça-feira a reabertura da investigação sobre as causas da morte do poeta e vencedor do Prêmio Nobel Pablo Neruda, que se acredita ter sido envenenado pela ditadura de Augusto Pinochet em 1973.

O Tribunal de Apelações revogou por decisão o encerramento do caso ordenado em dezembro pela juíza Paola Plaza, e deu lugar a novas investigações e perícias na tentativa de esclarecer o enigma em torno da morte de Neruda.

O tribunal ordenou a “reabertura da súmula” e a realização dos “procedimentos solicitados pelos denunciantes” que “poderiam contribuir para o esclarecimento dos fatos”, refere a resolução divulgada pela Magistratura.

O recurso havia sido interposto pelos sobrinhos de Neruda e pelo Partido Comunista, onde atuava o poeta, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1971, que faleceu em 23 de setembro de 1973, apenas 12 dias após o golpe de Estado no Chile.

Ele tinha 69 anos e sofria de câncer de próstata.

A investigação judicial sobre a sua morte começou depois de, em 2011, o seu ex-motorista, Manuel Araya, ter dito à imprensa que o poeta poderia ter sido envenenado pela ditadura de Pinochet, que deixou mais de 3.200 mortos e cerca de 38.000 torturados, segundo dados oficiais.

Embora Neruda sofresse de câncer, ele não estava em estágio terminal, segundo a versão de Araya, falecido em 21 de junho do ano passado.

“A investigação não se esgotou e, portanto, a súmula teve que ser reaberta neste processo em que se investiga a morte de Pablo Neruda”, disse Manuel Luna, advogado do Partido Comunista, comentando a resolução judicial.

“Consideramos que se avançou muito, foi restabelecida uma investigação sumária que deverá proporcionar avanços precisos na determinação da participação de terceiros na morte de Pablo Neruda”, acrescentou o jurista.

Novas perícias

Entre os procedimentos ordenados pelo tribunal está “um novo exame caligráfico da certidão de óbito que teria sido emitida pelo Dr. Vargas Salazar”, no qual se afirma que Neruda morreu em consequência da metástase causada pelo cancro da próstata que sofreu. .

Novas testemunhas e um especialista no estudo da bactéria “costridium botulinum” são também convocados para depor, que se pensa ter sido inoculada em Neruda, e que acabou por lhe causar a morte.

Neste sentido, o Tribunal ordenou a realização de uma “meta-perícia que permita a revisão e interpretação dos resultados da perícia realizada por peritos das Universidades de McMaster e de Copenhaga”, que analisaram restos mortais extraídos do corpo do poeta exumado em 2013.

Essas investigações não conseguiram determinar se a bactéria o matou ou não ou se ele foi inoculado.

Neruda emergiu como um dos principais opositores do regime de Pinochet, que derrubou o governo do presidente socialista Salvador Allende, próximo do ganhador do Prêmio Nobel.

O México havia fornecido um avião para transportar o autor do "Canto Geral" até aquele país, uma vez que ele recebeu alta de uma clínica privada onde estava internado devido a complicações de um câncer de próstata.

“Os sete processos que o Tribunal ordenou a realização e todos aqueles que decorrem precisamente do que se consegue nestes processos, constituem um importante avanço no esclarecimento da verdade dos factos”, afirmou o advogado do Partido Comunista.