Internacional

'Qualquer prisão de natureza política preocupa', diz Amorim sobre Venezuela

Assessor Especial da Presidência da República disse não conhecer as circunstâncias em torno da prisão da ativista Rocío San Miguel, mas assegurou que um recrudescimento da repressão, 'se confirmado', poderá afetar o processo eleitoral

Agência O Globo - 13/02/2024
'Qualquer prisão de natureza política preocupa', diz Amorim sobre Venezuela
Rocío San Miguel, - Foto: Reprodução

O Brasil está preocupado com as notícias que chegaram da Venezuela nos últimos dias, entre elas a prisão da ativista e especialista em questões militares Rocío San Miguel, detida sexta-feira passada no aeroporto internacional de Maiquetía, junto a sua filha de 24 anos — que também foi presa. O assunto está no radar do Palácio do Planalto, que vem atuando nos bastidores para contribuir com o processo político na Venezuela, com eleições presidenciais previstas para 2024 — mas ainda sem data marcada. Segundo disse ao GLOBO o Assessor Internacional da Presidência da República, Celso Amorim, “qualquer prisão de natureza política preocupa”.

— Não conheço todas as circunstâncias, mas o recrudescimento da repressão, se confirmado, é um fato que nos preocupa porque apostamos no diálogo — declarou Amorim, pouco antes de embarcar para participar da primeira viagem internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2024, para Egito e Etiópia.

Artigo: A Venezuela e uma eleição negociada

Conflito entre vizinhos: Imagens de satélite mostram mobilização militar da Venezuela na fronteira com a Guiana

Amorim afirmou, ainda, que “em função das conversas que tive com governo e oposição, a última delas há cerca de dez dias, o que mais preocupa grande parte da oposição é a possibilidade de repressão”.

— Isso [o eventual recrudescimento da repressão] pode afetar o processo [eleitoral] — frisou o Assessor Especial de Lula para temas internacionais.

O governo brasileiro está aguardando a chegada da nova embaixadora do país em Caracas, Glivania Maria de Oliveira, que desembarcará na capital venezuelana nos próximos dias. O Brasil está sem embaixador na Venezuela há seis anos, o que, segundo fontes do governo, torna mais difícil entender o que está acontecendo no país.

No próximo dia 1 de março, o presidente Lula se encontrará com Maduro na cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), na ilha de San Vicente Granadinas. O encontro, disseram fontes do governo, será uma oportunidade para que o Brasil converse com as mais altas autoridades do governo venezuelano sobre diversos assuntos, entre eles a questão dos direitos humanos. O canal de diálogo entre os dois países está aberto, e as conversas, disseram as mesmas fontes, são frequentes.

Em recente nota do Palácio do Planalto, O Assessor Internacional de Lula defendeu as conversas entre governo e oposição, e reiterou a posição do governo brasileiro contrária a sanções econômicas à Venezuela, em referência às ameaças da Casa Branca. "O governo brasileiro favorece a continuidade dos diálogos e incentiva as partes a seguirem construindo confiança mútua.O Brasil reitera sua conhecida posição contrária às sanções, que violam o direito internacional e penalizam a população", diz a nota.

Diálogo: Amorim conversa com aliados e oposicionistas de Maduro, diz que defende diálogo entre as partes e critica sanções dos EUA

Nas últimas semanas, o governo Maduro denunciou cinco tentativas de magnicídio, e relacionou opositores detidos recentemente com essas supostos planos para assassinar o chefe de Estado. A oposição, por sua parte, denunciou uma série de prisões arbitrárias, entre elas a de San Miguel e vários de seus familiares. Também foram presos recentemente colaboradores da líder opositora Maria Corina Machado. Em todos os casos, os detidos permaneceram vários dias desaparecidos.

Nesta terça-feira, o governo do presidente Nicolás Maduro informou através do procurador-geral, Tarek William Saab, que San Miguel será acusada de "traição à pátria", "terrorismo" e “conspiração”. O governo venezuelano não apresentou provas e o paradeiro da ativista continua sendo desconhecido.

Os advogados de San Miguel informaram nesta terça que ainda não puderam ter contato com a ativista, presa junto a sua filha, Miranda, seu irmão, Miguel Angel San Miguel Quigosos, o pai de sua filha, Victor Díaz Paruta, e outro familiar identificado como Alejandro González Canales. Todos sofreram, segundo ONGs de defesa dos direitos humanos, um desaparecimento forçado.