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Presidente do Museu do Holocausto, em Jerusalém, diz que falas de Lula são 'escandalosa combinação de ódio e ignorância'

Por meio de seu perfil no X (antigo Twitter), Dani Dayan classificou as palavras do mandatário brasileiro como 'clara expressão antissemita'

Agência O Globo - 18/02/2024
Presidente do Museu do Holocausto, em Jerusalém, diz que falas de Lula são 'escandalosa combinação de ódio e ignorância'

O presidente do Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, Dani Dayan, condenou a fala do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em que comparou a ação de Israel na Faixa de Gaza às mortes de judeus provocadas pelo regime nazista de Adolf Hitler. Em publicação no X (antigo Twitter), Dayan afirmou que as 'vergonhosas palavras' do mandatário são uma 'escandalosa combinação de ódio e ignorância'. Além disso, disse que, segundo a definição da Aliança Internacional de Memória do Holocausto, trata-se de 'uma clara expressão antissemita'.

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"As vergonhosas palavras do @LulaOficial são uma escandalosa combinação de ódio e ignorância. De acordo com a definição da @TheIHRA (Aliança Internacional de Memória do Holocausto) esta é uma clara expressão antissemita. Comparar um país que luta contra uma organização terrorista assassina com as acções dos nazis no Holocausto merece toda a condenação. É triste que o presidente do Brasil desça a um ponto tão baixo de extrema distorção do Holocausto", disse Dani Dayan na postagem.

A fala de Lula à qual o presidente do memorial se refere aconteceu mais cedo neste domingo, na Etiópa, onde o chefe do Executivo participa como convidado oficial da Cúpula da União Africana. Na ocasião, ele disse que "o que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus".

No sábado, Lula afirmou em discurso na 37ª Cúpula da União Africana que o momento é "propício" para se resgatar tradições humanistas e que isso, frisou, implica condenar as agressões dos dois lados no conflito entre Israel e Hamas. O presidente também defendeu que o fim da guerra no Oriente Médio passa pela criação de um Estado Palestino "livre e soberano":

— Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses e demandar a libertação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza, em sua ampla maioria, mulheres e crianças, e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população. A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado Palestino livre e soberano, reconhecido como membro pleno das Nações Unidas.

Neste domingo, após a declaração que associou a atuação de Israel à de Hitler, entidades se manifestaram publicamente com repúdio às falas de Lula. O Instituto Brasil-Israel disse que o paralelo "é um erro grosseiro que inflama tensões, e mina a credibilidade do governo brasileiro como um interlocutor pela paz".

"A fala de Lula banaliza o Holocausto e ganha contornos ainda mais absurdos em um desrespeito flagrante à presença em Israel hoje de milhares de sobreviventes da barbárie nazista e seus descendentes. É problemática também na medida em que invoca a ideia de que os judeus são “os nazistas do presente”, o que acaba por fomentar o antissemitismo", continua.

Mais cedo, a Confederação Israelita no Brasil (Conib) também manifestou repúdio ao dizer que a declaração de Lula foi uma "distorção perversa da realidade" e "ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes".

"O governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira. A Conib pede mais uma vez moderação aos nossos dirigentes, para que a trágica violência naquela região não seja importada ao nosso país", disse em publicação nas redes sociais.