Internacional

Rússia detém mais de 100 pessoas por manifestações em homenagem a Navalny, segundo ONG; vídeo

Principal opositor do presidente russo Vladimir Putin morreu aos 47 anos na prisão

Agência O Globo - 17/02/2024
Rússia detém mais de 100 pessoas por manifestações em homenagem a Navalny, segundo ONG; vídeo

A polícia russa deteve mais de 100 pessoas durante as manifestações em homenagem a Alexei Navalny, falecido nesta sexta-feira na prisão onde estava detido, informou neste sábado o grupo de defesa dos direitos humanos OVD-Info. A organização indicou em seu site que, segundo um balanço da manhã deste sábado, “mais de 101 pessoas foram detidas em dez cidades”, a maioria em São Petersburgo e onze na capital, Moscou.

Entrevista: Putin tem 'responsabilidade direta ou indireta' pela morte de Navalny, afirma historiador

Veja também: quem é Yulia Navalnaya, mulher do líder opositor Alexei Navalny, morto na Rússia

Principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, Navalny morreu aos 47 anos na prisão, informaram as agências locais nesta sexta-feira. Em comunicado, o Serviço Penitenciário Federal afirmou que ele "sentiu-se mal após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência".

Médicos da instituição teriam sido chamados, e "todas as medidas de reanimação necessárias foram realizadas, mas não tiveram resultados positivos". O órgão afirmou que as causas da morte estão sendo apuradas.

Quando soube que foi sentenciado a dois anos e oito meses de prisão em regime fechado, em 2021, Navalny olhou para sua esposa, Yulia, e disse que "tudo ficaria bem". O mais ferrenho opositor de Putin fez uma aposta alta ao regressar a Moscou após ter sido envenenado, em agosto de 2020, e passado por um tratamento na Alemanha. Sua prisão era esperada, mas a iminência de seu desaparecimento da vida pública jogou o movimento oposicionista russo — e mesmo o governo — em um terreno desconhecido.

Quem era Alexei Navalny?

Ao contrário de outras figuras que dominam a política russa, Navalny não possuía laços com oligarquias ou famílias tradicionais, nem fez sua base nos tempos da União Soviética. Nascido nos arredores de Moscou e filho de pequenos empresários, ele passou alguns verões na Ucrânia, de onde vinha parte de sua família e onde aprendeu o idioma local. No final dos anos 1990, formou-se em Direito na Universidade Russa da Amizade dos Povos, instituição criada nos anos 1960 e que teve entre seus alunos o líder palestino Mahmoud Abbas e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Navalny possuía ainda formação em finanças, um conhecimento que se mostrou útil em suas incursões no ativismo político.

Alexei Navalny fez seu nome ao expor a corrupção oficial, rotulando a Rússia Unida, legenda de Putin, como “o partido dos vigaristas e ladrões”. Em 2006, começou a escrever um blog sobre corrupção focado nas grandes corporações que comandavam a economia russa.

Em vez de se basear em denúncias anônimas, utilizou uma estratégia pouco usual: investiu 300 mil rublos (o equivalente na época a R$ 21 mil) em ações de empresas do setor petrolífero. Assim, pressionava pela liberação dos números das operações e tinha acesso a informações que usaria em suas postagens.

Conflitos à distância: drones criam dilemas éticos e legais em 'guerras sem fim' do século XXI

Um dos casos mais emblemáticos foi a denúncia de um desvio de US$ 4 bilhões na operadora de oleodutos Transneft, ocorrido em 2007 e revelado por Navalny em 2010. Apesar da documentação, o caso, que chegou ao conhecimento de Vladimir Putin, não resultou em condenações ou popularidade positiva.

— Esse lado financeiro dele teve um impacto mais negativo que positivo — declarou ao GLOBO Angelo Segrillo, professor de história na Universidade de São Paulo (USP). — Ele foi acusado de querer ganhar dinheiro com essa estratégia.