Internacional

Quem é Alexei Navalny, opositor de Putin morto na prisão

Agência O Globo - 16/02/2024
Quem é Alexei Navalny, opositor de Putin morto na prisão

Instantes depois de ouvir da juíza Natalya Repnikova a sentença de dois anos e oito meses de prisão em regime fechado, creditada à violação dos termos da liberdade condicional, Alexei Navalny olhou para sua esposa, Yulia, e disse que “tudo ficaria bem”. Dali seguiria para uma colônia penal nos arredores do Moscou. O mais ferrenho opositor de Vladimir Putin, Navalny fez uma aposta alta ao regressar a Moscou depois de ser envenenado em agosto de 2020 e passar por um tratamento na Alemanha. A prisão era esperada, mas a iminência de seu desaparecimento da vida pública jogou o movimento oposicionista russo e mesmo o governo em terreno desconhecido.

Ao contrário de outras figuras que dominam a política russa, Navalny não possui laços com oligarquias ou famílias tradicionais nem fez sua base nos tempos da União Soviética. Nascido nos arredores de Moscou e filho de pequenos empresários, ele passou alguns verões na Ucrânia, de onde vinha parte de sua família e onde aprendeu o idioma local. No final dos anos 1990, formou-se em Direito na Universidade Russa da Amizade dos Povos, instituição criada nos anos 1960 e que teve entre seus alunos o líder palestino Mahmoud Abbas e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Navalny possui ainda formação em finanças, um conhecimento que se mostrou útil em suas incursões no ativismo político.

Alexei Navalny fez seu nome ao expor a corrupção oficial, rotulando a Rússia Unida, legenda de Putin, como “o partido dos vigaristas e ladrões”. Em 2006, começou a escrever um blog sobre corrupção focado nas grandes corporações que comandavam a economia russa. Em vez de se basear em denúncias anônimas, utilizou uma estratégia pouco usual: investiu 300 mil rublos (o equivalente na época a R$ 21 mil) em ações de empresas do setor petrolífero. Assim, pressionava pela liberação dos números das operações e tinha acesso a informações que usaria em suas postagens. Um dos casos mais emblemáticos foi a denúncia de um desvio de US$ 4 bilhões na operadora de oleodutos Transneft, ocorrido em 2007 e revelado por Navalny em 2010. Apesar da documentação, o caso, que chegou ao conhecimento de Vladimir Putin, não resultou em condenações ou popularidade positiva.“Esse lado financeiro dele teve um impacto mais negativo que positivo”, declarou a ÉPOCA Angelo Segrillo, professor de história na Universidade de São Paulo (USP). “Ele foi acusado de querer ganhar dinheiro com essa estratégia.”