Internacional

Ucrânia se rende a cerco da Rússia e deixa cidade de Avdiivka

Desde outubro, soldados ucranianos, em menor número, resistiram a ataques contra a cidade, localizada na bacia mineira do Donbass, onde situação se tornou crítica nos últimos dias

Agência O Globo - 17/02/2024
Ucrânia se rende a cerco da Rússia e deixa cidade de Avdiivka

O exército ucraniano retirou-se de Avdiivka, cidade do leste que enfrenta uma ofensiva russa, disse o general Oleksander Tarnavski, que comanda as tropas de Kiev na área, na manhã de sábado, horário local. Esta é a maior vitória simbólica da Rússia desde o fracasso da contraofensiva de Kiev no Verão passado.

Rússia: morte de Navalny ocorre a um mês de uma eleição na qual Putin concorrerá quase sozinho

Queda de avião, envenenamento, mal súbito na prisão: veja como morreram os adversários de Putin

“De acordo com a ordem recebida, retiramo-nos de Avdiivka para posições previamente preparadas”, escreveu em uma mensagem no Telegram nas primeiras horas da manhã.

Desde outubro, os soldados ucranianos, em menor número e materialmente, resistiram aos ataques russos contra a cidade, localizada na bacia mineira do Donbass, onde a situação se tornou especialmente crítica nos últimos dias.

O general Tarnavski tinha reconhecido na véspera a existência de combates de rua dentro da cidade, a retirada das suas tropas de algumas posições e a construção de estruturas defensivas para as quais poderiam recuar se necessário.

“Na situação em que o inimigo avança sobre os cadáveres dos seus próprios soldados e tem dez vezes mais obuseiros (…) Esta é a única boa solução”, justificou Tarnavski ao anunciar a retirada.

O general sublinhou que as suas forças evitaram ser cercadas pelo inimigo e já estavam posicionadas nas novas linhas de defesa perto desta cidade industrial em grande parte destruída.

"Eles cumpriram o seu dever"

A retirada de Avdiivka é a primeira grande decisão militar desde a nomeação de um novo comandante-chefe, Oleksander Sirski, em 8 de fevereiro.

“Decidi retirar as nossas unidades da cidade e passar para a defesa em linhas mais favoráveis”, escreveu Sirski na sua página no Facebook. “Nossos soldados cumpriram seu dever militar com dignidade, fizeram todo o possível para destruir as melhores unidades militares russas e infligir perdas significativas ao inimigo”, acrescentou.

Avdiivka tornou-se um símbolo da resistência das forças de Kiev à medida que se aproxima o segundo aniversário do início da invasão lançada por Moscou contra o vizinho em 24 de fevereiro de 2022. A cidade foi brevemente tomada em julho de 2014 por separatistas pró-Rússia, mas regressou ao controle de Kiev, que a manteve durante todo este tempo, apesar da sua proximidade com Donetsk, um reduto separatista no leste da Ucrânia durante dez anos.

Avdiivka é o avanço mais significativo para a Rússia desde a conquista de Bakhmut em maio de 2023, após meses de combates que deixaram milhares de mortos. Apesar de ter sido em grande parte destruída, cerca de 900 civis permanecem lá, segundo as autoridades locais. A Rússia espera que a tomada da cidade torne mais difícil o bombardeio ucraniano em Donetsk.

Zelensky pede mais ajuda

Em outra frente, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez uma turnê diplomática, com uma visita a Berlim e a Paris nesta sexta-feira, para garantir que as potências ocidentais continuem a ajudar Kiev. Durante as suas visitas a estes países aliados, o líder ucraniano assinou acordos de segurança com o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, e o presidente francês, Emmanuel Macron.

Leia mais: Biden diz que Putin é responsável pela morte de Alexei Navalny

'Cela congelante': veja o vídeo da última aparição de Alexei Navalny, opositor de Putin morto em prisão no Ártico

Os acordos preveem um aumento da ajuda militar à antiga república soviética. No sábado, Zelensky defenderá perante a Conferência de Segurança de Munique a continuação da assistência financeira internacional, em momento em que a entrega de fundos do seu principal doador, os Estados Unidos, está suspensa devido a lutas no Congresso entre democratas e republicanos.

Desde o fracasso da sua contraofensiva no Verão de 2023, a Ucrânia tem enfrentado tropas russas na ofensiva, escassez de homens, armas e munições, e suspense sobre a continuação da ajuda ocidental.

“Estamos fazendo todo o possível para garantir que nossos combatentes tenham capacidades organizacionais e tecnológicas suficientes para salvar o maior número possível de vidas ucranianas”, declarou Zelensky.

Na sexta-feira, o instituto de investigação alemão Kiel Institute afirmou que a União Europeia terá de “pelo menos duplicar a sua ajuda militar” à Ucrânia para compensar a inação dos EUA.

“É altamente incerto que os Estados Unidos enviem ajuda militar adicional em 2024”, afirmou o instituto, que compila informações sobre a ajuda militar, financeira e humanitária prometida e entregue à Ucrânia desde a invasão russa de 2022.