Internacional
EUA vetam resolução para cessar-fogo em Gaza no Conselho de Segurança da ONU, mas negociam texto para trégua temporária
Nova proposta americana exige suspensão temporária nos combates 'assim que possível', mudança significativa na postura do governo de Joe Biden frente ao conflito
Os Estados Unidos vetaram, nesta terça-feira, o projeto apresentado no Conselho de Segurança da ONU pela Argélia, que exigia "um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes”. Apesar disso, nos bastidores, Washington negocia uma resolução que propõe um cessar-fogo temporário “assim que possível” e alerta Israel contra a invasão da cidade de Rafah, no sul de Gaza, para onde milhões de pessoas fugiram, de acordo com uma cópia do rascunho obtido pelo New York Times.
O projeto de resolução da Argélia vinha sendo elaborado há três semanas e opunha-se ao “deslocamento forçado da população civil palestina”. Além disso, exigia a libertação de todos os reféns feitos pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro. Segundo o porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, 134 ainda permanecem em cativeiro no enclave palestino.
— Não podemos apoiar uma resolução que colocaria em risco negociações sensíveis — afirmou Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos na ONU. — Não se trata, como afirmaram alguns membros, de um esforço americano para encobrir uma iminente incursão terrestre, mas sim de uma declaração sincera de nossa preocupação com os 1,5 milhão de civis que buscaram refúgio em Rafah.
Até agora, só os Estados Unidos rejeitaram pública e consistentemente as exigências de um cessar-fogo total nas resoluções da ONU sobre a guerra em Gaza, apoiando Israel na sua guerra contra o Hamas. O país já tinha anunciado que vetariam o projeto de resolução da Argélia que, diferente dos projetos anteriores, não condenava o ataque do Hamas.
Embora venha com várias ressalvas, a palavra “cessar-fogo” na resolução americana reflete a mudança do presidente Joe Biden em direção às críticas da condução da guerra por Israel e à sua ofensiva planejada na cidade de Rafah, cujo Estado judeu alega ser um dos redutos restantes do braço militar do Hamas.
O projeto de resolução diz que uma invasão de Rafah “teria sérias implicações para a paz e segurança regionais” e não deveria ocorrer “nas atuais circunstâncias”. Mais de metade da população civil de Gaza foi forçada a se deslocar para a cidade por causa da guerra e as sucessivas ordens do Exército de Israel para o deslocamento. A maioria está amontoada em abrigos temporários e acampamentos de tendas, além de enfrentarem um agravamento da crise humanitária.
O projeto diz ainda que uma grande ofensiva terrestre em Rafah não só prejudicaria os civis, mas também poderia deslocá-los para países vizinhos. O Egito, que faz fronteira com Rafah, recusou-se a permitir que os palestinos fugissem para o seu território, temendo que um afluxo de refugiados representasse um risco para a segurança. Na semana passada, um relatório mostrou a construção de um local murado na Península do Sinai, no lado egípcio.
Na resolução americana, o apoio a um cessar-fogo temporário é estabelecido com condições pelo país, incluindo negociações bem sucedidas para libertar todos os reféns e o levantamento de todas as barreiras à distribuição de assistência humanitária em Gaza.
No domingo, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que Washington vetariam o projeto de resolução da Argélia, argumentando que um cessar-fogo imediato colocaria em risco a continuação das negociações sobre um novo acordo para devolver os reféns israelenses detidos em Gaza em troca de uma pausa nas negociações nos combates. Nesta terça, ela argumentou que "proceder à votação hoje foi um desejo e uma irresponsabilidade":
As negociações para tal acordo no Cairo, na semana passada, entre autoridades de vários países, incluindo Israel e os Estados Unidos, não conseguiram chegar a um avanço. A nova proposta foi organizada em etapas e originalmente suspenderia os combates por três meses, permitindo a troca de reféns e prisioneiros palestinos, bem como a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descreveu a contraproposta do Hamas como "delirante", e no sábado o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, disse que as conversações foram "pouco promissoras" nos últimos dias. Nesta terça-feira, o chefe do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, desembarcou no Cairo para uma nova rodada de negociações, embora, segundo o Haaretz, não haja sinais de avanço e que a situação das negociações é difícil.
O rascunho é a visão dos Estados Unidos sobre o que o Conselho de Segurança poderia fazer para melhorar a situação em Gaza, disse uma autoridade dos EUA, que falou sob condição de anonimato para discutir as negociações.
O responsável disse que a utilização do termo “cessar-fogo” no novo projeto de resolução foi utilizada pela primeira vez pelos Estados Unidos e que estava alinhado com os esforços atuais da administração Biden para negociar um acordo.
Os Estados Unidos são o único membro do Conselho de Segurança que votou duas vezes contra resoluções que pediam um cessar-fogo. Tais resoluções são juridicamente vinculativas para os membros da ONU, embora os países por vezes as ignorem. O conselho não tem mecanismo de aplicação, mas pode penalizar os infratores com sanções. Washington absteve-se numa resolução aprovada no fim de dezembro, que apelava a “pausas humanitárias prolongadas”, mas não a uma suspensão permanente das hostilidades.
O funcionário dos EUA disse que a proposta dos EUA ainda estava nos estágios iniciais de negociações com outros membros do Conselho.
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