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Confederação Israelita no Brasil repudia fala de Lula sobre ataques israelenses em Gaza

Fala ocorreu enquanto Lula criticava países ricos que suspenderam do financiamento à agência da ONU que dá auxílio humanitário na região

Agência O Globo - 18/02/2024
Confederação Israelita no Brasil repudia fala de Lula sobre ataques israelenses em Gaza
Lula - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza às mortes do período do Holocausto , com o extermínio de judeus, quando a Alemanha era comandada pelo ditador nazista Adolf Hitler.

— O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus — afirmou Lula.

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A fala do presidente foi feita enquanto Lula criticava países ricos que suspenderam do financiamento à agência da ONU em Gaza, que enfrenta aumento da crise humanitária. No final de janeiro, ao menos oito países — Austrália, Reino Unido, Canadá, Itália, Suíça, Holanda, Alemanha e Finlândia — se juntaram aos Estados Unidos na suspensão temporária do financiamento à agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) em Gaza. A organização anunciou ter despedido "vários" funcionários acusados por Israel de estarem envolvidos com Hamas.

— Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio. Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças. Se teve algum erro nessa instituição que recolhe-se dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há quantas décadas tentando construir o seu Estado — afirmou Lula em coletiva de imprensa na Etiópia.

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Lula anunciou que o Brasil fará um "novo aporte de recursos" para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, mas não detalhou valores:

— Não posso dizer quanto porque não é o presidente que decide, preciso ver quem dentro do governo cuida disso para saber quanto vai dar, mas também o Brasil disse que vai defender na ONU a definição do Estado palestino reconhecido definitivamente como pleno e soberano. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande — afirmou.

No sábado, Lula afirmou em discurso na 37ª Cúpula da União Africana que o momento é "propício" para se resgatar tradições humanistas e que isso, frisou, implica condenar as agressões dos dois lados no conflito entre Israel e Hamas. Lula também defendeu que o fim da guerra no Oriente Médio passa pela criação de um Estado Palestino "livre e soberano":

— Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses e demandar a libertação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza, em sua ampla maioria, mulheres e crianças, e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população. A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado Palestino livre e soberano, reconhecido como membro pleno das Nações Unidas.

Lula comenta morte de Navalny

O presidente também comentou a morte de Alexei Navalny, principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, que morreu aos 47 anos na prisão. Lula afirmou que é preciso aguardar a investigação para saber a causa da morte antes de se manifestar. Segundo o Serviço Penitenciário Federal russo, Navalny morreu na última sexta-feira após sentir-se "mal em uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência”.

— Eu acho que uma por uma questão de bom senso (não havia me pronunciado). Se a morte está sob suspeita, você tem que primeiro fazer uma investigação para saber do que o cidadão morreu. Vamos acreditar que os médicos legistas vão dizer: o cara morreu disso ou daquilo, para você poder fazer um pré-julgamento. Porque se não você julga agora que foi alguém que mandou matar e não foi e depois você vai pedir desculpas — afirmou Lula, questionado sobre o motivo pelo qual o governo brasileiro não havia se manifestado sobre a morte de Navalny.

O presidente afirmou que não se pode ter pressa para acusar pessoas e comparou com a morte da vereadora Marielle Franco, executada em 2018 no Rio de Janeiro sem que até agora não se saiba mandante do crime, investigado pela Polícia Federal. Em conversa com jornalistas na Etiópia, Lula afirmou ainda que se antecipar a causa da morte seria "banalizar uma acusação".

— Se não é banalizar uma acusação. eu até compreendo os interesses de quem acusa imediatamente, ‘foi fulano’, mas não é o meu mote. Espero que o legista que vai fazer o exame indique do que o cidadão morreu.