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Promotor de casos da Odebrecht no Peru denuncia 'campanha' para encerrar julgamentos

Ex-chefes da empresa já disseram ter distribuído ilegalmente milhões de dólares entre políticos peruanos, incluindo Fujimori e quatro ex-presidentes do país

Agência O Globo - 15/02/2024
Promotor de casos da Odebrecht no Peru denuncia 'campanha' para encerrar julgamentos

O promotor que investiga o escândalo de corrupção transnacional da Odebrecht no Peru garantiu nesta quarta-feira que os partidos políticos locais procuram “destruir” suas investigações com uma campanha difamatória para frustrar o julgamento contra a ex-candidata presidencial Keiko Fujimori. Segundo Rafael Vela, chefe da equipe especial responsável pelo caso, "há interesse dos partidos políticos em afetar o processo".

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“Eles procuram não só o que conseguiram comigo, que é o meu afastamento da equipe fiscal, mas também destruir toda a operação”, disse, em declarações à Associação de Imprensa Estrangeira no Peru. Vela alertou que “o caso (por lavagem de dinheiro contra Keiko Fujimori) pode cair” em meio a uma tempestade que incentiva a impunidade.

“Estamos diante de uma campanha difamatória”, acrescentou Vela ao se referir às declarações de uma ex-assessora da procuradora-geral suspensa, Patrícia Benavides.

Jaime Villanueva, ex-assessor de Benavides, disse que a equipe de Vela teria conspirado com a imprensa local para envolver a filha mais velha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000). Vela foi suspenso por oito meses e 15 dias desde novembro passado pelo Ministério Público, que lhe atribuiu “má conduta funcional” por ter prestado depoimento à imprensa sobre uma decisão judicial favorável a Keiko Fujimori em 2020.

A medida disciplinar contra Vela poderá ser prolongada se as declarações de Villanueva forem comprovadas. Na semana passada, Keiko Fujimori, líder do partido Fuerza Popular, exigiu o afastamento definitivo dos procuradores Vela e José Domingo Pérez do Ministério Público, e exigiu a anulação do processo contra eles.

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O julgamento contra Keiko Fujimori, de 48 anos, está previsto para começar em 1º de julho. O Ministério Público pede 30 anos de prisão para a ex-candidata presidencial, acusada de lavagem de dinheiro por não declarar as contribuições da Odebrecht em suas campanhas. Esta campanha “busca transformar o Peru num projeto autoritário muito semelhante ao que vimos na Guatemala”, disse o superprocurador à imprensa estrangeira.

Desde 2018, Vela lidera a equipe especial Lava Jato/Odebrecht que investiga dezenas de pessoas poderosas implicadas no escândalo de corrupção da gigante brasileira da construção Odebrecht, incluindo quatro ex-presidentes peruanos.

Ex-chefes da Odebrecht disseram ter distribuído ilegalmente milhões de dólares entre políticos peruanos, incluindo Fujimori e quatro ex-presidentes: Pedro Pablo Kuczynski (2018-2016), Ollanta Humala (2011-2016), Alan García (1985-1990 e 2006-2011), que cometeu suicídio antes de ser preso em abril de 2019, e Alejandro Toledo (2001-2006).