Internacional

Trump enfrenta dois casos críticos para a sua tentativa de reeleição em apenas um dia; entenda

Ex-presidente foi a uma audiência em Nova York sobre caso envolvendo atriz pornô; na Geórgia, juiz avalia papel de promotora distrital em caso de intervenção eleitoral

Agência O Globo - 15/02/2024
Trump enfrenta dois casos críticos para a sua tentativa de reeleição em apenas um dia; entenda
Trump

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump enfrentou, nesta quinta-feira, dois casos críticos que podem desafiar sua capacidade de frustrar processos e até mesmo anular eventuais condenações contra ele. De um lado, o Tribunal Distrital de Nova York rejeitou o pedido da defesa para arquivar as acusações sobre um suposto caso de suborno envolvendo o magnata e uma atriz pornô, abrindo caminho para o primeiro processo criminal contra um ex-chefe de Estado americano. De outro, está em curso na Geórgia uma audiência probatória sobre a tentativa de desqualificar uma promotora distrital e descartar um caso sobre a tentativa de Trump e seus aliados de subverter a vitória do presidente Joe Biden nas eleições de 2020 no estado. Ambos os casos podem ter grandes implicações para a eleição de novembro, na qual Trump é o favorito para representar os republicanos.

Na mais recente e notável reviravolta de suas múltiplas sagas jurídicas, Trump foi ao tribunal de Nova York nesta quinta-feira para uma audiência processual antes de seu julgamento sobre um suposto pagamento de suborno à estrela de filmes adultos conhecida como Stormy Daniels, antes da eleição de 2016. Apesar da objeção de Trump, o juiz Juan Merchan determinou que o calendário previamente definido, com a data de julgamento para 25 de março, deve ser mantido. Será a primeira vez que o destino de um ex-presidente e possível candidato à Presidência será submetido a um júri em um caso criminal.

Um dos advogados do ex-presidente, Todd Blanche, chamou o cronograma de "incabível".

Mas o juiz Merchan rejeitou sumariamente os argumentos dos advogados de Trump, que haviam ridicularizado o caso como "um pacote desordenado de acusações politicamente motivadas". O juiz também se irritou com a reação de Blanche, em um determinado momento instruindo-o a "parar de me interromper, por favor".

Já o ex-presidente acompanhou a sessão de forma quase impassível, sem interromper o juiz ou o trabalho de seus advogados. Trump, que chegou à Corte por volta das 8h50 (10h50 em Brasília), cercado por apoiadores, havia conversado com repórteres antes de entrar na sala do Tribunal e falou abertamente que o objetivo ali seria "atrasar o processo, obviamente", diante da corrida eleitoral em curso.

Distante quase 1.500 km dali, uma audiência também foi iniciada na Geórgia para investigar um relacionamento romântico entre os dois principais promotores que investigam a interferência eleitoral de Trump e seus aliados no estado em 2020. A defesa alega que o relacionamento entre a promotora do condado de Fulton, Fani Willis, e Nathan Wade, que ela contratou para conduzir o caso, criou um conflito de interesses financeiros insustentável.

As revelações sobre o relacionamento entre Willis e Wade vieram à tona no mês passado em um processo judicial de Michael Roman, ex-funcionário da campanha de Trump que é um dos réus no caso eleitoral da Geórgia. Os promotores reconheceram o relacionamento amoroso em um processo judicial há duas semanas.

Segundo os advogados de Roman e de outros réus que tentam desqualificar os dois promotores do caso, Wade recebeu mais de US$ 650 mil desde que foi contratado em 2021 e, durante esse período, gastou dinheiro em férias com Willis. A defesa argumenta que o dinheiro pago a Wade cria um incentivo para que Willis prolongue o caso contra Trump.

O juiz Scott McAfee já disse que Willis poderia ser desqualificada se ela se beneficiasse financeiramente do relacionamento amoroso.

Willis, por sua vez, afirma que o relacionamento começou somente depois que Wade foi contratado e era irrelevante para o caso ou para a sua capacidade de conduzi-lo. Segundo a promotora do condado de Fulton, os custos do casal são muito altos e que Wade não tem nada a ver com o caso. Ela afirmou ainda que os custos das viagens pessoais do casal foram "divididos de forma praticamente igual" entre ela e Wade, de modo que isso não representou nenhum conflito financeiro.

Embora as circunstâncias do relacionamento não alterem nenhum dos fatos subjacentes da acusação, uma desqualificação colocaria o caso no limbo.

A maioria dos processos judiciais contra Trump em vários casos tem uma coisa em comum: uma tentativa de impedir que eles cheguem a julgamento e de adiar a responsabilização — pelo menos até a próxima eleição. Trump tem um interesse especial em interromper os casos de suborno de Nova York e de interferência eleitoral da Geórgia porque, mesmo como presidente com um procurador-geral simpático, ele teria dificuldade em interferir em processos em andamento, anular condenações ou até mesmo perdoar a si mesmo, já que esse poder Executivo não abrange crimes estaduais.

Popularidade em alta

Até agora, as inúmeras frentes jurídicas enfrentadas pelo ex-presidente – que possui 91 acusações criminais – não minaram a sua popularidade, e as pesquisas o apontam como favorito em um possível duelo contra o atual presidente Joe Biden, em novembro.

O bilionário tem 34 acusações relacionadas ao pagamento de US$ 130 mil em 2016 (cerca de R$ 423 mil reais na cotação da época) à estrela de cinema adulto Stormy Daniels, cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford, para mantê-la calada sobre um suposto caso extraconjugal. Os pagamentos em si não são ilegais, mas Trump os registrou como "honorários jurídicos" nas contas da sua empresa, a Trump Organization.

Da mesma forma, segundo documentos judiciais, o magnata comprou o silêncio de terceiros pelo menos mais duas vezes. Ele pagou US$ 30 mil a um porteiro da Trump Tower que alegou ter informações sobre o filho do magnata de um relacionamento extraconjugal, e outros US$ 150 mil a uma mulher que alegou ter um caso com o ex-presidente.

Trump se declarou inocente das acusações contra ele em 4 de abril do ano passado e diz ser vítima de uma "caça às bruxas" para impedi-lo de retornar à Casa Branca. O bilionário não poupou críticas ao juiz Merchan, que já abriu outro processo em 2022 contra a empresa familiar por fraude fiscal.

"ELE ME ODEIA", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social.