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Quem é Yulia Navalnaya, mulher do líder opositor Alexei Navalny, morto na Rússia

Chamada de "primeira-dama da oposição', Navalnaya tentou manter perfil reservado mesmo em momentos difíceis da vida de seu marido

Agência O Globo - 16/02/2024
Quem é Yulia Navalnaya, mulher do líder opositor Alexei Navalny, morto na Rússia

"Se isso for verdade (a morte de Alexei Navalny), quero que Putin, seus aliados, seus amigos, seu governo saibam que serão responsabilizados pelo que fizeram a nosso país, à minha família, ao meu marido. E esse dia virá muito em breve".

Com uma expressão de um luto que ainda não havia sido confirmado oficialmente, Yulia Navalnaya, mulher de Alexei Navalny, disse algumas palavras duras à imprensa durante a Conferência de Segurança de Munique. Ela acompanharia o evento, que conta com chefes de Estado, chanceleres e especialistas de todo o mundo, mas foi surpreendida pelas notícias vindas de seu país. E não conteve as palavras ao falar do homem que comanda a Rússia.

— Não podemos confiar em Putin e no governo de Putin. Eles sempre mentem — disse. — Esse regime e Vladimir Putin precisam ser responsabilizados pessoalmente por todas as coisas terríveis que têm feito ao meu pais, ao nosso país, a Rússia, nos últimos anos.

Advogada de formação, Yulia Navalnaya, de 47 anos, é uma figura que acompanhou Alexey Navalny em momentos cruciais da carreira política do oposicionista morto nesta sexta-feira. Os dois se conheceram na Turquia, um destino popular entre os russos, em 1998, e se casaram em 2000, mesmo anoi em que Putin chegou ao poder. Juntos, tiveram dois filhos, Daria e Zakhar.

Com a proeminência de Alexei, no final dos anos 2000, como blogueiro político e crítico de Vladimir Putin, Yulia passou a ser vista com certa frequência em público, e chegou a receber a alcunha de "primeira-dama da oposição".

Por vezes fazia declarações públicas críticas, mas, como apontam jornalistas russos, jamais buscou, ao menos diante de olhos alheios, criar uma imagem descolada da de seu marido. Uma prova disso foi relatada pela socialite e candidata à Presidência em 2018, Ksenia Sobchak: em entrevista ao youtuber Yuri Dud, ela revelou ter oferecido sua vaga a Yulia como cabeça de chapa na campanha daquele ano, mas o casal rejeitou a ideia.

Yulia foi forçada a adotar um protagonismo maior em 2020, quando seu marido foi envenenado em um voo na Sibéria, e ficou entre a vida e a morte em hospitais de Omsk e Berlim. Apesar de evitar fazer declarações públicas, rapidamente surgiram comparações com a agora líder da oposição bielorrussa, Sviatlana Tikhanouskaya, que entrou na disputa eleitoral de 2020 após a prisão de seu marido, Siarhei Tsikhanouski, que seria o candidato conta Alexander Lukashenko.

— Estou dizendo que Navalny é uma marca e vai funcionar. Não importa a quem pertence esse sobrenome: Alexei, sua esposa ou filhos. Enquanto esse nome estiver presente no espaço da informação, funcionará — disse ao site e1.ru, em 2021, o cientista político Alexey Shweigert. — Concordo que a imagem de Tikhanouskaya é muito adequada para comparação com Yulia Navalnaya. Tecnologicamente, a esposa de Navalny poderia seguir um caminho semelhante. Quanto a saber se isso irá acontecer ou não, vou evitar fazer previsões, porque não faz sentido fazê-las agora.

Marat Gelman, ex-estrategista político russo, afirmou em publicação no Facebook, em 2021, que "Yulia Navalnaya, que salvou o marido da morte, tornou-se uma figura política forte e vencerá eleições contra qualquer político na Rússia, talvez exceto Putin".

Com a prisão de Navalny, em janeiro de 2021, Yulia manteve um perfil reservado, com poucas exceções: no ano passado, quando o filme "Navalny" ganhou o Oscar de melhor documentário, ela acompanhou a cerimônia em Los Angeles, e em uma fala curta disse que seu marido" estava na prisão por dizer a verdade" e por "defender a democracia". Em uma entrevista à revista Der Spiegel, pouco depois da entrega da premiação, rejeitou comparações com Tikhanouskaya, e negou ter planos para entrar para a política.

— Não acho que seja uma ideia com a qual queira jogar. Claro que já li muitos textos que lidam com essa questão. Mas minha compreensão é a de que, para participar de uma eleição e se tornar um político, você precisa querer isso. Não há muito sentido em pensar nisso em termos de substituição: meu marido está na cadeia e eu o substituir — declarou na publicação, em março de 2023.